Jornada Pantaneira

O Canoeiro Hiram Reis e Silva

Francisco Solano López (Biografia)
Parte V

V

Penetrando no alojamento do Marechal, Diaz veio interromper uma profunda meditação que já durava horas. Depois da entrevista em que se malograram todas as suas perspectivas, López tinha inexoravelmente tomado a resolução desesperada de lutar até o último instante e sucumbir por fim, mas depois de aniquilados completamente os seus Exércitos, morto o último soldado, postas em ruína todas as cidades e aldeias de sua pobre terra, refugiado com todos os habitantes que lhe restassem, mulheres e crianças, nos mais longínquos páramos ([1]) desertos onde não houvesse ainda pisado a planta humana.

Com Diaz conversou por longo tempo e sobre tudo lastimava que Mitre houvesse entrado em acordo com o Imperador em relação à política internacional.

Nada mais pois, havia a se esperar dele, a cujo respeito, verificava agora, quanto se tinha iludido. Sentia profundamente que o General argentino o privasse da glória de levar a termo o grande ideal do Libertador Simão Bolívar, expelindo para o outro lado do Atlântico a única testa coroada que maculava a democracia americana e o que o General Alvear não tinha conseguido fazer na memorável ação de Ituzaingó.

Por fim, López referiu a Diaz que Mitre lhe havia anunciado para antes do fim da semana como ele já havia previsto ([2]), um ataque decisivo por terra combinado com as Forças Navais, e o encarregou de ativar e dirigir pessoalmente as fortificações de Curupaití.

Não se havia enganado López. As Forças Aliadas, a 22 de setembro, dez dias após a conferência do Yataity-Corá, ofereceram a formidável Batalha a que as fortificações do Diaz conseguiram opor uma resistência invencível.

Foi uma ação sanguinolenta desastrada em que o estoico heroísmo das nossas Forças valorosamente sucumbiu nas muralhas de Curupaití que vomitavam fogo incessante.

As valentes hostes aliadas chegavam por entre a metralha mortífera até os fossos principais das Fortificações para serem exterminadas pela intensa linha de fuzilaria das trincheiras, e era horrível de se ver a loucura sagrada dos oficiais e simples soldados disputando à porfia os postos de maior perigo com ostentação sublime de valor inexcedível e de desprezo pela vida.

Se no espírito do Marechal houvesse a compreensão perfeita do patriotismo, após a vitória que suas Forças tinham alcançado a 22 de setembro, ele, por certo, iria tentar a Paz, talvez possível dentro dos termos esboçados por Mitre. Mas López proferia o extermínio da Pátria, o sacrifício infecundo de todos os seus concidadãos, a despir-se do poder absoluto que usurpava à nação, abandonando o governo e retirando-se para o estrangeiro como um simples mortal.

Continuou a luta desesperada e sangrenta até que a morte o alcançou também nos areais inóspitos de Aquidaban. (LANGGAARD MENESES) (Continua…)

Por Hiram Reis e Silva (*), Bagé, 24.05.2023 – um Canoeiro eternamente em busca da Terceira Margem.

Bibliografia 

LANGGAARD MENESES, Rodrigo Octavio de. Homens e Coisas do Paraguai – Solano López e José Diaz – Brasil – Rio de Janeiro, RJ – Revista Brasileira – Sociedade Revista Brasileira – Segundo Ano – Tomo VI, 1896.  

(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;

  • Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)
  • Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);
  • Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
  • Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);
  • Ex-Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)
  • Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
  • Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
  • Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);
  • Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)
  • Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
  • Comendador da Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)
  • Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).
  • Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
  • E-mail: [email protected].

[1]    Páramos: campo situado nas terras altas dos Andes, na América do Sul, não queria se referir, certamente, ao local onde habitam os espí­ritos puros. (Hiram Reis)

[2]    Sabemos que o Sr. General Mitre contestou esse tópico do livro do Sr. Dr. Godoy, pela Imprensa platina. (LANGGAARD MENESES)

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