A ONU instituiu o período de 2022 a 2032 como a Década Internacional das Línguas Indígenas. O ato pretende incentivar a compreensão e ações concretas para preservar as línguas originárias . Em entrevista à Amazônia Real, a professora e pesquisadora Altaci Rubim fala sobre a importância dessa mobilização

Altaci Kokama (Foto: Marizilda Cruppe/Amazônia Real)

Manaus (AM) – A brutalidade contra os povos indígenas do Brasil em mais de 500 anos promoveu não apenas a perda de seus territórios, mas também extinguiu muitas línguas originárias. Eram mais de mil línguas nativas na época da chegada dos invasores europeus. Hoje são pouco mais de 200, segundo o IBGE. Com a revisão do Censo em 2022, acredita-se que o número aumente.

Em alguns casos, há um número baixo de falantes, com uma ou duas pessoas que mantêm o idioma nativo. E as que sobreviveram? Há muitas maneiras de recuperar, revitalizar e resgatar idiomas dos povos originários. Até mesmo as línguas consideradas extintas podem ser recuperadas. Como? Pelos rituais e contatos com os ancestrais. Assim, elas são “ressuscitadas”. São as línguas espíritos.

É com este pensamento que a professora e pesquisadora Altaci Rubim assumiu um papel proeminente na chamada Década Internacional das Línguas Indígenas, uma mobilização global iniciada em 2022 e que vai até 2032, proclamada pela Organização das Nações Unidas (ONU). Altaci é a representante da América Latina e do Caribe da Unesco no GT (Grupo de Trabalho) Mundial da Década das Línguas Indígenas.

Segundo a Unesco, existem mais de 7 mil línguas faladas no planeta. Dessas, mais de 6 mil são indígenas, mas 3 mil correm risco de desaparecer. Daí a emergência em tomar medidas para evitar a extinção da riqueza cultural e das línguas desses povos.

Muitas línguas desapareceram por diferentes motivos – mortes de seus falantes, proibição de colonizadores e missionários, espoliação territorial, racismo, discriminação, etc. Em 2022, morreu o indígena Tanaru, conhecido como ‘índio do buraco’, e com ele se foi um tesouro linguístico.

As que estão sendo “ressuscitadas” são mais frequentes do que se imagina. Muitos povos têm o interesse despertado para resgatar sua identidade, e isso inclui a recuperação da língua. Um exemplo acontece com o povo Pataxó, na Bahia, que resgatou a língua Patxohã.

“Havia dois lembradores. Então, eles foram para os rituais. A partir dos sonhos e dos rituais, eles criaram novos léxicos. A língua foi atualizada. Hoje a língua está em pleno processo de revitalização”, diz a professora.

Altaci Rubim pertence ao povo Kokama, da região do município de Santo Antônio do Içá, no Alto Solimões, no Amazonas. Ela é pesquisadora, ativista, mestra em Sociedade e Cultura na Amazônia pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam), mestranda em Linguística e Línguas Indígenas pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e doutora em Linguística pela Universidade de Brasília (UnB). Seu nome na língua é Tataiya Kokama.

Em Manaus, onde morou e compartilhou grande parte de sua trajetória pessoal e profissional, Altaci desenvolveu durante vários anos atividades de revitalização da língua de seu povo em comunidades de contexto urbano. Ela se descreve como uma linguista de “profissão e de coração”, que dialoga com a antropologia e com todas as outras ciências.

Nesta terça-feira (18), Altaci foi nomeada na Coordenação-Geral de Articulação de Políticas Educacionais Indígenas, no Departamento de Línguas e Memórias Indígenas do Ministério dos Povos Indígenas.

Em entrevista concedida à Amazônia Real, ela fala sobre o esforço para preservar línguas em risco de desaparecer e lembra os embates com outros linguistas, todos não indígenas, que pesquisaram o tema.

Por Elaíze Farias

ÍNTEGRA DA ENTREVISTA DISPONÍVEL EM: AMAZÔNIA REAL

PUBLICADO POR: AMAZÔNIA REAL – ‘As línguas indígenas estão adormecidas, não foram extintas’, diz linguista Kokama – Amazônia Real (amazoniareal.com.br)  

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