Boa Vista (RR) – A Urihi Associação Yanomami pede 6,6 bilhões de reais como indenização por danos ambientais provocados pelo garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami (TIY). Movida contra o governo federal, a Ação Civil Pública, que veio a público no sábado (4), aponta a falta de ações por parte do governo federal para combater a extração criminosa de ouro que resultou no desmatamento, na poluição dos rios, nas doenças e nas mortes de centenas de indígenas.
“A gente precisa que a União reveja esses danos. Então por isso a gente entra com essa ação, para cuidar do povo Yanomani”, explicou Junior Hekurari, presidente da Urihi e do Conselho Distrital de Saúde (Condisi-YY). Para Junior Hekurari, independente de quem esteja à frente da gestão do governo federal, se Jair Bolsonaro (PL) ou Luiz Inácio Lula da Silva (PT), os estragos devem ser reparados, o que justifica uma indenização por danos ambientais causados à TIY.
Questionada pela Amazônia Real, a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, reconheceu a importância de se recuperar o direito à vida para os Yanomami, mas que a destruição ambiental e social, vista lá do alto, é difícil de ser até contabilizada: “É um processo imensurável. A perda, digamos assim, da função para o povo indígena, do rio com seus peixes, com sua água limpa. Isso é um processo que é muito complexo para ser restaurado, recuperado, mas haverá também um esforço. Estamos buscando meios para fazer essa restauração”, disse, sem se referir ao pedido de indenização por danos ambientais.
O líder indígena Davi Kopenawa Yanomami alertou que o mercúrio contamina por completo o rio Branco, de onde sai a maior parte da água consumida em direção a Boa Vista, capital de Roraima. “Destruíram nossa fonte. A água que a gente toma aqui no rio Branco é água que sai lá no montanha [Terra Yanomami]. A água nunca vai ficar boa como antigamente”, resumiu.
Marina Silva, que esteve em Roraima para acompanhar as ações de combate ao garimpo ilegal, informou que a descontaminação da água da região de garimpo é uma atividade muito complexa. A contaminação se dá no rio e também nos solos onde é depositado o mercúrio. A ministra lembra que o produto tóxico que vai parar nos peixes é extremamente perigoso, porque contamina diretamente o sistema nervoso central de qualquer pessoa que come do pescado.
“Mas nós acionamos uma força-tarefa para o Programa das Nações Unidas para o meio ambiente e estamos também nos articulando com instituições dos Estados Unidos para buscar caminhos para essa descontaminação. É uma engenharia bem complexa, repito, e que o que fizermos nunca será na magnitude do tamanho do dado feito”, explicou a ministra.
O valor da indenização por danos ambientais de 6,6 bilhões de reais pode até soar estratosférico, mas pouco se comparado aos estragos deixados pelo garimpo ilegal. “É a degradação ambiental, é a degradação econômica da riqueza natural dos povos indígenas, mas é também na destruição de vidas, de mulheres que foram violentadas, de pessoas que foram assassinadas, de crianças que morreram. É algo que não tem como ser reparado, mas pode ser estancado. E é isso que o presidente Lula está comprometido em fazer”, explicou Marina.
A indenização por danos ambientais, por enquanto, é uma reivindicação da Urihi Associação Yanomami, e não conta, por enquanto, com o apoio de outras entidades representativas, como a Hutukara Associação Yanomami (HAY), presidida por Davi Kopenawa, principal líder de seu povo.
TEXTO NA ÍNTEGRA DISPONÍVEL EM: AMAZÔNIA REAL
Por Felipe Medeiros – Publicado por: Yanomami pedem 6,6 bilhões de reais de indenização por garimpo ilegal – Amazônia Real (amazoniareal.com.br)
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