Mais uma vez tenho a honra de repercutir um belo artigo de meu caro Amigo, Irmão e Mestre Higino Veiga Macedo, editado em João Pessoa.
Modismo nas Palavras
(Higino Veiga Macedo)
É impressionante como não se tem mais respeito pela língua portuguesa. Cada dia aparecem neologismo e estrangeirismo, desnecessários, para entendimento das falas, oral ou escrita. São usados apenas para afagar a vaidades de pseudointelectuais. E, infelizmente não se tem um órgão, uma lei, um alguém que cuide dela. Engraçado que os países ibéricos, nossos berços, têm suas academias que fazem isso com proficiência.
Assistindo a um programa de televisão, sobre futebol, acabei por desligar a TV. Como não se tem como entrar na discussão, por motivos óbvios, desisti para não ficar mais irritado.
O atual domínio da dialética marxista se impõe ao linguajar. Todos criam palavras, criam etimologias, criam semânticas e até criam hermenêutica. As três, das sete portas das Artes Liberais – trivium ([1]) – gramática, retórica e dialética são agredidas, sempre.
Para Platão a dialética é a arte de pensar, questionar e hierarquizar ideias.
Para Aristóteles, a dialética consiste num procedimento lógico de verificação da validade dos argumentos…
Marx ([2]) adota a dialética de Hegel, alemão e mais velho que ele. Hegel distorce a dialética platônica e aristotélica. Para os gregos há ter o contraditório para aperfeiçoar a ideia, de forma silogística (aperfeiçoar a ideia), e não para combatê-la, de forma sofística (contrariar por contrariar).
Hegel cria um pensamento movimentado, isto é, qualquer ideia – “tese” – pode ser contrariada com uma “anti tese” – “antítese” e ter um confronto de ideias. Isso produz a SÍNTESE. A Síntese (do grego súnthesis,eōs no sentido de mistura, síntese, contrato), para Hegel, não deve conter “nada da tese e nem da antítese”. Sentido novo e distinto. Esta síntese se torna uma tese, que encontrará uma antítese, que formará outra síntese… Assim, um movimento contínuo.
E Engels, outro alemão e amigo de Marx, complica mais a dialética que passa a ser a dialética marxista. Para ele, Engels, um defensor do totalitarismo conquistado por guerra civil, concluiu que qualquer coisa funcionava como na dialética.
Assim, afirmou que o capitalismo (tese) só poderia ser vencido pela revolução (antítese) proporcionando à toda sociedade as “bases sociais para uma sociedade sem divisão de classes” (síntese). Complica mais com a sua confusa definição de materialismos dialético e materialismo histórico. Os marxistas se dizem materialista dialético.
Isso tudo foi aperfeiçoado modernamente pelo marxista Jacques Derrida ([3]), argelino, (ô 15.07.1930 / U 09.10.2004) como desconstrução ou “descontrucionismo”. Para ele, conceitos tradicionais podem e até devem ser desconstruídos: religião, família, pátria, leis, regras… enfim, tudo como se “animalescamente” fosse a vida.
Voltando ao programa, me irritou um ex-jogador, que copiou de alguém, comentando o seguinte: o atleta XY da equipe WZ, quando de posse da bola não “definia a jogada” pela sua falta de “tomada de decisão”. Demorava na “tomada de decisão”. Ora qualquer jogo, como na guerra, não há tempo para se pensar num verbo, qualquer, para situação nova. Não há como imaginar situações contidas nos verbos Identificar, Examinar, Estudar, Comparar, Analisar… Portanto, tudo tem de estar muitíssimo treinado. O cérebro não pode “parar” para analisar, identificar… Ele tem de agir por “instinto”, por ação mecânica. No cérebro, para esse mecanicismo instintivo, é acionado o Sistema Límbico ([4]), que […] “responde pelos comportamentos instintivos, […] É por isso que o jogador de basquete Oscar Schmidt fazia 300 lançamentos após o treino; que o futebolista Marcelinho Carioca batia 100 faltas após o treino. Eram gênios? Não… apenas alimentam seus reflexos condicionados para agirem por eles, automaticamente.
Portanto, é uma grande lorota essa de “tomada de decisão” para se fazer um drible ou finalizar no gol. É o Sistema Límbico (limbo, periférico) que age. Arquiva e desarquiva quando precisa, sem receber ordens de outra parte do cérebro.
Outra patacoada “indeglutível” é a tal de Narrativa. Em texto que tem “narrativa” eu não leio mais.
NARRATIVA é sempre uma historinha de “alguém”, contada por “outro alguém”, mas que só “ouviu alguém falar”. Na norma dita culta, na verdade “norma não corrompida”, narrativa remete a qualquer coisa de ficção, irreal, imaginaria… Quando é real, é uma notícia, portanto, por si só é uma narrativa. Para intelectualizar o uso da palavra, um assunto que passa pelos filmes, pelas novelas e pelas plataformas de comunicação, recebe o selo de garantia de: NARATIVA. E para endeusar mais pode até ser Narrativa Transmídia ([5]). Reduzindo ao mínimo múltiplo comum, a palavra da moda fica bem definida pelo caipira mineiro: NARRATIVA é só – PROZA, PITACO, CONVERSA FIADA… uai!!!.
Resumindo, sinto que tais modismos nada mais são que tons de vermelho da dialética marxista. Sabem que as PALAVRAS terão vidas efêmeras, pois logo aparecerá outra, como antítese, e elas morrerão abraçadas, surgindo uma nova e diferente. A história se repete, sempre. Na verdade, já disse um filósofo: a novidade é a história que não foi consultada.
(Higino Veiga Macedo)
Por Hiram Reis e Silva (*), Bagé, 28.03.2023 – um Canoeiro eternamente em busca da Terceira Margem.
(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;
- Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)
- Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);
- Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
- Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);
- Ex-Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)
- Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
- Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
- Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);
- Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)
- Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
- Comendador da Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)
- Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).
- Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
- E-mail: [email protected].
[1] Trivium – dialética – formulação e discussão do pensamento; retórica – técnica da discussão do pensamento; gramática – é o registro da ideia e da discussão.
[2] Moses Mordecai Marx Levy – Verdadeiro nome de Karl Marx.
[3] Derrida – “A desconstrução argumenta que a linguagem, especialmente em conceitos idealistas como verdade e justiça, é irredutivelmente complexa, instável e difícil de determinar, tornando as ideias de linguagem fluidas e abrangentes mais adequadas à crítica desconstrutiva”.
(Desconstrução – Wikipédia, a enciclopédia livre – wikipedia.org)
[4] Límbico: relativo ao sistema do cérebro responsável pelas emoções e pelo comportamento social. (Hiram Reis)
[5] Narrativa Transmídia – foi cunhado pelo teórico, da área da comunicação, Henry Jenkins em seu livro: “Cultura da Convergência”. (brainly.com.br)
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