Evento propicia contato direto e troca de experiências entre procuradores que atuam em áreas fronteiriças
Como utilizar as ferramentas da cooperação internacional para superar desafios na repressão ao crime transnacional entre autoridades dos países do Mercosul é o tema central do Encontro Mercosul de Procuradores em Fronteiras, iniciado nesta terça-feira (28), no auditório do Ministério Público do Trabalho (MPT), em Manaus (AM). Organizado pela Secretaria de Cooperação Internacional da PGR, em parceria com a Procuradoria da República no amazonas e apoio do Programa Crimjust do Escritório da ONU sobre drogas e crime (UNODC), o evento, que se estende até quinta-feira (30), tem por objetivo compartilhar experiências e estratégias para aprimorar a atuação dos Ministérios Públicos nas investigações de crimes transfronteiriços, como o tráfico internacional de drogas. Além de procuradores brasileiros, participam representantes dos Ministérios Públicos da Argentina, Bolívia, Chile, Colômbia, Equador, Paraguai, Peru e Uruguai.
“A criminalidade organizada exige uma troca de informações ágil entre as autoridades envolvidas. Eventos como este são importantes para estreitar laços de confiança, necessários para o bom andamento da cooperação internacional nas fronteiras”, ressaltou o secretário de Cooperação Internacional do Ministério Público Federal (MPF), subprocurador-geral da República Hindemburgo Chateaubriand, que conduziu a mesa de abertura do evento. A programação inclui painéis de exposição, debates e atividades em grupos de trabalho.
Ainda de acordo com Chateaubriand, o MPF apresentou diagnóstico, em 2021, sobre os principais obstáculos enfrentados por procuradores nas regiões de fronteira, a partir de pesquisa realizada com 141 procuradores de nove países. Segundo o levantamento, o maior deles é a cadeia de crimes associada ao narcotráfico, enquanto a grande necessidade apontada na pesquisa seria o interesse pela aproximação com colegas de países vizinhos. Os resultados foram apresentados durante a 30ª Reunião Especializada de Ministérios Públicos do Mercosul (REMPM), cuja subcomissão de cooperação em fronteiras é coordenada pelo MPF brasileiro.
Também participaram da abertura do encontro a procuradora-chefe do MPF no Amazonas, Michèle Corbi; a procuradora do MPT Ana Luiza Noronha; o diretor de assuntos internacionais do MP do Paraguai e representante da Secretaria Permanente da REMPM, Manuel Doldán; o representante do Programa Crimjust, da UNODC, Antonio Valverde; e o chefe para as Américas da Delegação da União Europeia, Mario Mariani.
Fronteiras e cooperação internacional – O primeiro painel do encontro foi dedicado à exposição de profissionais do Brasil, Colômbia e Argentina com atuação investigativa em fronteiras. O procurador da República Alexandre Aparizi, que atua no MPF em Mato Grosso do Sul, mais especificamente no município de Ponta Porã, falou sobre a necessidade de rápido acesso a bancos de dados de países vizinhos que permitam identificar se suspeitos de outras nacionalidades encaminhados para audiência de custódia já possuem ficha criminal em seus países de origem.
A segunda exposição do painel ficou por conta da fiscal do Ministério Público da Colômbia, Ivonne Lagos, que apresentou apanhados histórico e geográfico sobre o narcotráfico no país. “Se todos conseguirmos aplicar metodologias de investigação semelhantes, mas adaptáveis aos contextos e necessidades normativas de cada um, conseguiremos uma investigação e repressão mais eficaz dos grupos transnacionais”, declarou.
Moderado pelo procurador da República Rodrigo Graeff, o painel foi encerrado pelo fiscal do Ministério Público da Argentina, Federico Carniel, que destacou a necessidade de “fortalecer o vínculo pessoal entre promotores de países vizinhos e promover ações conjuntas em tempo real sob um guarda-chuva legal unificado e abrangente”.
Técnicas Especiais de Investigação e Cooperação Internacional foi o tema do segundo painel do primeiro dia do encontro. Os debates contaram com a participação de fiscais do Ministério Público do Chile e do Uruguai, além do subprocurador-geral Hindemburgo Chateaubriand e da procuradora regional da República Anamara Osório, secretária adjunta de Cooperação Internacional do MPF.
Anamara salientou a importância de se contar com a Associação Iberoamericana de Ministérios Públicos (Aiamp) em termos de cooperação. “O acordo de cooperação interinstitucional da Aiamp permite a rápida troca de informações entre os pontos de contato para auxiliar no conhecimento dos fatos e também na elaboração dos pedidos de cooperação.”
Em 2021, o Brasil fez 47 pedidos de informações a Estados estrangeiros e recebeu 87 solicitações. Já no ano passado, foram 64 pedidos feitos pelo país e 71 pedidos recebidos. Nos primeiros meses deste ano, cinco solicitações foram feitas pelo Brasil e 15 foram recebidas.
Nos próximos dois dias do evento em Manaus, ainda estão programados plenária e debates com grupos de trabalho formados por representantes de diferentes países, além de painel sobre desdobramentos sociais e de direitos humanos sobre os fenômenos criminais em fronteira.