Monitoramento revela comportamento único para a espécie nas florestas alagáveis de várzea
Com o aumento anual do nível da água do Rio Amazonas, que alaga toda a Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (RDSM), no Amazonas, pesquisadores encontram momento propício para a primeira campanha de captura das onças-pintadas do ano. O trabalho do Grupo de Pesquisa em Ecologia e Conservação de Felinos na Amazônia, do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (IDSM), teve início na primeira semana de março e deve se prolongar até o final do mês.
Com o monitoramento dos indivíduos capturados, os pesquisadores criaram um banco de dados do movimento das onças-pintadas na reserva Mamirauá. “Com os dados do monitoramento foi possível descobrir que as onças vivem de maneira arbórea e semiaquática durante esse período, sendo capazes de viver, se alimentar e até se reproduzir e cuidar de filhotes nas copas das árvores e nadando entre elas, conforme está publicado na revista Ecology”, explica Marcos Brito, pesquisador e biólogo.
As armadilhas tipo laço (foot snare) projetadas para prender a pata dos felinos sem machucá-los são montadas em trilhas onde já existe registro da presença dos animais. “Após capturado, o animal é anestesiado e retirado da armadilha para que seus parâmetros vitais e condições físicas gerais sejam avaliados”, esclarece Louise Maranhão, veterinária e pesquisadora do IDSM. Ainda segundo Louise o animal é pesado, o colar com GPS e VHF é instalado e são coletadas amostras biológicas, como sangue, assim como a realização de exame físico, biometria e registro fotográfico para identificação.
A pesquisadora explica que a tecnologia utilizada no monitoramento é feita por meio de um colar com dupla funcionalidade. O aparelho tem ao mesmo tempo um sistema de GPS e um de rádio VHF. O sistema de GPS coleta a localização da onça de hora em hora e envia esses dados diariamente via satélite para o e-mail dos pesquisadores. Dessa forma é possível acompanhar todos os dias por onde a onça está andando e o quanto ela se movimenta, a partir dos computadores do GP.
Já o sistema de VHF emite um sinal de rádio que consegue captar através de receptores até 2 km de distância. “Esse sinal, que só consegue ser percebido pelo aparelho, é emitido constantemente e nos permite triangular a localização da onça para que possamos nos aproximar do animal durante o período de cheia” aponta, Marcos.
As onças-pintadas capturadas e monitoradas entre 2012 e 2018 evidenciaram um bom estado de saúde mas os pesquisadores detectaram que patógenos considerados preocupantes para a conservação de carnívoros no mundo estão circulando na Reserva Mamirauá, como o vírus da cinomose e o vírus da leucemia felina.
Entre o período de 2012 a 2022 16 indivíduos foram capturados, incluindo uma recaptura. Para entender mais sobre o monitoramento das onças-pintadas clique aqui e leia o artigo completo publicado na revista Ecology.
Texto: Stéffane Azevedo
PUBLICADO POR: INSTITUTO MAMIRAUÁ – Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (mamiraua.org.br)