O projeto tem a Coordenação da FIOCRUZ (Claudia Codeço) e INPE (Miguel Monteiro) e a participação da Economia e NAEA/UFPA, UFMG, UFSCar, Unifesspa, Emap/FGV-RJ, UFSM, e SFB (Serviço Florestal Brasileiro) Ana Rorato, coordenou o artigo e é Doutora pelo INPE – Pos graduação da CST , associada ao LiSS-DIOTG e PosDoc do Projeto. Anielle Souza, Doutoranda na PGSER , Maria Isabel S. Escada, Ana Paula Dal’Asta e Antonio Miguel V. Monteiro, associados ao* LiSS-DIOTG* , participam do artigo.
Pesquisadores do Centro de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (SinBiose/CNPq) publicaram hoje (02) a base de dados Trajetórias na revista Scientific Data, do grupo Nature. A base reúne 36 indicadores ambientais, socioeconômicos e epidemiológicos referentes ao período de 2000 e 2017 para todos os 772 municípios de nove estados da Amazônia Legal Brasileira. Os dados estão disponíveis de forma aberta e gratuita para quem quiser consultar.
A seleção, a análise e a equalização destes dados levaram aproximadamente três anos e cobriu uma área de 5 milhões de km2, que representa aproximadamente 60% de todo o território brasileiro. “Este conjunto de dados vai permitir investigar a associação entre os sistemas agrários amazônicos e seus impactos nas mudanças ambientais e epidemiológicas, além de ampliar as possibilidades de compreensão, de forma mais integrada e consistente, dos cenários que afetam o bioma amazônico e seus habitantes”, explica Claudia Codeço, coordenadora do projeto e pesquisadora da Fiocruz.
A base de dados Trajetórias é resultante do projeto Trajetórias, um dos sete projetos de síntese do SinBiose/CNPq. O foco do projeto é gerar sínteses do conhecimento acerca das relações entre desenvolvimento econômico, uso do solo, epidemiologia e conservação na Amazônia. A equipe reúne epidemiologistas, economistas, ecologistas, biólogos, geógrafos, médicos e cientistas sociais que desenvolveram indicadores multidisciplinares e coerentes para estudos integrados na Amazônia brasileira.
“Trata-se de um conjunto de dados provenientes de diferentes fontes e instituições que foram harmonizados, ou seja, que passam a compartilhar a mesma unidade de análise espacial e temporal para que possam ser comparados”, explica Ana Rorato, primeira autora do estudo e pós-doutoranda do projeto Trajetórias.
Os temas disponíveis para consulta na base Trajetórias são: perda de habitat, uso e cobertura da terra, mobilidade humana, anomalias climáticas, carga de doenças transmitidas por vetores e índices de pobreza multidimensional para populações rurais e urbanas para cada um dos municípios da Amazônia Legal Brasileira, dentre outros. Estes indicadores e índices estão pontuados em quatro marcos temporais: os censos demográficos de 2000 e 2010 e os censos agropecuários realizados em 2006 e 2017. Além dos dados do Censo do IBGE, a base de dados conta com informações derivadas de imagens de satélite de fontes nacionais e internacionais e do Sistema Nacional de Notificação de Doenças. “Essas fontes de dados foram escolhidas devido ao seu fácil acesso, abrangência temporal e espacial e alta qualidade dos dados” explicam os autores.
Um cuidado que os autores tiveram foi o de criar índices que reflitam a realidade amazônica. “Por exemplo, o índice de pobreza tradicional pode funcionar bem em grandes metrópoles, mas não funciona na realidade amazônica”, complementa Codeço. “Medir a pobreza na região amazônica é uma tarefa complexa, pois requer uma compreensão de questões que transcendem os indicadores econômicos”, explicam os autores no texto. A abordagem adotada mede o grau de privação familiar em áreas rurais e urbanas, que podem afetar e ser afetadas por mudanças ambientais e econômicas. Assim, criou-se o Índice de Pobreza Multidimensional em suas versões rural e urbana. Estes índices são compostos a partir do cálculo de 15 a 19 indicadores de saúde, educação e condições de vida (que inclui habitação, serviços coletivos, emprego e bens de consumo privados). “Pobreza multidimensional significa privação simultânea em múltiplas dimensões”, explica Codeço. Neste cálculo, uma família é considerada multidimensionalmente pobre se sua pontuação de privação é superior a 0,25.
Outra preocupação na preparação da base de dados Trajetórias foi de garantir que estes dados possam ser reproduzidos futuramente. Para isso, a “receita” para se repetir cada indicador está detalhadamente descrita no artigo publicado. “Isto vai possibilitar o monitoramento da saúde única da Amazônia em diferentes momentos e situações”, explica Rorato.
“O próximo passo é desenvolver modelos e identificar tipologias ambientais e seus graus de impacto na Amazônia para então fazer predições para o futuro”, finaliza Codeço.
Sobre o Projeto Trajetórias
O projeto Trajetórias do Centro de Síntese em Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (SinBiose/CNPq) teve início em 2019 e está sediado na Fiocruz e INPE (Instituto de Pesquisas Espaciais). Seu objetivo é sintetizar o conhecimento sobre os serviços ecossistêmicos e suas relações com o sistema econômico e a saúde humana na Amazônia. O projeto desenvolve novos protocolos de classificação e avaliação dos ecossistemas e de serviços ambientais específicos relacionados às doenças, cujos determinantes mais importantes são ambientais. O objetivo é fornecer uma estrutura para o debate conjunto das dimensões econômica, ambiental e de saúde, buscando dar maior visibilidade aos modos de vida das populações locais, suas estruturas e sistemas de produção.
Para saber mais…
Ana C Rorato, Ana Paula Dal’Asta, Raquel Martins Lana, Ricardo B N dos Santos, Maria Isabel S Escada, Camila M Vogt, Tatiana C Neves, Milton Barbosa, Cecilia S Andreazzi, Izabel C dos Reis, Danilo A Fernandes, Mônica da Silva-Nunes, Anielli R de Souza, Antonio M V Monteiro e Claudia T Codeço (2023). Trajetorias: a dataset of environmental, epidemiological, and economic indicators for the Brazilian Amazon, Scientific Data. https://doi.org/10.1038/s41597-023-01962-1
Link: https://www.nature.com/articles/s41597-023-01962-1
PUBLICADO POR: Amazônia ganha base de dados inédita – Divisão de Impactos, Adaptação e Vulnerabilidades (inpe.br)