Jornada Pantaneira
A Mídia Pretérita e a Expedição
Parte IV
Correio Paulistano, n° 3.358
São Paulo, SP – Sexta-feira, 09.08.1867
Noticiário
Notícias de Mato Grosso
Recebemos um número do “Boletim de Mato Grosso”, em que se narra pormenores da tomada de Corumbá aos paraguaios pelas forças que partiram de Cuiabá ao mando do Tenente-coronel Antônio Maria Coelho. Este feito d’armas deu-se no dia 13 de junho. A Expedição brasileira perdeu mui pouca gente. Conta-se entre os mortos o Capitão de Comissão Cruz.
O Boletim dá cento e tantos paraguaios como vítimas do combate, e 21 prisioneiros. Os vapores paraguaios “Apa”, e “Anhambaí”, que fizeram fogo vivo na ocasião do ataque, fugiram depois de perdidas as esperanças de resultado. Foram restituídos à liberdade 500 e tantos brasileiros de ambos os sexos, que ali estavam sob pressão e guarda dos inimigos.
Como despojos deixaram os paraguaios em poder das forças brasileiras 8 bocas de fogo, muito armamento, munições de guerra, e víveres.
Constava que celebrizaram-se no dia do combate duas cuiabanas, Francisca de Sampaio Botelho e Maria Brasilina da Silva Barreto. O Presidente da Província, Dr. Couto de Magalhães, que se achava nos Dourados, logo que soube do fato, seguiu para Corumbá com a flotilha que levava e com a Força ao mando do Major Antônio José da Costa. Orçava-se em duas mil baionetas e 17 bocas de fogo, além da flotilha, a Força que devia guarnecer aquele ponto reconquistado ao inimigo. Em Cuiabá houve grandes e entusiásticos regozijos públicos, em que tomaram parte a população e as autoridades. (CP N° 3.358)
Correio Paulistano, n° 3.375
São Paulo, SP – Sexta-feira, 30.08.1867
Noticiário
Aqui passaram oficiais vindos da Expedição de Mato Grosso, os quais devem de estar nessa capital, que descreveram a retirada do “Apa”, com cores ainda mais negras do que aquelas com que já se tinha pintado esse quadro de horrorosos males, que mais realçam a coragem e o valor de nossos soldados. Segundo eles dizem, houve imprudência na passagem do “Apa”, sem as necessárias cautelas e precisas reservas de gente e depósitos de víveres. Foi uma temeridade que nos custou bem cara e que ficou infrutífera. Felizmente os feitos de Corumbá, vieram contrabalançar os desastres do “Apa”. Espero novas notícias para emitir a minha muito humilde opinião sobre as operações e conveniências da guerra naquele ponto do Império, a que o Paraguai tem, de há muito, falsas pretensões contra o expresso do Tratado de Utrecht, que colocou nossos limites no “Apa”.
Província de Mato Grosso
Lê-se no Jornal do Comércio de 27 do corrente:
Chegaram ontem notícias de Mato Grosso que alcançam a 10 de julho. Vieram por um próprio ([1]). A Expedição dirigida pelo Presidente da Província, depois da tomada de Corumbá, dispunha-se a reunir-se à outra Expedição que fora comandada pelo Coronel Camisão, devendo o ponto da junção ser na Conceição do Paraguai, além do “Rio Apa”. Tendo, porém, aparecido a epidemia da bexiga no acampamento, e achando-se nos arquivos paraguaios que ficaram em Corumbá comunicações oficiais dirigidas ao Comandante militar daquele ponto, em que se referia que as Forças hoje comandadas pelo Ten Cel José Thomaz Gonçalves haviam repassado o “Apa”. Desistiu o Sr. Dr. Couto de Magalhães de seu intento, e regressou com toda a Expedição para Cuiabá, onde ficava. Em Corumbá ficou uma guarda de observação.
Nos arquivos daquela praça acharam-se documentos assinados de próprio punho de López, ordenando os mais bárbaros tratamentos aos prisioneiros aliados que não se prestassem a dar todos os esclarecimentos que pudessem servir aos nossos inimigos. (CP N° 3.375)
Correio Paulistano, n° 3.120
São Paulo, SP – Quarta-feira, 17.10.1867
Notícias da Expedição de Mato Grosso
As datas das Forças Expedicionárias ao Sul de Mato Grosso alcançam a 22 de agosto. De uma carta dirigida ao Major Lins, extraímos o seguinte:
O Cel Carvalho, que havia quebrado o braço esquerdo, achava-se restabelecido, e continuava a comandar a Expedição. No acampamento havia abundância de víveres. Os corpos de artilharia e cavalaria de S. Paulo, que tinham sido extintos pelo Cel Galvão, foram novamente criados pelo atual Comandante da Expedição; sendo nomeados, para comandar a cavalaria o Cap Camacho, e para a artilharia o Cap José Thomaz de Cantuária.
Os paraguaios retiraram-se de Miranda, deixando tomadas as entradas desta Vila; ainda se conservavam nos seguintes pontos à margem do Aquidauana, Porto de Souza, Porto de Maria Domingues, Taquarussu, Forquilha e Nioaque. Tendo o Coronel Carvalho tido denúncia de que uma ronda ([2]) paraguaia de 12 homens a pé e 16 a cavalo atravessavam todos os soldados a Forquilha, afim de espiar as proximidades do nosso acampamento, enviou a encontrá-los uma força de cem Índios Terenas, armados e municiados; foram comandados pelos Tenente Joaquim Faustino e Alferes João Pacheco de Almeida, oficiais da Guarda Nacional de Miranda, que se apresentaram ao serviço.
Esta mesma Força foi com ordem de fazer um reconhecimento até Nioaque, para onde pretendia o Coronel Carvalho seguir naqueles dias. Antes de seguirem; para o seu destino os índios de que falamos, fizeram tiro ao alvo com espingardas Minié ([3]), comandados por um Sargento, e notou-se que, na distância de 150 passos, nenhum deles deitou a bala fora do ponto.
Algumas tribos já se haviam oferecido ao Coronel Carvalho para o serviço da expulsão dos paraguaios; contava-se os Capitães José Pedro da Silva, Chefe dos Terenas da Pirainha, José Pedro Chefe das tribos da Aldeia Grande; e Alixagota, Lapagata e Taquituana, chefes dos Guaicurus e Caldocos. Também esperava-se a vinda das tribos fracionadas Quimquináus, Laiana e Guaná. Esta gente é toda conhecida e amiga do Coronel Carvalho. Em vista de tais notícias é natural que a esta hora estejam as nossas Forças ocupando os pontos invadidos pelos paraguaios. (CP N° 3.120)
Por Hiram Reis e Silva (*), Bagé, 10.03.2023 – um Canoeiro eternamente em busca da Terceira Margem.
Bibliografia
CP N° 3.358. Notícias de Mato Grosso – Brasil – São Paulo, SP ‒ Correio Paulistano, n° 3.358, 09.08.1867.
CP, N° 3.375. Noticiário / Província de Mato Grosso ‒ Brasil – São Paulo, SP ‒ Correio Paulistano, n° 3.375, 30.08.1867.
CP, N° 3.120. Notícias da Expedição de Mato Grosso ‒ Brasil – São Paulo, SP ‒ Correio Paulistano, n° 3.120, 17.10.1867.
(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;
- Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)
- Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);
- Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
- Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);
- Ex-Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)
- Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
- Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
- Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);
- Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)
- Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
- Comendador da Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)
- Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).
- Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
- E-mail: [email protected].
[1] Próprio: mensageiro. (Hiram Reis)
[2] Ronda: patrulha. (Hiram Reis)
[3] Minié: espingarda de razoável precisão. (Hiram Reis)
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