Viagem do alemão Theodor Koch-Grünberg a Roraima revela o mito de Macunaíma

Antes mesmo de embarcar na aventura da expedição etnográfica que deu origem aos três livros da série Do Roraima ao Orinoco, Koch-Grünberg já tinha algum conhecimento das culturas das populações indígenas sul-americanas, pois fizera parte da segunda expedição de Hermann Meyer ao Brasil (1898 a 1900). Em sua segunda expedição etnográfica ao País, Koch-Grünberg, depois de pesquisar os grupos Makuxí e Taulipáng, cruzou a fronteira e foi estudar as comunidades indígenas Yekuaná e Guinaú, na Venezuela, mas não chegou a cumprir sua meta final, chegar às nascentes do Rio Orinoco, por falta de recursos – oportunidade que se anunciou com o engajamento do antropólogo na equipe do norte-americano Hamilton Rice na década de 1920. Koch-Grünberg, infelizmente, morreu no começo da viagem.

No primeiro volume, em que narra a expedição chefiada por ele, Koch-Grünberg nota que alguns indígenas, como os Wapischána, uma tribo Aruak de língua singular, já viviam em grupos dispersos. “Os Wapischána diminuíram muito em número, estão degenerados e desmoralizados sob a servidão dos brancos”, observou, concluindo ainda que gozavam de má fama “por causa de suas vigarices”. Parece familiar um século depois? É só ver o que aconteceu com indígenas de outras etnias, que viraram párias alcoolizados vagando pelas praças após contato com o branco.

No segundo volume, que traz a história de Makunaíma e seus irmãos, Koch-Grünberg busca uma correspondência analógica entre os mitos da criação dos indígenas e as histórias bíblicas do Velho Testamento, incluindo aí o dilúvio universal – e a grande enchente, segundo a narração do Taulipáng Mayuluaípu ao alemão, teria sido provocada pela teimosia de Makunaíma. Depois dela, quando ficou tudo seco, veio um grande fogo e Makunaíma, como um demiurgo, criou pessoas de cera que derretiam ao sol – só então o “herói sem nenhum caráter” considerou criar o homem do barro.

O terceiro e último volume é o mais ambicioso, pois nele Koch-Grünberg relata o que aprendeu sobre a cultura material e espiritual de tribos do Brasil e da Venezuela. Quando o alemão chegou por aqui existiam algo entre 1 mil e 1.500 Taulipángs, que eram tão numerosos como os Makuxís. A varíola e outras epidemias levadas pelo homem branco trataram de dizimá-los. Essa é a principal lição que o antropólogo deixou para um Brasil que vê morrer os Yanomamis: respeitar as diferenças também é manter distância de uma cultura que não conseguimos absorver, sequer entender.

TEXTO NA ÍNTEGRA DISPONÍVEL EM: Viagem do alemão Theodor Koch-Grünberg a Roraima revela o mito de Macunaíma (msn.com) – (disponível em: fevereiro de 2023)

Relacionadas:

Nota da Ecoamazônia: Atualmente os grupos indígenas citados são identificados como: Taurepang ou Taurepangue; Macuxi ou Makuxi; Wapichana ou Wapixana; e Yecuana ou Ye’kwana – Quadro Geral dos Povos – Povos Indígenas no Brasil (socioambiental.org)   

 

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1 Comentário

  1. As denominações de época dos grupos indígenas que habitavam a região Norte do Brasil, Guiana e Venezuela, tais como: Wapischána, Makuxí, Taulipáng, Yekuaná e Guinaú são importantes dados para as pesquisas hisóricas.