A presidente da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), Joenia Wapichana, participou da Comitiva do Governo Federal nesta segunda-feira (27), na sede da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja), no município de Atalaia do Norte (AM).

Foto: Ana Sabino / Funai

A visita fez parte de uma programação organizada pela Univaja e por outras organizações indígenas da Terra Indígena Vale do Javari. Para Joenia, a reunião representou mais que um ato simbólico e sim um ato de assumir “responsabilidade”. Dentre as medidas a serem adotadas pela Funai, a principal será a de retomar os trabalhos e garantir a presença do Estado naquela região que está dominada pelo crime organizado. Como parte das ações da Funai na região, foi assinado um termo de cooperação entre a Univaja e o governo federal para reestabelecer as ações na região do Vale do Javari.

 Além disso, como fruto da parceria entre Univaja e Governo Federal, por meio da Sesai, foi inaugurada uma Unidade Básica de Saúde Fluvial (UBSF) na região. A UBSF é uma embarcação que comporta Equipes de Saúde da Família Fluviais (ESFF), providas com a ambiência, mobiliário e equipamentos necessários para atender à população indígena da região. A ação é uma devolutiva para os povos indígenas do Vale do Javari.

Durante o encontro, a presidente da Funai fez uma retratação pública diante da vulnerabilidade do Estado e a omissão da Funai sobre o caso do assassinato brutal do indigenista Bruno Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips, à época do ocorrido.   Para ela, o governo federal tem uma dívida com as famílias de ambas as vítimas, que foram assassinadas por denunciar crimes na região do Vale do Javari, como o garimpo e a caça ilegais. Leia a carta na íntegra.

 Na carta, a presidente corrige a nota difamatória publicada pela Funai em 2022, durante a gestão anterior do órgão indigenista, após o desaparecimento de Bruno e Dom: “a nota publicada no dia 10 de junho de 2022, apenas cinco dias após o desaparecimento de Bruno Pereira e Dom Phillips, ameaçava a Univaja de processo judicial e trazia uma série de inverdades contra Bruno e Dom”, afirmou.

 O indigenista Maxciel Pereira que, em função dos trabalhos na fiscalização da TI Vale do Javari, também foi assassinado pelo crime organizado que atua na região, também foi lembrado pela presidente: “A Funai se compromete a acompanhar e cobrar a resolução das investigações, para que a família de Maxciel tenha direito à Justiça”.

 Na carta, a Fundação também fala sobre a retomada da região: “no dia de hoje, a Funai se junta a outras autoridades federais e ministros de Estado, respondendo ao convite da Univaja para um primeiro passo para retomada do Vale do Javari, assolado por quadrilhas criminosas diante do abandono promovido pelo governo anterior. Esse primeiro passo tem que ser acompanhado do reconhecimento das responsabilidades institucionais pelo que aconteceu e segue acontecendo na região”.

Quando foi executado, Bruno Pereira, um dos mais importantes indigenistas de sua geração, estava licenciado da Funai porque o órgão estava dominado por uma política anti-indígena. Bruno foi exonerado do cargo de Coordenador-Geral de Índios Isolados e de Recente Contato após realizar uma operação contra o garimpo ilegal no Vale do Javari. Dom estava com ele realizando uma pesquisa para um livro que escrevia, chamado “Como salvar a Amazônia”.

 “A gente tem que buscar pela justiça, pela investigação, não somente pelo Bruno ou Dom, ou por Maxwell, por outros servidores, que estão aqui com a gente, pelas nossas lideranças, que continuam sendo ameaçadas e já estão alertando isso faz um tempo”, completou Joenia.

Compondo a comitiva de cerca de 50 pessoas também estiveram presentes a ministra dos Povos Indígenas (MPI), Sonia Guajajara; o secretário da Secretaria Especial de Saúde indígena (Sesai), Weibe Tapeba; o coordenador-geral de Índios Isolados e de Recente Contato (CGIRC) da Funai, Leonardo Lenin; representante do ministro da Justiça e Segurança Pública; do ministro dos Direitos Humanos e Cidadania; a embaixadora da Inglaterra no Brasil, Stephanie Al-Qaq; a secretária de Direitos Territoriais e Ambientais Indígenas do MPI, Kerexu Yxapyry; a coordenadora do Programa de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos, Comunicadores e Ambientalistas (PPDDH), Luciana Pivato; o representante da Polícia Federal (PF), Lucas Monteiro; e a viúva de Bruno Pereira, Beatriz Matos, nomeada Diretora de Proteção Territorial e de Povos Indígenas Isolados e de Recente Contato do MPI.

Parte da comitiva permaneceu na região e deverá se deslocar para a Base do rio Ituí-Itaquaí com o objetivo de elaborar um Plano de Trabalho Interinstitucional para a proteção e salvaguarda dos povos indígenas da Terra Indígena Vale do Javari.

Assessoria de Comunicação/Funai – Retomada do Vale do Javari: Funai firma ato de responsabilidade com servidores e Povos Indígenas — Fundação Nacional dos Povos Indígenas (www.gov.br)

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