Artigo de autoria de Luiz Claudio Santos Estrella abordando as Bases para Projeto Agro Ecológico para Comunidades Ianomâmi

Temos um problema Humano serio, comparado ao genocídio dos judeus, e a situação de doenças e debilidade alimentar causado pela fauna pequena insuficiente para alimentara a população grande de Ianomâmis, bem como a presença de 25.000 garimpeiros, que também utilizam a fauna silvestre como fonte de proteína. Temos um problema ambiental, e um problema social e econômico para todas as pessoas que vivem em Roraima.

As soluções emergenciais de levar a comida a população Yanomani e uma medida extremamente necessária, essencial ante a tragédia que estão vivendo, e terá que ser feita através de Governo Federal por um tempo prolongado, de no mínimo de dois anos, porem temos que estudar em médio prazo e longo prazo ações de se criar mecanismos de auto sustentação, quer alimentar, com fontes de proteínas, carboidratos, vitaminas etc, proveniente das próprias comunidades, bem como a parte de controle de doenças, e fortalecimento da área educacional e da extensão rural para os povos originários.

A Ingestão Diária Recomendada (IDR) ou Referência de Ingestão Diária(RID) do inglês Reference Daily Intake (RDI) é o nível de ingestão diária de um nutriente que é considerado suficiente para atender as exigências de 97-98% de indivíduos saudáveis em todos os lugares dos Estados Unidos (onde foi desenvolvido, mas desde então tem sido utilizado em outros lugares). Quando se faz um quantitativo de uma dieta alimentar, para um adulto de 500 gramas/dia, sendo que 20 % de proteína, e multiplicando a população dos Ianomamis (25000) chegamos a uma necessidade de 2,5 toneladas de alimentos proteicos por dia, e 12,5 toneladas de alimentos, como tubérculos, grãos, frutas . Estas quantidades evidente teriam que ser estabelecidas de acordo com a população e quantidade de comunidades.

Sugiro a formação de uma equipe multidisciplinar, composta de pesquisadores brasileiros, radicados na Amazônia, integrantes do INPA, Instituto nacional de Pesquisas da Amazônia, que tem sede em Manaus, das Universidades Federais localizadas na Amazônia Brasileira, e do Museu Emilio Goeldi de Belém, e da Embrapa bem como envolver as ações de organismos do Governo do Estado de Roraima, IATER, Femarth e Secretaria da agricultura, para enfrentar a discussão de produção de alimentos nas comunidades Ianomâmi, respeitando a cultura e valores daquela população, e me ofereço para fazer parte desta comissão, sem ônus.

Sei da presença de servidores da Funai, em Boa Vista, que contemplam competência e vontade de desenvolver projetos voltados as comunidades de povos primitivos, como cito engenheiro agrônomo, Zootecnista e medico Veterinário, técnicos agrícolas e preferencialmente de origem de povos nativos, quer sejam de etnias oriundas de locais próximos.

As comunidades de povos originários Ianomâmi tem um problema serio de acesso, e acredito da possibilidade de fazer uma boa parte dos trabalhos no Surucucu, e de la levar as outras comunidades, fazer um centro de produção de mudas e materiais e animais para serem distribuídos a grande quantidade de comunidades existentes, já que há a possibilidade ter transporte por aeronaves de maior capacidade da FAB.

Plano de ação:

Na área de Proteína e criação de animais:
1- Criação de galinhas caipiras, onde se há a possibilidade de fornecimento de pintos de um dia em Boa Vista, já vão vacinados e levados para o Surucucu, para serem criados, ate que tenham um tamanho adaptado a serem distribuídos as comunidades isoladas. A Alimentação dessas aves delas depois de distribuídas serão criadas soltas, comendo insetos no solo, (fonte de proteína), cascas de mandioca, pasto, restos de frutas, como se cria aves em todas as localidades da agricultura familiar, evidente que e uma opção, porem em todas as vezes que eu estive nestas comunidades, não se vê galinhas. Da época do Governo Ottomar Pinto, ele forneceu pintos para algumas comunidades Ianomâmi, porem os índios comeram as aves quando tinham 15 dias, ou seja não conhecem a criação, dai o trabalho de extensão rural indígena. Soube posteriormente uma tentativa feita há pouco tempo no Auaris, também não houve êxito, teria que ter um acompanhamento de pessoas voltadas a extensão rural indígena.

2- Criação de Patos, A origem do pato remonta a América do Sul, onde ainda pode ser encontrado em estado selvagem. E uma ave originaria da América do Sul, tendo indivíduos em toda a Amazônia , Pela semelhança que há entre as várias aves aquáticas, muitas chegam a ser confundidas. A presença de carúnculas (verrugas avermelhadas) sobre o bico e em volta dos olhos ajuda na distinção dos patos, consideradas, entre as aves da espécie, uma das mais fáceis para ser criadas. A lida com os animais demanda orçamento baixo e pode ser realizada em local com pouco espaço. Sem necessidade de muita prática para iniciar a atividade, o produtor interessado no manejo de patos deve responder, ao menos, a uma exigência: contar com um ambiente aquático. Se o não tiver um lago, basta improvisar um pequeno tanque com água para que os animais possam se reproduzir e nadar de vez em quando.
De resto, dada a rusticidade da ave, que se adapta a qualquer tipo de clima, não é preciso muito investimento nem experiência para se tornar criador. Com materiais existentes no próprio local, pode-se construir, dentro de uma área de 20 metros quadrados, um abrigo usando palhas. Os ovos, ricos em proteínas, são considerados muito nutritivos e fortificantes, bons para quem tem anemia.

Valor nutricional em 100 g de carne de pato:
Calorias: 159 Kcal ;
Lipídios: 8,2 g;
Proteínas: 21,4 g;
Cálcio: 10 mg;
Sódio: 74 mg;
Ferro 2,3 mg;
Fósforo: 240 mg;
Potássio: 271 mg.

Valor nutricional em um ovo (144 g):
Calorias: 175 Kcal
Carboidratos: 1,2 g
Proteínas: 12,6 g
Vitamina A: 650 UI
Vitamina B12: 5,1 mcg
Vitamina B5: 1,8 mg
Vitamina E: 1,3 mg
Cálcio: 60 mg

No Estado do Para há o prato tradicional, conhecido como pato no tucupi, de origem da culinária de povos originários.

3- Criação de suínos, de pequeno porte, de raças rusticas de aptidão de carne e banha. Estes animais criados livremente, se alimentando de frutas como o buriti (Maurithia Flexuosa) muito presente inclusive na região do Parque Ianomâmi. O porco caruncho é de aptidão para banha. É uma raça tardia, cujo ponto de abate leva mais tempo que em outras raças, com aptidão para a produção de carne e banha. Para a conservação de carnes de porco, pernil ou outras partes do suíno frita e submerso em banha de porco, dentro de uma lata. Está pronto para o consumo. A técnica é muito antiga, da época em que não havia geladeira para conservar o alimento. a carne suína conservada na gordura é feita por meio de um processo secular no qual toda a água da carne é retirada na fritura. “A gordura é um conservante natural, desde que não haja água na carne”. Este processo conhecido como mixira, e tradicional no meio rural brasileiro.

4- Repovoamento dos rios e igarapés, e piscicultura, com peixes comuns da Amazônia e dos peixes antes existentes nos rios Uraricoera e Mucajai e seus afluentes. A ictiofauna amazônica é representada principalmente por peixes da ordem Characiformes, um dos maiores grupos de peixes de água doce que inclui as piabas, lambaris, pacus, piranhas, traíras e outras. Essa ordem representa cerca de 43% das espécies na Amazônia, com uma grande variedade de tamanhos, que vão desde miniaturas até espécies de grande porte. Entre as espécies destacam-se o matrinxã (Brycon amazonicus e B. cephalus), que apresenta grande importância como recurso alimentar e grande potencial para a piscicultura intensiva na bacia Amazônica; o tambaqui (Colossoma macropomum), uma espécie muito apreciada para o consumo humano e com grande importância econômica para a piscicultura como o jaraqui, o aracu, tambaqui e a curimbatá (gênero Prochilodus) que possui importância econômica tanto para a pesca quanto para a piscicultura. O processo de repovoamento inclui a liberação em um ecossistema aquático de alevinos (peixes recém-saídos do ovo), normalmente oriundos de sistemas de aquicultura (cativeiro) de espécies que estejam extintas, em processo de extinção, ou cuja população esteja comprometida. As técnicas são relativamente simples, utilizando peixes em cativeiro, e com o uso de hormônios que provocam a postura. Outro aspecto relevante é a recuperação, ou reabilitação, de habitats que aumentem a conectividade dos rios, disponibilizando passagens para que os peixes alcancem, por exemplo, lagoas marginais, onde desovam e se alimentam. “Da mesma forma, ações de manejo, como a regulamentação de aparelhos de pesca, o respeito à época de defeso e a delimitação de áreas de conservação permanente, devem ser implantadas em paralelo ao programa de repovoamento”. Evidente que no atual momento, que há a contaminação de mercúrio, tem que haver cuidados especiais para repovoamento e ou mesmo piscicultura na região Ianomâmi. A fonte de alimentos quando se fala em repovoamento, fala-se de plâncton, existentes na agua dos próprios rios, e quando se fala em piscicultura, fala-se da utilização de alimentos externos, que podem ser rações, frutas, ou mesmo restos de vegetais, de acordo com a dieta da espécie de peixes que esta sendo alvo. A topografia da região Ianomâmi, por ser de relevo ondulado, e a exploração aurífera e de outros minérios, se da em grotas, ou em normalmente acompanhando as áreas laterais de rios e igarapés, cujo material orgânico vem sendo carreado pela ação das chuvas, com isso trazendo nutrientes e microrganismos que da origem ao plâncton, e as depressões provocadas pelo garimpo viram lagos e lagoas artificiais, propicias a piscicultura. Uma das maneiras de repovoar um habitat marinho se dá pela disponibilidade no local de reprodutores, de ambos os sexos, da espécie em questão, cerca de 50 casais (número mínimo), que podem ser obtidos do ambiente natural, ou de cativeiro. Quando os indivíduos são obtidos do cativeiro, faz-se necessária uma avaliação para eliminar aqueles que têm proximidade genética.

“Aspectos ecológicos, genéticos, de biosseguridade, sociais e econômicos devem ser considerados em um programa de repovoamento. São essenciais as informações sobre a estatística pesqueira no local e a época de reprodução das espécies. Além disso, é preciso saber qual é a disponibilidade de alimento, quem são seus predadores e presas, quais os riscos e impactos prováveis do repovoamento, entre outras coisas”.

Evidente teríamos que fazer um trabalho de eliminação de elementos tóxicos, como o mercúrio, e pensamos na utilização de filtros biológicos, como por exemplo o aguapé.

A recuperação da fauna, e um trabalho a longo prazo, no mínimo 20 anos, pois dependera da existência de animais nas áreas, a sua reprodução, e diminuição da pressão da utilização desses animais para a alimentação, porem acredito ser possível, e vemos já em outros locais do Brasil a volta de animais, depois de um longo período de proteção de espécies, de proibição de caca por outras pessoas, e inclusive citamos espécies que eram consideradas extintas.

Cultivo de Plantas:

Os indígenas denominam de “roça” ao plantio da maniva (mandioca) e de outros
tubérculos como a macaxeira, o cará, a batata-doce, o tajá e outros. Quando o cultivo é diferente do anteriormente relacionado, eles fazem questão de relacionar, como exemplo “roça de milho”. Além de ser utilizado para consumo humano e geração de renda nas aldeias, o alimento é empregado na nutrição de animais, como galinhas, suínos e bovinos, cuja carne e leite são utilizados na dieta das famílias indígenas.

Devido a inexistência de maquinas, as roças são feitas nas áreas de floresta, através das praticas de broca, derruba e queima. Em um terreno acidentado, característico da região, as famílias trabalham comunitariamente na plantação de banana, milho, mandioca, inhame, macaxeira e podem se dedicar a criação de abelhas e peixes, bem como na elaboração do artesanato. Cada um desses elementos, além de subsistência da população, seus utensílios domésticos e de transformação dos alimentos, e uma possibilidade de renda, é símbolo do resgate cultural que os povos indígenas.

Normalmente são trabalhos comunitários, em que toda a forca de trabalho das
comunidades são envolvida. Nos Ianomâmis e esta situação tradicional, porem com a chegada de elementos externos, os garimpeiros, a realidade vai mudando, e a aproximação nociva para a cultura e tradição destes povos originários.

Como a própria natureza e as condições meteorológicas são fatores que determinam as épocas das operações da agricultura, quer do preparo do terreno, a broca, que significa a remoção do sub bosque, a derruba das árvores de maior porte, a coivara, que significa a ajuntamento da biomassa para favorecer a queima, e depois a queima propriamente dita, feita em condições em que ao vegetação esteja seca e propensa a queimar e deixar o terreno preparado para o plantio, logo no inicio das chuvas. Os nutrientes da floresta reciclam a vida da comunidade.

A região dos Ianomâmis tem um ciclo de chuvas diferenciado de Boa Vista, onde há diferenças significativas, Boa Vista chove em media 1800 mm anuais, orem a região Ianomâmis chove mais, porem desconheço por não haver postos ou estações meteorológicas no local, porem na pratica sabe-se que chove mais, e o período de seca e mais encurtado, quando comparado a região das savanas roraimenses.

A fertilidade natural dos solos e baixa, e este processo de queima, fazem com que os nutrientes que estão nas plantas retornem ao solo, e as comunidades exploram estas áreas e quando a produtividade diminui, abandonam a área, que se vai transformando em capoeira, num processo natural de recuperação e anos após, volta a serem uma área de floresta, evidente diferente da floresta original. E assim vão sobrevivendo e se alimentando continuamente, roça em um local, depois em outro assim diante, e quando o local regional não tem mais condições, migram para outras áreas, dai a expressão nômade.

Os cultivos tradicionais dos Ianomâmis, além do mais contemplam um processo de seleção natural de espécies cultivadas, que estão no patamar da biodiversidade amazônica, e a introdução de material de cultivo, também pode alterar a tradição e cultura, ou mesmo extinguir o material genético importantíssimo para fins científicos.

Estes cultivos, principalmente de mandioca e macaxeira, banana e outros cultivos depende de material propagativo, que tem grande volume, e difícil a conservação e o transporte, dai a ideia de fazer jardins clonais, em locais de fácil acesso ao cultivo, como no Surucucu, e a partir dai fazer a distribuição para as outras comunidades. A banana, através de cultivo de meristema pode ser feito em bio-fabricas e produzidos em grandes quantidades e transportadas em milhares de mudas em uma caixa de isopor, e colocadas em um saquinho com substrato no Surucucu. Outros materiais como sementes, podem ser levados e distribuídos diretamente, as quais cito arroz, feijão de corda (Vigna sinensis), milho, pimentas e condimentos , batata doce e inhame seriam também inscritas e cultivadas em jardim clonal.

Temos o receio de levar novas tecnologias de cultivo a destas comunidades Ianomâmis, com risco de desvirtuar e de alterar a sua cultura e tradição , e como não sou o dono da verdade, e nem um especialista, sou um simples agrônomo com experiência de 45 anos na região, e diante disto peco a possibilidade de se criar uma comissão de especialistas, tanto na área técnica, pesquisadores e extensionistas como na área de ciências humanas, formada por antropólogos e sertanistas.

Gostaríamos de propor a criação de um grupo encarregado de transmitir a tecnologia aos Ianomâmis, ou seja um serviço de extensão rural indígena, formado por indivíduos de povos originários, que já conhecem a cultura, sabem falar a língua dos Ianomâmis, e tem condições de fazer o serviço de campo, sendo muito mais aceitos que pessoas de outras origens.

Foz do Iguaçu, 4 de fevereiro de 2023
Luiz Claudio Santos Estrella
Engenheiro Agrônomo
Auditor Fiscal Federal Agropecuario
CREA 348/D AM RR

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