Descendo o Rio Branco

Deslocamento para o Porto do Destacamento (23.08.2019)

Moura / Base Carabinani
(23 a 24.08.2019)

23.08.2019 (Dst de Moura / Base Carabinani)

Acordei às 04h30, aprontei o Argo I e dirigi-me para o Porto do Destacamento. Neste ínterim, apareceu o Sargento Abegg e logo em seguida a Sgt Paula, mais dois queridos amigos com quem tivemos o privilégio de conhecer nestas infindas jornadas amazônicas.

Deslocamento para o Porto do Destacamento (23.08.2019)

O 2° Sgt Inf Maicon Abegg da Silva fotografou a ceia de despedida e minha partida e enviou-me as fotos que aqui reproduzo.

Até às 10h00, jornada tranquila, uma diáfana camadas de nuvens e uma brisa suave e fresca ameni­zavam a temperatura. Fui costeando a margem direita, A cheia mudara radicalmente a geografia deste enorme Dédalo ([1]) fluvial dificultando extremamente a orienta­ção visual pelos mapas que só foi amenizada graças à cuidadosa locação, que eu havia feito neles, de pontos de controle e que agora conferia cuidadosamente atra­vés do GPS.

Porto do Destacamento (23.08.2019)

Comentara, em 13.01.2010, quando descera pela primeira vez o Rio Negro desde São Gabriel da Cachoeira até Manaus:

Partimos às 06h28. Continuei seguindo a rota da Companhia de Embarcações do Comando Militar da Amazônia (CECMA). A opção pela margem esquerda, além da velocidade, evitava o intrincado labirinto formado pelas diversas ilhas frontais à Foz do Jau que dificultaria, em muito, a orientação, tendo em vista que a fotografia aérea disponível era do período de secas.

Porto do Destacamento (23.08.2019)

Durante a viagem um ou outro curioso boto vermelho acompanhava-nos, por breves momentos. Nos últimos quilômetros, porém, eram mais de cinco escol­tando o caiaque de perto e se esmerando nas evoluções até nos aproximarmos da Base Carabinani. Era a segunda vez que aportava na Base Carabinani graças ao apoio incondicional do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), a primeira foi no período de 03 a 07.11.2016, quando vim documentar os petróglifos do Jau.

Encontrei o velho amigo Jakson Magalhães Valen­te, que liberou gentilmente um dos quartos do conjunto principal para me instalar. Os paulistas Amanda Ribeiro e Fábio Ramos (de São Paulo) e Ana Paula Leme e Matheus Oliveira Santos (de Ribeirão preto) estavam na Base e ofereci meu caiaque para quem quisesse navegar, mas nenhum aceitou a oferta.

Infelizmente eles tinham escolhido um período ruim para incursionar no Jau, os petróglifos estavam submerso e a beleza natural das demais formações e rochosas e praias também. Fui brindado com um saboroso jantar e fui deitar cedo.

Porto do Destacamento (23.08.2019)

Total 9° Dia ‒ Moura / Base Carabinani    =   61,0 km
Total Geral ‒ P. Macuxis / Dst de Moura   = 622,0 km

Base Carabinani (23.08.2019)

24.08.2019 (Base Carabinani)

Acordei às 05h00, para observar e fotografar o magnífico alvorecer na Boca do Jau até o Astro Rei surgir no horizonte. Parti, às 08h00, com o Sr. Geraldo Lima para um giro pelas comunidades de N. Airão. O interessante tour permitiu-me tomar contato com o crítico estado em que se encontram nossos povos ribeirinhos principalmente no que se refere à falta de investimentos nas áreas da educação e saúde. Contatamos líderes comunitários, professores e a sofrida e desassistida população local. Assistimos, em uma das comunidades jogos de futebol em que a participação feminina foi fundamental. Um fato, em particular, me incomodou nesta jornada e é objeto de crítica de todos ribeirinhos, a Marinha do Brasil possui uma extensa área na margem do Rio desde Airão Velho, justamente nas terras firmes que poderiam abrigar todas as comunidades da área que não ficariam mais sujeitas às constantes inunda­ções. Lembro-me de quando se projetou a transama­zônica e se previu a construção de agrovilas com uma infraestrutura mínima para dar suporte à população ali instalada – escolinha, posto de saúde, serraria e comércio.

Acho que os Governos Federal e Estadual deveri­am analisar os melhores locais de assentamento de maneira que cada nova Comarca instalada nessas áreas atendesse às comunidades mais próximas. O projeto deveria prever porto flutuante, escola com alojamento para professores, posto de saúde, com alojamento para toda a equipe, técnico agrícola para orientar os novos moradores a tirar o melhor proveito de suas glebas, wi-fi livre na escolinha e arredores, tratamento de efluentes…

Amanhã partiremos cedo com destino a Manaus. Vou tentar cumprir a meta em quatro dias. O apoio dos amigos Geraldo Lima e Jakson Magalhães Valente da Base Carabinani foi fundamental para que pudéssemos recuperar as forças e conhecer a triste realidade deste povo dos “ermos dos sem fim”.

Renascimento III
(Jayme Caetano Braun)

[…] Mas não mataram a crença,
Nos meus ancestrais vaqueanos,
Após quatrocentos anos
Venho apelar da sentença;
Trago sinais de nascença
Dos quais meu sangue destampa
E ‒ neste holocausto pampa,
Bem mais gaúcho renasço,
Para alargar meu espaço
Num grito de terra e guampa!
 
Sonhos que sempre sonhei,
Revivem quando murmuro,
Na bendição do futuro,
Do chão que não reneguei;
Cantos que sempre cantei
Vão afinando a garganta
E eu sinto que se levanta,
Um taquaral na paisagem,
Multiplicando a mensagem
De cada livre que canta!

Cercanias da Base Carabinani (23.08.2019)

Por Hiram Reis e Silva (*), Bagé, 13.02.2023 – um Canoeiro eternamente em busca da Terceira Margem.   

(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;  

  1. Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)
  2. Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);
  3. Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
  4. Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);
  5. Ex-Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)
  6. Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
  7. Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
  8. Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);
  9. Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)
  10. Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
  11. Comendador da Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)
  12. Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).
  13. Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
  14. E-mail: [email protected].

[1]   Dédalo: arquiteto e inventor, personagem da mitologia grega, cuja obra mais conhecida foi o labirinto que construiu para o Rei Minos. (Hiram Reis)

Nota – A equipe do EcoAmazônia esclarece que o conteúdo e as opiniões expressas nas postagens são de responsabilidade do (s) autor (es) e não refletem, necessariamente, a opinião deste ‘site”, são postados em respeito a pluralidade de ideias