Descendo o Rio Branco
S. M. do Boiaçu – Moura (20 a 21.08.2019) – Parte II
21.08.2019 (AC 05 / Destacamento de Moura)
Tinha colocado o despertador para às 05h00, mas, por força do hábito, iniciei a arrumação das tralhas bem antes disso. De repente ouvi uns passos dentro d’água, apaguei a luz e observei uma lanterna a uns 50 m de distância. Cumprimentei o estranho que se aproximava e a resposta veio de imediato. Era o Sr. Felício, dono do sítio onde eu acampara. Continuei a arrumação enquanto conversávamos e por estas amazônicas coincidências o Sr. Felício também conhecia o Sr. Nakayama do Airão Velho, que tão gentilmente nos acolhera nos dias 13 e 14.01.2010. O Felício era um velho pescador cuja família morava em Moura e para tornar possível que os filhos frequentassem a escola só aos fins de semana é que a família visitava o sítio.
Parti, por volta das 06h00, num ritmo tranquilo, o acesso ao Destacamento de Apoio da COMARA ficava a apenas 19 km, não havia pressa, o Rio Negro escorria lenta e preguiçosamente invadindo as várzeas circundantes. Aportei na praia do Destacamento, às 08h20, a velocidade média de deslocamento foi de 8,1 km/h. Retirei o carrinho do convés e, dentro d’água, fixei-o no casco do caiaque transportando-o, lentamente, pela estrada de 700 m até o Hotel de Trânsito (HT). A caminho enviei uma mensagem ao 1° Sargento Vaz, Chefe do Destacamento, informando minha chegada.
Chegamos juntos ao HT, o 1° Sgt Vaz estava acompanhado do 1° Sgt Especialista em Enfermagem Huascar ([1]) Henrique Nunes do Nascimento, do Hospital da Aeronáutica de Belém que, imediatamente, aferiu a minha pressão arterial, temperatura, pulso e frequência respiratória e constatou que todos os sinais vitais estavam normais. A suíte, com ar condicionado, era ampla e confortável, arrumei as tralhas, limpei o Argo I, coloquei o material de acampamento no varal para arejar e as roupas para lavar na máquina de lavar.
Mais tarde, no rancho, onde foi servido um almoço da mais alta qualidade, fui apresentado ao 1° Sgt Ivaldo e Sd Casemiro, ambos da COMARA 7, Belém, PA, ao 2° Sgt Halan da Ala 9, Belém, PA, e ao SGT Abegg e Paula, do 3° Batalhão de Infantaria de Selva (3° BIS), de Barcelos em inspeção de rotina, a Seção a que eles pertencem está subordinada ao Serviço de Fiscalização de Produtos Controlados ([2]) da 12ª RM (SFPC/12).
Total 8° Dia ‒ AC 05 / Dst de Moura = 19,0 km
Total Geral ‒ P. Macuxis / Dst de Moura = 561,0 km
Ocorrência Policial
À tarde fui com o Sgt Abegg até o Porto de Moura onde militares do 3° BIS tinham aportado para se deslocar até o Rio Unini prestar apoio logístico à uma Operação da Polícia Federal, Civil e Militar que prenderam em flagrante, na tarde de 20.08.2019, por volta das 17h, o venezuelano Francisco Gonzalez Moreno após este ter realizado um pouso forçado de um hidroavião que ele pilotava, sem habilitação, no Rio Unini há pouco mais de 30 km ao Sul de Moura.
Com ele, foram apreendidas armas de fogo e munições além de um rádio comunicador. O meliante tinha partido de Manaus com destino a Barcelos, para buscar uma carga de drogas. Depois do jantar me retirei para o HT, a noite foi tranquila e confortável em Moura, AM.
22.08.2019 (Destacamento de Moura)
Acordei, às 05h00, e depois do banho fiquei indo e voltando da Casa de Apoio até a Sala de Jogos em que está instalado o Wi-fi, aonde deixei baixando os livros “Descendo o Solimões” e “Descendo o Negro” para o WhatsApp do Sargento Abegg. Ele tinha comentado que, há algum tempo, se apresentaram três indivíduos no 3° BIS, em Barcelos, se identificando como Tatunca Nara e resolvi, então, encaminhar-lhe, em especial, o capítulo “Uma Fraude Chamada Tatunca Nara” do volume II do Rio Negro. Neste capítulo apresentei uma foto do Tatunca onde aparece a tatuagem de uma tartaruga no seu peito esquerdo e reporto, também, a sua real data de nascimento, em 05.10.1941, em Coburg ‒ Alemanha. Caminhei até às 07h00, antes de ir para o rancho para tomar café.
Almocei em Moura com os Sargentos Abegg e a Paula na casa de um familiar dos militares do Destacamento. O SGT Vaz e companhia articularam uma ceia de despedida. Deixei o caiaque pronto para a partida, e desfrutei da companhia destes novos amigos. O carinho e o respeito de todos os profissionais da COMARA ficarão eternamente gravados na minha memória. Obrigado, mais uma vez, que o Grande Arquiteto do universo vos abençoe, ilumine e guarde.
Por Hiram Reis e Silva (*), Bagé, 10.02.2023 – um Canoeiro eternamente em busca da Terceira Margem.
(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;
- Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)
- Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);
- Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
- Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);
- Ex-Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)
- Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
- Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
- Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);
- Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)
- Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
- Comendador da Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)
- Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).
- Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
- E-mail: [email protected].
[1] Huáscar [nome pelo qual foi conhecido na História do Peru] ou Tupac Cusi Huallpa [O Sol traz felicidade] foi o 12° Sapa Inca do Tahuantinsuyo. Foi um dos filhos de Huayna Capac com sua meia-irmã Rahua Ocllo. Alguns autores como Lewis Spence acreditam que era a vontade de Huayna Capac que o reino fosse dividido entre seus dois filhos Huáscar e Atahualpa após sua morte, já que seu primeiro filho Ninan Cuyochi morrera de varíola. Já Outros como María Rostworowski avaliavam que a ausência de uma lei sobre a herança do poder, agravado pelo fato de que vários membros de um grupo de parentes do Inca falecido podiam aspirar ao poder e gozavam de direitos e prerrogativas iguais levavam as frequentes lutas fratricidas. (pt.wikipedia.org/)
[2] Armas, munições, explosivos, produtos químicos agressivos e matérias primas correlatas. (Hiram Reis)
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