Nova edição do podcast Prato do Dia entrevista indigenista que relata dificuldades extremas vivenciadas por indígenas, que incluem desnutrição, contaminação por mercúrio, aumento dos casos de doença e violência fomentada por garimpeiros. “Esse cenário era inimaginável até poucos anos atrás”, diz Corrado Dalmonego.

Os últimos quatro anos foram especialmente difíceis para os indígenas no Brasil. Além da paralisação dos processos de demarcação e homologação, muitos sofreram com problemas de atendimento médico durante a pandemia e se viram na mira da cobiça de garimpeiros e desmatadores, que geraram uma explosão de violência em suas terras. Dentre os inúmeros povos afetados estão os yanomami, que vivem nos estados de Roraima e do Amazonas. Só em seu território, houve um crescimento de 46% de atividades de garimpo ilegal entre 2020 2 2021, e vídeos que registraram os ataques aos indígenas por parte de garimpeiros suscitaram clamor internacional.

O ano de 2022 marcou também o aniversário de 30 anos de criação da Terra Indígena yanomami, que foi fruto de uma longa e intensa campanha por parte dos indígenas e seus apoiadores durante as décadas de 1970 e 1980. Para conversar sobre  os desafios passados, presentes e futuros dos yanomami, o Prato do Dia conversou com o indigenista e missionário Corrado Dalmonego, que há 14 anos acompanha e convive com o grupo.

Corrado relata que a atuação dos ilegais na terra indígena está sendo caracterizada como um narcogarimpo pois inclui, além da extração ilegal de outro, também o tráfico de armas e de drogas, e está relacionado a organizações criminosas que vêm de outras partes do país. A presença de milhares de garimpeiros têm resultado na ocorrência de estupros, ataques e distribuição de drogas e de álcool. Estudos da Fiocruz feitos na área revelaram altos níveis de mercúrio, metal usado na extração do ouro, contaminando águas e animais, e já há efeitos neurológicos na população que consome estas águas e animais. Por outro lado, o medo da violência dos garimpeiros resultou na diminuição da visita dos profissionais médicos às aldeias e levou à desativação de postos de saúde destinados a atender à população, piorando ainda mais a estrutura de saúde. Isso tem se revertido num salto no número de casos de malária e na proliferação da desnutrição. “Essa situação gravíssima era inimaginável alguns anos atrás. Essas patologias foram trazidas de fora”, conta Dalmonego.

Na conversa, o indigenista também aborda a perspectiva do povo indígena sobre a nossa sociedade. Eles enxergam a luta pelo direito à terra e a conservação da natureza como uma única bandeira, e dizem que buscam preservar a floresta não apenas para a própria sobrevivência, mas a de toda a humanidade.   E mesmo após séculos de contato, eles ainda se espantam com o valor que nós damos a mercadorias e a quantidade de tempo e esforço que dedicamos a acumular objetos. “Os yanomami procuram acumular relações, seja com pessoas ou espíritos.  O único ‘banco’ que eles têm é esse que acumula relações”, diz.

Para ouvir a íntegra da conversa, clique abaixo.

PUBLICADO POR: JORNAL DA UNESPJornal da Unesp | Três décadas após criação de terra indígena, os yanomami vivem seu momento mais difícil   

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