Estudo mostra que 71% de 521 espécies de primatas que se encontram em áreas habitadas por povos tradicionais, correm menos risco de extinção, 55% contra 90% em outras áreas

O Ambiente é o Meio desta semana conversa com o ecólogo Ricardo Dobrovolski, pesquisador e professor do Instituto de Biologia da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Especialista em Macroecologia, Biogeografia, Ecologia de Paisagem e Biologia da Conservação, Dobrovolski fala sobre a extinção e preservação de primatas.

De acordo com um trabalho realizado por um grupo internacional de pesquisadores, do qual Dobrovolski fez parte, as populações de macacos, símios e lêmures encontradas em áreas habitadas por povos tradicionais correm menos risco de extinção. Nesse estudo, os pesquisadores fizeram uma ampla revisão bibliográfica sobre a distribuição de primatas não humanos pelo planeta. “A gente está fazendo análise em escala de continente, em escala global. Logicamente, um pesquisador não tem condições de levantar sozinho os dados para uma região ampla como essa. Então, nessa abordagem, geralmente, utilizamos dados secundários, ou seja, dados que tenham sido desenvolvidos pela comunidade científica como um todo”, conta Dobrovolski.

Desta forma, continua o entrevistado, buscaram entender as principais ameaças a macacos, símios e lêmures, relacionando a situação desses primatas com as terras indígenas do mundo e as formas alternativas de desenvolvimento que os povos tradicionais conseguiram manter. Segundo o estudo, 30% da área de distribuição de primatas está dentro de terras indígenas e 71% de suas 521 espécies podem ser encontradas nesses territórios. “Quando essas espécies, de alguma maneira, estão relacionadas, são próximas, se sobrepõem com essas áreas indígenas, a proporção de ameaça cai para cerca de 55%. Quando a gente pega só aquelas espécies que não têm sobreposição com as áreas indígenas, essa proporção é de 90%.”

Segundo Dobrovolski, esses dados indicam que, nos locais onde os povos tradicionais conseguiram manter sua cultura, as populações de primatas estão mais protegidas. “Diversas fontes, diversos tipos de dados têm nos mostrado o papel-chave das áreas indígenas nesse processo, ou seja, todos se beneficiam, não apenas os primatas não humanos”, conclui Dobrovolski.

Ambiente é o Meio – Ambiente é o Meio #66: Preservação de primatas é maior em terras indígenas – Jornal da USP 
Produção e Apresentação: Professores Marcelo Marini Pereira de Souza e José Marcelino de Resende Pinto, ambos professores da FFCLRP
Coprodução e Edição: Rádio USP Ribeirão

Relacionadas: