Descendo o Rio Branco

Imprensa e Antropólogos à Soldo do “Thin Brothers” – Parte II

Centro Ecumênico de
Documentação e Informação (CEDI)

Povos Indígenas no Brasil/83
Sagarana Editora Ltdª
São Paulo, SP – 1983
MAREWA Debate Ataque aos Índios 

Hoje à noite, a partir das 19 horas, no auditório da Faculdade de Estudos Sociais, os problemas causa­dos pela civilização branca aos índios Waimiri-Atroari serão debatidos, em palestra que será proferida pelo antropólogo e escritor Porfírio Carvalho, autor do livro “Waimiri-Atroari, uma história que ainda não foi contada”.

A palestra de Porfírio Carvalho, que é promovida pelo Diretório Universitário e Centro Acadêmico de Administração, vai abrir o Movimento de Apoio à Resistência Waimiri-Atroari, no qual se pretende uma ampla discussão em torno desses índios, que em 1905 eram cerca de seis mil indivíduos ([1]), e hoje estão reduzidos a pouco mais de 500 pessoas.

O Movimento de Apoio à Resistência Waimiri-Atroari tem por principal objetivo não permitir que estes pouco mais de 500 indivíduos sejam dizimados pela civilização como foram todos os demais. Este movi­mento nasceu na Assembleia Regional do CIMI/Norte I, realizada em Borba, em janeiro deste ano. Para articular o movimento foi escolhida por Dom Jorge Marskell Bispo de Itacoatiara, com o aval da Assembleia, uma equipe composta das seguintes pessoas: Ezequias Heringer, Ana Lange, Emanuelle Amódio, Doroti A. Muller e Egydio Schwade. (A Crítica, 13.06.83)

Faltam Verbas Para Balbina 

As obras da hidrelétrica de Balbina, que têm por finalidade substituir a queima diária de mais de cinco mil barris de petróleo na geração de energia elétrica, para abastecimento de Manaus, estão ameaçadas de serem paralisadas este ano por falta de recursos, segundo informaram, ontem, técnicos do setor ener­gético. A causa da falta de recursos, disseram, é política e visa atingir diretamente o Governador do Amazonas, Gilberto Mestrinho. Os mesmos técnicos informaram que a SEPLAN está querendo cortar os Investimentos previstos para Balbina este ano, apesar dos esforços da Eletronorte e do próprio ministro das Minas e Energia, César Cals para que as obras sejam tocadas mesmo em ritmo mais lento.

Os custos globais da hidrelétrica estão previstos em US$ 750 milhões, dos quais, segundo os técnicos, já foram investidos 30% e as obras ainda estão em fase de fundação. A capacidade geradora da usina é de 250 megawatts, devendo custar cada megawatt US$ 3 mil. É a hidrelétrica mais cara em termos de Custo de megawatt, por causa de sua localização e da inexistência de queda d’água na região.

Mesmo assim, todos os técnicos do setor energético consideram que Balbina deve ser uma obra prioritá­ria, tendo em vista que em 1985 já representaria uma economia de divisas para o País, em compra de petróleo, da ordem de US$ 728 milhões. A entrada em operação de Balbina, contudo, está prevista so­mente para 1986 e, assim mesmo, considerando que as suas obras serão tocadas normalmente este ano. Embora a Eletronorte e a Eletrobrás não confirmem oficialmente, técnicos do setor energético já falam na entrada em funcionamento de Balbina em 1989. A Eletronorte chegou a anunciar, no início deste ano, que Balbina seria uma de suas obras prioritárias, não tendo, porém, revelado o valor dos investimentos nas obras este ano. (ESP, 05.06.83)

Sertanista Indiciado 

O sertanista Porfirio Carvalho, assessor do deputado Mário Juruna (PDT-RJ), está sendo indiciado em IPM por ter divulgado um documento sigiloso do Exército. O documento traz a assinatura do General Gentil Nogueira Paes, ex-comandante do 2° Grupamento de Engenharia e Construção, sediado em Manaus. A abertura do inquérito, segundo o sertanista, partiu do próprio Ministro do Exército, para apurar as responsabilidades sobre a divulgação do documento endereçado ao 6° Batalhão de Engenharia de Cons­trução, responsável pela construção da estrada BR-174, que liga Manaus a Caracaraí (RR). Porfírio em seu depoimento afirmou desconhecer o caráter sigiloso do documento que lhe foi entregue pelo sertanista Gilberto Pinto, morto durante um ataque dos Waimiri-Atroari, em dezembro de 74 ([2]).

O sertanista lembrou ainda que o ofício foi divulgado no 4° Tribunal Bertrand Russel, em 1980. O documento traz instruções de comportamento para os soldados responsáveis ([3]) pela construção da estrada que cortou a reserva indígena dos Waimiri-Atroari:

Esse comando, caso haja visitas dos índios, realize pequenas demonstrações de força, mostrando aos mesmos o efeito de uma rajada de metralhadora, de granadas defensivas e da destruição pelo uso de dinamite. (FSP 13.08.83)  

Iniciada Campanha de Vacinação 

Encerrou no último dia 2, a primeira etapa da cam­panha de vacinação contra a poliomielite (paralisia infantil), difteria, tétano e coqueluche na reserva dos índios Waimiri-Atroari, sob a jurisdição da delegacia regional da FUNAI, com sede em Manaus. A informa­ção foi prestada ontem pelo coordenador da campa­nha, médico Carlos Alberto Ferreira, da 15ª Divisão de Serviços de Equipe Volante de Saúde, responsável pela vacinação das crianças indígenas. O médico declarou que foram vacinadas quase 200 crianças, sendo que o Exército através do seu serviço de saúde vacinou outra parte da população em idade de ser imunizada contra a poliomielite. A imunização da difteria, tétano e coqueluche foi feita através da vacina tríplice. O médico Carlos Ferreira fez questão de frisar que a campanha foi coroada de êxito, embora sua equipe tenha esbarrado em algumas dificuldades apresentadas pela própria condição peculiar daquela região. (O Comércio, 06.09.83)

Escola Maloca Para os Waimiri-Atroari 

O comandante da Vila Militar do Rio de Janeiro, Gen Euclydes Figueiredo, chegou a Manaus. O excomandante do Comando Militar da Amazônia vai inaugurar hoje na BR174, na Reserva Indígena WaimiriAtroari, uma Escola Maloca, que receberá em homenagem ao seu pai o nome de Centro Educacional Gen Euclydes de Oliveira Figueiredo. Segundo informou à EBN o Delegado Regional da FUNAI, Kasuto Kawamoto, a escola-maloca construí­da com recursos da Empresa Paranapanema e Mine­ração Taboca vem atender ao pleito dos índios daquela localidade e “cumprir o que determina a lei 6.001, do Estatuto do Índio, no que diz respeito à cultura indígena, preservação dos seus valores e meios de expressão”. Depois da inauguração da escola, o Gen Euclydes acompanhado de Kasuto e do Superintendente da Paranapanema, Junichi Tomita, farão visita à mina do Pitinga, uma das maiores reservas da exploração de cassiterita do país. (Jornal da Manhã, 06.01.83)

Por Hiram Reis e Silva (*), Bagé, 21.12.2022 – um Canoeiro eternamente em busca da Terceira Margem.

Bibliografia   

CEDI, Centro Ecumênico de Documentação e Informação. Povos Indígenas no Brasil/83 – Brasil – São Paulo, SP – Sagarana Editora Ltdª, 1983.

(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;  

  • Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)
  • Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);
  • Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
  • Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);
  • Ex-Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)
  • Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
  • Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
  • Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);
  • Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)
  • Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
  • Comendador da Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)

[1]   Um dado puramente ficcional, sem nenhum embasamento científico. (Hiram Reis)

[2]   A velha técnica, como confirmar quem lhe repassou este documento se a testemunha está morta? Certamente foi ele que o repassou ao 4° Tribunal Bertrand Russel. (Hiram Reis)

[3]   No Tomo V, desta coletânea, reproduzimos na íntegra as Ordens do Gen Gentil, Cmt do 2° GECnst, ao Cmt do 6° BEC, em 21.11.1974. Medidas preventivas necessárias em virtudes dos massacres promovidos pelos WA. Dia 01.10.1974, ataque ao Posto Alalaú II, dia 18.11.1974, ataque à turma de desmatamento no dia 18.11.1974. (Hiram Reis)

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