Descendo o Rio Branco

Ponte do Tarumã-açu, BR-174

Aportando em Boa Vista
Parte II

Mensalmente tínhamos um período de areja­mento (dispensa) de seis dias. Durante um desses are­jamentos em que eu permanecera de plantão na Com­panhia, com um efetivo mínimo à minha disposição, recebi, por volta das 23h00, um telefonema ([1]) do Coronel Ornélio da Costa Machado (Cmt do 6° BEC), que assumira o comando recentemente. O Cel Machado fora informado, pelo Gen Orlando Morgado (Cmt do 2° GPT E), das preocupantes condições de tráfego da ponte de madeira do Tarumã-açu. O problema era anti­go e de nosso conhecimento, um dos cavaletes vinha cedendo pouco a pouco e estávamos programando colocar mais um chapéu de cavalete sobre o original para resolver o problema que não era absolutamente emergencial. Parti para a mineração Taboca, que tinha uma excelente equipe de pontes à disposição, aonde cheguei por volta da uma da manhã.

Pedi para acordar o Dr. Zan e lhe expus o problema e a solução. O Dr. Zan me garantiu que logo que clareasse o dia enviaria uma equipe ao local para solucionar o problema. Considerando a 1ª Fase da Operação Tarumã-açu concluída, parti para a solução definitiva.

Ao lado da ponte de madeira já tínhamos construído uma ponte de concreto que não estava sendo usada por falta de recursos para a construção do aterro de acesso até ela. A Hidrelétrica de Balbina se encontrava em pleno período de concretagem com diversos caminhões usando a ponte do Tarumã-açu. Às 06h00, meu motorista estacionou ao lado do refeitório da Eletronorte onde me encontrei com seus engenhei­ros e lhes expus o problema e a solução que foi ime­diatamente acatada. Voltei para a Companhia com intenção de um breve descanso, mas, ao chegar ao entroncamento da AM-240 (Estrada de Balbina) com a BR-174 (km 103), encontrei o Sargento Okamura, Cmt do 1° Pelotão, que, aflito, me informou que o Cel Machado estaria pousando ao meio-dia em Manaus para verificar o estado da ponte. Imediatamente eu e o Sd Hélio, meu motorista, nos dirigimos ao Aeroporto Internacional de Manaus – Eduardo Gomes.

Recebi meu Comandante, no aeroporto, e tran­quilizei-o informando que todas as providências relati­vas à ponte já tinham sido devidamente tomadas. Um tanto apreensivo o Cel Machado só começou a descon­trair quando ao chegar à ponte do Tarumã-açu verificou que esta já estava sendo liberada ao tráfego depois de recuperada pela equipe de pontes da Mineração Taboca com a superposição de um chapéu de cavalete ao anterior, sob a fiscalização atenta do Sgt Okamura.

Encerrava-se, então, a 1ª Fase da Operação Tarumã-açu ou solução temporária. Logo depois de passarmos pelo entroncamento e entrarmos na AM-240 com destino à Balbina para conversarmos com o pessoal da Eletronorte cruzamos com um enorme aparato formado por um comboio de lubrificação (melosa), tratores, moto-niveladoras, moto scrapers, pranchas carregando compactadores…

Foi só então que expliquei ao comandante que esta era 2ª Fase da Operação Tarumã-açu ou solução definitiva. O comandante franziu a testa e resolvi, então, abrir o jogo. Na minha explanação aos enge­nheiros da Eletronorte, extremamente preocupados com a fase de concretagem de Balbina, disse-lhes que provavelmente teríamos de interromper temporaria­mente o tráfego na BR-174 em virtude das precárias condições da ponte. O caos instalara-se no refeitório e eles pergun­taram angustiados qual seria a alternativa e eu disse que seria a construção do aterro de acesso à ponte de concreto. Simples assim.

Em Balbina, o Cel Machado agradeceu, visivel­mente emocionado ao pessoal da Eletronorte, e volta­mos para a BR-174, para que ele fosse até o acampa­mento da mineração Taboca agradecer pessoalmente ao Dr. Zan. Depois disso, na ponte do Alalaú, meu caro comandante embarcou na sua viatura pilotada pelo Cabo Júnior e voltou para Boa Vista. Mais um dia típico de um jovem trecheiro.

Minha jovem família, a esposa Neiva com 27 anos, minha primogênita com um ano e meio e a filha n° 2 com três meses, tiveram nesse período um pai muito ausente em função do trabalho. Mas cada uma delas superou esta faze com galhardia invulgar.

Sempre que possível, ao inspecionar as ativida­des do 2° Pelotão, do Abonari para o Norte, e retornar no mesmo dia, levava-as comigo para visitar o canteiro de trabalho, as aldeias indígenas e o acampamento da Mineração Taboca onde eram muito bem recebidas.

O Número 666

Apocalipse 13:18
(Bíblia Sagrada)

Aquele que tem entendimento, calcule o número da besta; porque é o número de um homem, e o seu número é seiscentos e sessenta e seis.

Parti para esta Descida com uma preocupação adicional em virtude da numerologia. Há 36 anos eu estivera por estas plagas, ou seja, 6+6+6 no século passado e 6+6+6 deste século ‒ nefasta numerologia. Acho, porém, que o fracasso da missão em função de minhas condições físicas, lesão no manguito rotador ([2]), ocorreu em virtude da numerologia sim, mas de outro número tão ou mais funesto do que o 666 ‒ o número 13, adotado pelo facinoroso PT. Na conclusão da Descida dos Rios Tacutu/Branco/Negro eu teria na­vegado mais de 13.000 km pelos amazônicos caudais.

O Número 13

Ester 3:13
(Bíblia Sagrada)

E enviaram-se as cartas por intermédio dos correios a todas as províncias do rei, para que destruíssem, matassem, e fizessem perecer a todos os judeus, desde o jovem até ao velho, crianças e mulheres, em um mesmo dia, a treze do duodécimo mês [que é o mês de Adar], e que saqueassem os seus bens.

O capítulo 13, do versículo 1 ao 18, do livro do Apocalipse faz referência ao anticristo, à besta e aos seus fiéis seguidores que passaram a ostentar na testa ou na mão direita a sua marca, pois do contrário seriam impedidos de “comprar ou de vender”.

Apocalipse 13:1
(Bíblia Sagrada)

Vi uma besta que saía do mar. Tinha dez chifres
e sete cabeças, com dez coroas, uma sobre cada chifre,
e em cada cabeça um nome de blasfêmia.

Gênesis 14:4
(Bíblia Sagrada)

Doze anos haviam servido a Quedorlaomer,
mas ao décimo terceiro ano rebelaramse.

Na Última Ceia estavam presentes 13 indivíduos ‒ Jesus Cristo e os seus 12 apóstolos. Nessa oportu­nidade, Cristo foi traído por Judas Iscariotes.

1307  –  No dia 13.10.1307, o rei da França, Filipe IV, considerou ilegal a ordem dos Cavaleiros Tem­plários e decretou que os membros da ordem deveriam ser perseguidos, presos, torturados e mortos;

1647  –  No dia 13.05.1647, um forte terremoto destrói Santiago do Chile;

1692  –  No dia 13.02.1692, quase 80 integrantes do Clã Macdonald, em Glen Coe, na Escócia, são mortos no início da manhã por não jurarem fidelidade ao novo rei, Guilherme de Orange;

1915  –  No dia 13.01.1915, um terremoto destrói por completo a cidade de Avezzano, na Itália, pro­vocando a morte de quase 30 mil pessoas;

1919  –  No dia 13.04.1919, o exército britânico, destrói uma cidade sagrada da Índia e executa pessoas que protestavam contra as novas leis impostas pelo império;

1926  –  No dia 13.08.1926, nasceu, em Havana, Cuba, o revolucionário Fidel Alejandro Castro Ruz;

1935  –  No dia 13.08.1935, o rompimento da represa de Orada, ao Norte de Gênova, deixa centenas de mortos;

1972  –  No dia 13.10.1972, acontece um acidente aéreo na Cordilheira dos Andes com um avião uruguaio em que viajavam 45 pessoas, a maioria mem­bros de uma equipe de rúgbi;

1982  –  No dia 13.12.1982, um terremoto no Iêmen, resulta em 3 mil mortos e 2 mil feridos;

1985  –  No dia 13.11.1985, a erupção do vulcão Nevada Del Ruiz, na Colômbia, causa a morte de mais de 20 mil pessoas;

1992  –  No dia 13.03.1992, um terremoto na Turquia, deixa 570 mortos;

1994  –  No dia 13.01.1994, o calor e a seca provocam o maior incêndio na Austrália dos últimos 200 anos;

1994  –  No dia 13.11.1994, onze alpinistas, morrem ao cair de uma encosta do Himalaia, no Nepal;

1997  –  No dia 13.03.1997, um avião militar se choca contra uma montanha no Irã, matando 88 pes­soas;

2001  –  No dia 13.02.2001, um terremoto, deixa centenas de mortos em El Salvador.

A Data Fatídica
(Jornalista Marta Leite Ferreira)

Eram tempos difíceis para os cristãos. Aqueles que se dirigiam a Jerusalém para rezar no berço do Cristianismo eram atacados pelos muçulmanos que perseguiam os reinos cristãos fundados no Oriente pelas Cruzadas. Precisavam de proteção.

Por isso, em 1119, um fidalgo francês natural de Champanhe [França] decidiu fundar uma organização de “anjos da guarda” para os peregrinos.

Hugo de Payens juntou-se então a oito cavaleiros com o aval do rei Balduíno II de Jerusalém e fez nascer a “Ordem dos Pobres Cavaleiros de Cristo e do Templo de Salomão”, cujos membros eram conhecidos por “Cavaleiros Templários”. Mas 118 anos mais tarde, a 13.10.1307, os cavaleiros conheceram um fim sangrento. E nós ganhamos o fardo do seu azar.

Um Poder que Desagradava ao Rei

Quem entrava na Ordem dos Templários tinha de fazer um voto de pobreza e castidade. Durante dois séculos, os membros entregavam todos os seus bens e todo o dinheiro à organização, que ganhou um poder financeiro imensurável. Eram vistos com grande prestígio na Europa, ganharam cada vez mais membros fiéis e a sua filosofia tinha de ser digna dos princípios cristãos. Aliás, o mote que seguiam tinha sido retirado dos ensinamentos de São Bernardo: “Não a nós, Senhor, não a nós, mas pela Glória de teu nome”. Mas um rei francês viu pouca pureza debaixo dos fatos ([3]) brancos com a cruz de Cristo vermelha ao peito. E armou uma cilada aos cava­leiros numa madrugada de outubro de 1307. Era Sexta-feira, 13. Filipe IV, o Belo, não gostava do poder que os Cavaleiros Templários tinham acumulado ao longo dos últimos dois séculos. A sua magnificência era tal que só o Papa, na época Clemente V, podia ter mão sobre a Ordem. Por isso, Filipe IV usou do seu poder de persuasão e tentou convencer o Papa a acusar a Ordem de crimes de heresia, imoralidade e sodomia.

Não foi fácil, porque Clemente V sabia que a sua aliança com os Templários era útil para manter uma presença militar bem vincada na Palestina. No entanto, não foi capaz de travar o plano do rei porque os boatos que circulavam sobre os templários já começavam a denegrir a imagem da própria Igreja: se continuasse a defender a Ordem, também a sua boa imagem seria arrastada pela lama. O rei francês planejou então acusar os cavaleiros, todos eles impedidos de casar para respeitar as re­gras da organização, de manter relações sexuais ho­mossexuais entre eles, uma acusação particular­mente humilhante no século XIV. Nenhuma destas acusações era suportada por fatos. O único dado concreto é que a coroa francesa precisava do dinheiro da Ordem, a quem já havia recorrido para empréstimos. Mas Filipe IV sabia que, com o poder e prestígio que os Templários tinham conquistado, só a morte os arruinaria. A última gota d’água para o rei foi quando Tiago de Molay, último grão-mestre dos Templários, pediu ao Papa para perceber o que se passava para que tantos boatos corressem sobre os seus cavaleiros. O Papa acedeu ao pedido de Molay, mas avisou o rei, que bateu punho e, aconselhado pelo ministro Guillermo de Nogaret, enviou em agosto uma carta a todo o reino com instruções claras para que só fosse aberta na noite de 12 de outubro de 1307.

O Castigo Eterno

Toda a gente seguiu as ordens do rei. Na noite marcada, Tiago de Molay foi capturado juntamente com a maior parte dos templários. Todos os bens foram confiscados pela Inquisição. De madrugada, já Filipe IV de França tinha emitido um comunicado onde sugeria que o papa Clemente V concordava com a morte dos Templários. Enfurecido, o Papa enviou dois cardeais para repreender o rei.

Vieram de lá com um negócio: a Igreja ficava com parte dos bens dos Templários, mas o rei podia escolher a forma de julgar os cavaleiros. Escolheu então condená-los de acordo com o direito canônico, o mais pesado. Não sabia que estava a cavar a própria sepultura. Os Templários foram sujeitos às mais cruéis formas de tortura, alguns ficaram em prisão perpétua e outros foram queimados na fogueira, um castigo normalmente aplicado às bruxas. Um dos Templários condenados à morte por fogo foi o próprio Tiago de Molay. Perante o rei e todas as tropas do reino que tinham conduzido a Ordem dos Templários à morte, Molay lançou uma maldição mortífera:

Deus sabe que nos trouxe para o limiar da morte com grande injustiça. Em breve virá uma enorme calami­dade para aqueles que nos condenaram sem respeitar a verdadeira justiça. Deus vai retaliar a nossa morte. Vou perecer com essa garantia.

As palavras proferidas por Molay no leito da sua morte ecoaram pelo reino durante um ano. E concretizaram-se. O rei Felipe IV morreu com um derrame cerebral e, pouco depois, também o papa Clemente V sucumbiu. O povo levou a sério a ameaça de Molay e, a partir daquele dia, qualquer Sexta-feira 13 era vista com receio: o azar podia bater à porta de qualquer um nesse dia. O medo foi ainda mais instigado já no século XX com o lançamento do livro “Sexta-Feira 13” por Nathaniel Lachenmeyer, que argumenta que a Sexta-feira era um dia pouco afortunado e que o número 13 estava cheio de fantasmas. […] (observador.pt)

24.08.2018 – Aportei, por volta das duas da manhã, no Aeroporto Internacional de Boa Vista ‒ Atlas Brasil Cantanhede e, logo depois fui conduzido à casa de Apoio dos Oficiais no aquartelamento do 6° BEC.

Por Hiram Reis e Silva (*), Bagé, 14.12.2022 – um Canoeiro eternamente em busca da Terceira Margem.

(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;  

  • Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)
  • Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);
  • Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
  • Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);
  • Ex-Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)
  • Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
  • Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
  • Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);
  • Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)
  • Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
  • Comendador da Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)
  • Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).
  • Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
  • E-mail: [email protected]

[1]   PIRF (Posto de integração rádio-fio): posto rádio ligado ao sistema te­lefônico, permitindo que qualquer integrante da rede-rádio pudesse li­gar-se a qualquer assinante do sistema telefônico. (Hiram Reis)

[2]    A lesão ocorreu em minha residência, Porto Alegre, antes mesmo de partir para Roraima, ao trocar uma lâmpada. (Hiram Reis)

[3]    Fatos: vestuários. (Hiram Reis) 

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