Descendo o Rio Branco

9° BEC – BR-364

Aportando em Boa Vista
Parte I

Retornar à Boa Vista, RR, depois de aqui ter aportado, pela primeira vez, nos idos de 1982, há 36 anos, tinha para mim e meus familiares um significado muito especial. Embora minha experiência como “trecheiro” tenha sido colocada à prova no 9° Batalhão de Engenharia de Construção (9° BEC), sediado em Cuiabá (MT), nas BR-070 e BR-364, trabalhando mais de 130 horas semanais, os recursos em equipamentos e pessoal eram mais do que suficientes para o cumpri­mento da missão antes do prazo estipulado e dentro dos mais altos padrões técnicos.

No 9° BEC, era recém-casado, sem filhos, e po­dia concentrar todo meu esforço no trabalho, não raras vezes, nos fins de semana, minha esposa me acompa­nhava até o trecho para que eu pudesse desfrutar, ainda que por breves momentos, de sua companhia.

No 6° BEC, a realidade era bastante diversa, fui destacado, de imediato, para comandar a 1ª Companha de Engenharia de Construção, sediada no Abonari (AM) com a responsabilidade de manter o tráfego da BR-174 de Manaus (AM) até o Rio Jauaperí (RR), um trecho de 419 km, 120 km dos quais dentro da TI WA, única via de acesso terrestre ao então Território Federal de Roraima. A Companhia ocupava derruídas e precárias instalações no Km 202, da BR-174, que graças ao apoio da Mineração Taboca e Eletronorte (os recursos do Ministério dos Transportes eram ínfimos), fomos aos poucos incrementando melhorias. Construímos um Cen­tro de Lazer para os familiares dos militares destaca­dos, alojamento para Praças solteiros, escolinha comu­nitária, instalamos um segundo gerador e refizemos toda a instalação elétrica da Companhia.

Instalamos uma Central de TV, com gravações de uma rede de Manaus, que retransmitia seu sinal para toda Companhia e arredores, e para um telão instalado no “Clubinho” onde as famílias se reuniam para confraternizar. As acariquaras, a palha de ubim, o cimento, a geladeira e a televisão do Centro de Lazer (Clubinho) foram doadas pela Mineração Taboca. O atendimento médico proporcionado pelo Dr. Leônidas Sales Sampaio e depois pelo Dr. Alexandre Augusto Stehling era de alto padrão e estendido às aldeias dos Waimiri-Atroari com que mantínhamos um salutar con­tato. Alguns casos mais delicados, lembro-me da espo­sa do “Elza”, um dos filhos do Tuxaua Comprido, que levou a esposa grávida de nove meses para ser atendi­da pelo Dr. Sampaio. O “Elza” e a esposa permanece­ram mais de uma semana na sede da Companhia onde ele fazia questão de nos ajudar nas lides do rancho.

Perambulando pela Companhia ele ficou encan­tado com nossa criação de porcos e prometi-lhe que doaria à sua aldeia um cachaço e três leitoas de uns 4 meses, o que foi feito logo depois do nascimento de sua filha Sônia. Na época, um dos líderes dos WA era o Tuxaua Viana, inteligente, empreendedor e muito amigo dos militares a quem entreguei, em várias oportunidades, livros didáticos. O Viana era um aficionado pela Matemática e resolvíamos, juntos, alguns exercícios atendendo às suas solicitações.

Nas minhas inspeções ao trecho, eu visitava cada uma das aldeias localizadas ao longo da estrada e fazia um salutar comércio com as lideranças, trocando a farinha que eles produziam por gêneros diversos e pequenos animais que criávamos na Companhia e ensi­nando-lhes os procedimentos corretos que deveriam adotar para mantê-los.

Os Doutores Sampaio e Stehling, valorosos oficiais médico R/2 aceitaram de bom grado a incum­bência de vacinar todos os WA da reserva, cuja área corresponde a um quarto do estado de Santa Catarina. Muitas vezes eles tinham que arrastar ou carregar nas costas a canoa, que os apoiava, através das pedras do Rio Abonari e do Rio Alalaú e afluentes para chegar às aldeias mais distantes.

Era um trabalho voluntário e eles não tinham nenhuma obrigação de fazê-lo. A vacinação intensiva dos WA iniciou-se com o Dr. Sampaio e não com o “Programa WA”. Recebíamos atenciosamente, por di­versas vezes, na sede da Companhia, os nativos para atendimento médico e odontológico. O relacionamento era extremamente amigável e éramos muito bem recebidos nas Aldeias, que visitava frequentemente acompanhado de minha esposa Neiva, minhas filhas, Vanessa de um ano e meio e Danielle de três meses.

Meus dedicados médicos conseguiram pessoal­mente e com o apoio da Superintendência de Campa­nhas de Saúde Pública (SUCAM), hoje Fundação Nacional de Saúde (FUNASA), eliminar os focos de mosquitos (Anófeles) vetores da malária ‒ não teve nenhum novo caso de malária em todo período em que lá servimos (1982/83).

Certa feita um dos engenheiros da Mineração Taboca sofreu um mal súbito e embarcou na aeronave que o conduziu do Abonari até Manaus acompanhado de perto pelo Dr. Sampaio até o Hospital, em Manaus. A atenção e gentileza prestada pelo Dr. Sampaio foi recompensada, mais tarde, com a evacuação aeromé­dica da Srª Denair, esposa do Sgt Pacheco, que neces­sitava de cuidados médicos especiais em virtude de complicações com a gravidez. Tive a felicidade de reencontrar estes queridos amigos no 9° BECMB, em Aquidauana, MS.

Abonarí – Amazonas – Berço do Princípio de Saúde Coletiva de um médico Aspirante a Oficial.

Ao ser responsável médico pelos recursos humanos militares e civis contratados atuantes na manutenção da Br 174, estudei muito na enfermaria para elucidar o diagnóstico de diversas doenças que incidiam na comunidade. A malária incidia na comunidade branca e indígena da área.

Entrei no exército como amigo e tive que me tornar um militar de verdade, para acompanhar satisfatoriamente a rotina, com seu estatuto perfeito e na dependência de ser operado por seres humanos justos e honestos, como em qualquer organização social.

Com poucos pacientes a serem atendidos na enfermaria, comecei a achar que poderia levar saúde à população às margens da Br 174 e visitar regularmente os pelotões sediados na Estrada, além de atuar nas comunidades indígenas Waimiri-Atroari na reserva indígena sob a proteção da União. Após minha primeira visita foi constatado a indignação do funcionário da FUNAI Sr. Paulino, que consistia na ausência de atenção médica aos indígenas por mais de seis meses, que concorreram para a continuidade do acompanhamento médico aos indígenas, por todo o ano que passei no exército, que apesar do médico da FUNAI ser chamado por várias vezes para discutirmos saúde indígena, nunca compareceu nas aldeias. Isso motivou uma atenção médica e odontológica por parte do exército sediado no Abonarí, até mesmos às localidades distantes e de difícil acesso no Rio Abonarí.

Abonarí – Amazonas – Berço do Princípio de Saúde Coletiva de um médico Aspirante a Oficial.

Ao ser responsável médico pelos recursos humanos militares e civis contratados atuantes na manutenção da Br 174, estudei muito na enfermaria para elucidar o diagnóstico de diversas doenças que incidiam na comunidade. A malária incidia na comunidade branca e indígena da área.

Entrei no exército como amigo e tive que me tornar um militar de verdade, para acompanhar satisfatoriamente a rotina, com seu estatuto perfeito e na dependência de ser operado por seres humanos justos e honestos, como em qualquer organização social.

Com poucos pacientes a serem atendidos na enfermaria, comecei a achar que poderia levar saúde à população às margens da Br 174 e visitar regularmente os pelotões sediados na Estrada, além de atuar nas comunidades indígenas Waimiri-Atroari na reserva indígena sob a proteção da União. Após minha primeira visita foi constatado a indignação do funcionário da FUNAI Sr. Paulino, que consistia na ausência de atenção médica aos indígenas por mais de seis meses, que concorreram para a continuidade do acompanhamento médico aos indígenas, por todo o ano que passei no exército, que apesar do médico da FUNAI ser chamado por várias vezes para discutirmos saúde indígena, nunca compareceu nas aldeias. Isso motivou uma atenção médica e odontológica por parte do exército sediado no Abonarí, até mesmos às localidades distantes e de difícil acesso no Rio Abonarí.

No Plano de Atenção Médica às comunidades da Estrada apresentado ao Capitão Hiram Reis e Silva, a saúde indígena tomou vulto regular de atuação, com programa de vacinação estimulado, controle de endemias como a malária e doenças diarréicas operado nas comunidades indígenas, além de tratamento radical de processos infecciosos e contagiosos e patologias diversas de incidência na área indígena, levando a contrapeso a atenção odontológica preventiva e curativa. Toda essa atuação, de certeza ajudou a inverter os índices negativos de crescimento populacional do povo Waimiri-Atroarí e melhorar a saúde da população indígena e ao longo dessa rodovia federal. A atenção médica aos militares e civis da região não foi interrompida, haja vista, a operação de ações na área indígena ser levada a termo nas sextas e sábados. Não havia feriado e domingos no acampamento militar do Abonarí, apenas “arejamento” mensal. (Fonte: Leônidas Sales Sampaio)

Por Hiram Reis e Silva (*), Bagé, 12.12.2022 – um Canoeiro eternamente em busca da Terceira Margem.    

(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;  

  • Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)
  • Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);
  • Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
  • Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);
  • Ex-Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)
  • Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
  • Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
  • Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);
  • Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)
  • Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
  • Comendador da Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)
  • Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).
  • Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
  • E-mail: [email protected]

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