Descendo o Rio Branco
Na Rota do Rio Branco
Mar Português: Segunda Parte
(Fernando Pessoa)
[…] O sonho é ver as formas invisíveis
Da distância imprecisa, e, com sensíveis
Movimentos da esperança e da vontade,
Buscar na linha fria do horizonte
A árvore, a praia, a flor, a ave, a fonte ̶̶
Os beijos merecidos da Verdade. […]
Estou Cansado
(Fernando Pessoa)
[…] Tenho visto muito e entendido muito o que tenho visto,
E há um certo prazer até no cansaço que isto nos dá,
Que afinal a cabeça sempre serve para qualquer coisa.
Ano passado concluímos a última fase da Expedição Centenária Roosevelt-Rondon, no período de 04.08.2017 a 20.08.2017, percorrendo os Rios Paraguai e Cuiabá desde o Rio Apa, MS, até Cáceres, MT, embarcados em uma confortável chalana percorrendo exatamente a mesma rota e desfrutando das mesmas comodidades da Expedição original.
Diário de Cáceres ‒ Cáceres, MT
Quinta-Feira, 24.08.2017
O Núcleo de Documentação de História Escrita e Oral [NUDHEO] da UNEMAT em Cáceres recebeu nesta Segunda-feira [21] uma série de documentos digitalizados sobre a Expedição Centenária Roosevelt-Rondon. Os documentos foram entregues pelos militares, professores e exploradores que nesta semana passaram por Cáceres, refazendo a terceira fase da Expedição. (DIÁRIO DE CÁCERES, 24.08.2017)
Tão logo concluída esta fase parti para Rio Branco, Acre. Meu caiaque oceânico ‒ o “Argo I” ‒ um formidável Cabo Horn, da Opium Fiberglass, graças ao empenho do 8° Batalhão de Engenharia de Construção (8° BEC), do 2° Grupamento de Engenharia de Construção (2° Gpt E) e do 5° e 7° BECs já me aguardava no Quartel do 7° BEC em Rio Branco, Acre.
O caiaque percorreu 740 km pelo Rio Amazonas de Santarém, PA, a Manaus, AM; 1.240 km de Manaus a Porto Velho, RO, pelo Rio Madeira e 510 km pela BR-364 de Porto Velho a Rio Branco, AC – quase 2.500 km.
Parti de Iñapari, Peru, no dia 06.09.2017, e aportei às 11h00, do dia 26.09.2017, na Boca do Acre, AM (08°45’11,67” S / 67°23’58,10” O) concluindo minha solitária jornada pelo Rio Acre com onze dias de remo e nove de descanso.
Muito diferente da Expedição anterior, foram 815,2 km que exigiram, mais uma vez, uma energia e determinação invulgar deste velho e alquebrado guerreiro. Nas cidades, recebi o apoio, do Exército Brasileiro, do Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Acre, das Prefeituras do Porto Acre e Boca do Acre e dos humildes ribeirinhos.
A participação na III Fase da Expedição Centenária Roosevelt-Rondon forçou-me a enfrentar o pico da estiagem do Rio Acre enfrentando condições bastante adversas.
Gente de Opinião ‒ Porto Velho, RO
Domingo, 22.10.2017
05.09.2017 – Partida de Iñapari: Acordei às 04h30, carreguei as tralhas no caiaque que continuava embarcado no caminhão e, às 05h00, fomos até a margem do Rio Acre, no Peru, de onde parti às 05h30. Como nos encontrávamos na estiagem o Rio apresentava extensos bancos de areia que dificultavam bastante a navegação.
O “Argo I” ia arrastando o casco e o leme na areia e esse atrito exigia um esforço maior na remada. Fazia um ano que não me dedicava à canoagem e, por isso mesmo, tinha decidido iniciar num ritmo mais lento adaptando-me progressivamente ao esforço contínuo de remar, no mínimo, 08h30 por dia. […]
Os enormes bancos de areia e troncos forçavam-me, constantemente, a descer do caiaque e arrastá-lo sob o Sol intenso. A progressão era lenta e penosa e eu tinha dúvidas se conseguiria vencer os quase 190 km que me separavam de Brasileia em apenas três dias. (GENTE DE OPINIÃO, 22.10.2017)
Tão logo conclui minha jornada combinei com o Coronel Luís Henrique Santos Franco, Comandante do 7° Batalhão de Engenharia de Construção (7° BEC), hoje Comandante do Corpo de Cadetes da Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN), o transporte do caiaque de Rio Branco, Acre, para Boa Vista, Roraima, procurando viabilizar minha próxima empreitada ‒ a descida dos Rios Tacutu-Branco-Negro, desde Bonfim, RR, até Manaus, AM (1.057 km).
O processo envolveu o atual Comandante do 7° BEC Ten Cel Flávio do Prado, o ex-Cmt do 2° Gpt E, General de Brigada Paulo Roberto Viana Rabelo, o atual Comandante do Grupamento, Gen Bda Marcus Vinícius Fontoura de Melo e o Cmt do 6° BEC Ten Cel Vandir Pereira Soares Júnior.
Foram 510 km, pela BR-364, desde Rio Branco, AC, a Porto Velho, RO; 1.240 km de Porto Velho a Manaus, AM, pelo Rio Madeira e 785 km de Manaus a Boa Vista, RR, pela BR-174 – mais de 2.500 km.
Soneto do Amigo
(Vinicius de Moraes)
Enfim, depois de tanto erro passado
Tantas retaliações, tanto perigo
Eis que ressurge noutro o velho amigo
Nunca perdido, sempre reencontrado.
É bom sentá-lo novamente ao lado
Com olhos que contêm o olhar antigo
Sempre comigo um pouco atribulado
E como sempre singular comigo. […]
O amigo: um ser que a vida não explica
Que só se vai ao ver outro nascer
E o espelho de minha alma multiplica…
O Dr. Marc Meyers, idealizador da Expedição Centenária Roosevelt-Rondon pretendia, em agosto deste ano, percorrer um trecho de aproximadamente 170 km que fomos impedidos de navegar no Rio Roosevelt por intervenção dos Cinta-Larga, a partir da ponte Ten Marques até o acampamento da APROVALE, na margem direita do Rio Roosevelt, 14 km à jusante da Balsa da APROVALE.
Defesanet ‒ Porto Velho, RO
Segunda-Feira, 08.06.2015
“Perdemos dois dias porque os índios Cinta-Larga não autorizaram a navegação em área circunvizinha à sua reserva”, diz o Cel Hiram. Devido à restrição imposta pelos indígenas, os pesquisadores deixaram de percorrer 184 km, “que foram considerados os mais difíceis pela expedição original”, segundo o Cel Hiram. Mas, com exceção do pequeno incidente com a tribo indígena, a nova viagem pelo Rio Roosevelt foi tranquila – bem diferente da realizada no século passado. (DEFESANET, 08.06.2015)
Fiquei bastante transtornado com a situação, pois a programação para a descida do Rio Branco que se iniciara em outubro do ano passado e que contava com o apoio direto de dois Comandos Militares, o Comando Militar do Sul (CMS) e o Comando Militar da Amazônia (CMA), e cujo sucesso dependia diretamente das condições climáticas seria seriamente comprometido com o adiamento da jornada, além disso, as passagens aéreas já tinham sido compradas pelo meu amigo Cristian Mairesse Cavalheiro, para 23.08.2018, e já tinha conseguido agendar com o ICMBIO um período de permanência na Base Carabinani, Boca do Jau, Rio Negro, graças ao apoio dos amigos Daniel Reis Maiolino de Mendonça, Gilberto Moreira e Josângela Jesus.
Em contrapartida eu tinha um compromisso moral para com a família Meyers ‒ seu irmão Pedro que me apoiou prontamente, em três oportunidades, quando enfrentei sérias dificuldades financeiras em decorrência da enfermidade de minha esposa, internada numa clínica há mais de 14 anos.
Felizmente o Dr. Marc e o Cel Angonese acordaram em transferir a Descida, para 2019, e com isso posso manter o foco no planejamento de minha próxima missão que é descer, sozinho, os 1.057 km dos Rios Tacutu-Branco-Negro.
Nos últimos dez anos chegamos a ter mais de uma centena de apoiadores às nossas descidas e agora este número foi drasticamente reduzido. Além dos amigos Pedro Meyers, Cristian Mairesse e do meu cunhado Gen Ex Virgílio Ribeiro Muxfeldt, que foram os primeiros a se apresentar como investidores para esta etapa estão nos apoiando o meu caro xará Cel Hiram de Freitas Câmara, o meu primeiro Sub-Cmt Cel Alfredo José Coelho dos Santos e o meu irmão pantaneiro Cap Roney Bento Alves Ribeiro. O sensoriamento remoto, mais uma vez, será realizado pela Skysulbra Tecnologia Ltda graças aos camaradas de longa data Luiz Felipe Meneguetti Regadas e Manoel da Rosa Michael.
Ultra Limina…[1]
(Da Costa e Silva)
[…] Aonde vou nesse estranho bergantim,
Veloz e afoito como o pensamento?
Que céu de sonho, que país nevoento,
Que mundo de mistério busco, enfim?
Nos extremos remotos do horizonte,
Perde-se a barca, espaço em fora, sem
Que com o porto encantado se defronte.
Colho as velas, deito a âncora, porém
Surge na proa o vulto de Caronte
Com a mão no leme, a dirigir-me: Além!
Por Hiram Reis e Silva (*), Bagé, 09.12.2022 – um Canoeiro eternamente em busca da Terceira Margem.
Bibliografia
DEFESANET, 08.06.2015. Militares Brasileiros e Pesquisadores Americanos Refazem Expedição Histórica – Brasil – Porto Alegre, RS – Defesanet, 08.06.2015.
DIÁRIO DE CÁCERES ‒ Brasil, Cáceres, MT ‒ Diário de Cáceres, 24.08.2017.
GENTE DE OPINIÃO, 22.10.2017. Epopeia Acreana – Parte I – Brasil – Rondônia, RO – Gente de Opinião, 22.10.2017.
(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;
- Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)
- Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);
- Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
- Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);
- Ex-Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)
- Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
- Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
- Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);
- Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)
- Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
- Comendador da Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)
- Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).
- Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
- E-mail: [email protected]
[1] Ultra Limina…: Sem limite… (Hiram Reis)
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