Mais uma vez tenho a honra de repercutir um belo artigo de meu caro Amigo, Irmão e Mestre Higino Veiga Macedo, editado em João Pessoa, PB, sexta-feira, 10 de setembro de 2021.

O Biriba

Eu e os Super Elogios Não Publicados
(Higino Veiga Macedo)

Algo marcante na vida militar são as referências elogiosas publicadas em documentos interno – Boletim Interno ou BI, para os íntimos. As ações acima das rotinas e das obrigações, com iniciativa, oportunidade, persistência e coragem são sempre reconhecidas e, assim, registradas em elogios que rechearão o que o militar chama de Alterações, ou seja, seu “Curriculum Vitae Militar”. Os elogios mais elaborados são feitos por ocasião das transferências e lidos nos momentos das despedidas. Sem falar no último elogio, aquele da ultima despedida, do último dia, na ativa. Ali há um relato de toda a vida militar do militar. Os mordazes chamam de necrológio.

Quero tratar daqueles que não são oficiais, os não publicados, e que em momento de plena atividade, alguém faz uma referência, um elogio no momento, no calor do evento. Tive três em escolas que me orgulha­ram muito e um já quando reformado. Como Cadete, numa equipe de orientação com bússola, patrulha de reconhecimento e designação de alvos, o que chefiou a equipe, já no final do acampamento, no deslocamento para a sede (Conjunto Principal) ele me chamou e disse:

Olha, se um dia houver uma guerra, eu gostaria de tê-lo como companheiro. Você foi o que sempre considerei de como deveria se comportar um comba­tente.

Já como oficial, pude avaliar melhor suas palavras. Ele foi primeiro de turma na sua arma. Na verdade, eu também era “aprendiz de feiticeiro” como todos ali e tudo fazia por intuição ou por instinto ou, ainda, por dom.

O segundo foi quando, em 1980 eu fazia a Escola de Aperfeiçoamento (ESAO) em que, com a en­genharia, faziam o curso alguns militares estrangeiros: Venezuela, Colômbia, Paraguai, Uruguai e Equador. O Capitão Teran, do Equador, num exercício de defensiva nas instalações dos Fuzileiros Navais, Rio de Janeiro, depois de algumas trocas de ideia de como se resolveriam as missões de engenharia, o equatoriano me chamou após o jantar e me disse:

Higino, você é um militar muito prático; Você vê o problema e dá solução. Eu gostaria de ter essa experiência que você tem.

O Cap Teran, ao voltar para o Equador, ao participar de uma refrega contra o exército peruano, por limites territoriais, foi ferido e faleceu. Penso que nem chegou a Major. E nem teve tempo de ser prático.

O Terceiro foi na Escola de Comando e Estado Maior (ECEME). Num exercício em grupo, de Brigada de Cavalaria Mecanizada, eu estava de Comandante. O Oficial de Operações (E/3) era Major de cavalaria. Pela carta, tinha-se dúvida de emprego de blindados já no início do ataque.

Pela carta, pouco depois da linha de partida havia uma sinalização que indicava um obstáculo natural (rio, ravina, ou algo parecido). E dai a dúvida: “partir com apoio de carro que ficaria retido no obstáculo?” Diretriz do escalão superior: velocidade e potência. Perguntei quanto tempo dispúnhamos para entregar nosso trabalho, que seria avaliado e o melhor seria apresentado a todos. Pelo tempo daria para ir até o local e verificar no terreno o tal obstáculo. Lá eu disse: “bem, não sou experiente em blindados, mas em fazer estradas”. “Nesse valão (nada mais que isso) eu passaria com ‘scraper’ em oitava marcha carregado com quinze m3 de cascalho”. “Um blindado, nem faz cócegas”.

O E/3 concordou e nossa solução foi partir com apoio de blindado. Foi a solução “da casa” (dos instrutores). A lição: reconhecer o terreno. E o E/3 apresentou o tema. Esse E/3 foi o primeiro da minha turma de ECEME e depois chegou a General de Exército. No final do exercício, ele me procurou e disse algo bem parecido com o que disse o Capitão equatoriano, o TERAN: – “em caso de guerra, quero estar contigo, pela sua facilidade de trabalhar com soluções práticas”.

E outro foi, já como reformado, quando decidi participar do grupo de WhatsApp e que um compa­nheiro de turma me mandou uma mensagem: “Bem-vindo ao grupo Precisamos da sua inteligência” sendo ele muito mais inteligente que eu. Li várias vezes para ter certeza de que aquilo se referia a mim. São quatro elogios que guardo na lembrança. Aliás, tenho o timbre de cada voz a retinir no cérebro. Vozes que ouvi e que se me repetem. Como se me fossem uma transmissão oral, mas que só eu ouço.

São meus elogios, não oficiais, que aqui os registro, antes que eles se calem no cérebro e me deixem sem ouvi-los. PS: Um outro, em áudio de WApp, quando o Gen Pereira Gomes, em um agradecimento disse que me teve como exemplo de líder e praticou sua liderança tendo a minha como exemplo. O Gen serviu comigo na 9° RM no Escalão logístico: ele Major oriundo ECEME e eu já Coronel em final de carreira.

(Higino Veiga Macedo)

Por Hiram Reis e Silva (*), Bagé, 29.12.2022 – um Canoeiro eternamente em busca da Terceira Margem.

(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;  

  • Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)
  • Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);
  • Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
  • Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);
  • Ex-Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)
  • Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
  • Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
  • Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);
  • Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)
  • Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
  • Comendador da Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)
  • Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).
  • Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
  • E-mail: [email protected]

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