Descendo o Rio Branco
TIRSS na Mídia Nacional – Parte XIV
Jornal do Brasil, n° 338
Rio de Janeiro, RJ – Sábado, 14.03.2009
Indígenas e ONGs em Manaus
Em Terceira Cidade Brasileira, Príncipe Charles Recebe Prêmio e Carta de Líderes de Tribos
Dando continuidade à sua visita ([1]) ao Brasil com foco em questões relacionadas ao meio ambiente, o príncipe de Gales, Charles Philip Arthur George, e sua mulher, a duquesa de Cornualha, Camilla Parker Bowles, desembarcam, por volta das 12h30, de ontem, [horário de Brasília] em Manaus.
Na agenda oficial, reunião com governadores de estados da Amazônia, visita a instituições não-governamentais locais e encontros com representantes de povos da floresta. No início da visita à capital amazonense, Charles se encontrou com os governadores do Amazonas, Eduardo Braga [PMDB], do Mato Grosso, Blairo Maggi [PR], do Tocantins, Marcelo Miranda [PMDB], e de Roraima, José Anchieta Júnior [PSDB].
O príncipe, segundo o governador do Amazonas, teria ficado impressionado com o fato de as florestas da região amazônica terem biodiversidades diferentes em cada Estado e diversos graus de degradação.
Após o encontro, Charles recebeu os prêmios “Amigo da Floresta e do Clima”, concedido pela ONG ambientalista Conservação Internacional [CI], e o do governo do Estado do Amazonas. Depois da homenagem, o príncipe de Gales e sua comitiva se reuniram com autoridades locais para discutir medidas de combate ao aquecimento global.
Ele também se encontrou com ONGs que atuam na Amazônia e conheceu líderes de tribos indígenas, de quem recebeu uma carta expressando a preocupação com o desmatamento. […]
Segundo a assessoria da embaixada britânica no Brasil, Charles mostrou-se interessado na problemática indígena e comprometeu-se a ler uma carta entregue por eles, com descrição da situação das etnias na Amazônia brasileira. […]
Príncipe Charles, a Caça e a Raposa
[Coronel Gélio Fregapani – Ex-Superintendente da ABIN em Roraima]
Anos atrás, havia quem censurasse o príncipe prevaricador por sua crueldade na caça à raposa. Hoje, percebemos que o interesse pela “Raposa” também tem outras conotações: desmembrar o Brasil, criando uma nação indígena que seja dócil aos interesses do primeiro mundo. O príncipe Charles defendeu nesta quinta, em discurso no Itamaraty, que a conservação das florestas tropicais, como a Amazônia, seja financiada com recursos garantidos pelos países desenvolvidos. O príncipe afirmou que o dinheiro seria dado, não emprestado, e seria o pagamento aos países tropicais pelos “serviços ecológicos” prestados pelas florestas ao mundo. Ninguém no Congresso, ao que se saiba de público, pediu explicações. Engoliram sorrindo as mentiras, os atrasos e as grosserias dos seguranças britânicos. Pareciam estar recebendo seu futuro rei.
Todos sabemos da crise financeira mundial e que a Inglaterra enfrenta sérias dificuldades. O “generoso” príncipe vai tirar empregos de seus compatriotas para proteger as florestas de um país longínquo? Quanto altruísmo. O que ele realmente veio fazer? Timidamente tem aparecido na imprensa certa “teoria da conspiração” que, entre outras metas, tentaria dividir alguns países de grande extensão territorial, como o Brasil, a China, a Índia e a Rússia.
Essa meta seria orientada pela oligarquia financeira anglo-holandesa-americana, que estaria também procurando evitar o desenvolvimento que lhes pudesse fazer sombra. É difícil saber até onde isto é verdade, mas para falar só do nosso país, a tentativa de balcanização é a cada dia mais evidente. Homologam-se imensos territórios indígenas interditados aos brasileiros.
Aí estão as digitais das ONGs anglo-holandesas, WWF, entre outras; interditam-se para a produção de parques ecológicos do tamanho de países europeus. De novo, ONGs anglo-holandesas como a Greenpeace e americanas como a fundação Ford, sem falar na oposição às hidrelétricas e ao asfaltamento de estradas. Agora nos visita o príncipe sem compostura.
Exatamente agora nas vésperas do julgamento da Raposa Serra do Sol. Vem falar sobre a proteção das florestas. Por que agora? As evidências apontam: a manobra final para garantir a retirada dos brasileiros do único lugar habitado por nacionais nas serras da fronteira norte.
Sabemos da Crise Mundial e que a Inglaterra Enfrenta Dificuldades.
O que Veio Charles Fazer?
Vejamos alguns antecedentes: O mercado de minérios é, há séculos, controlado por cartéis de Londres. Eles sabiam da extrema mineralização das serras do norte do Brasil. Até pouco tempo, manobraram apenas para que não fossem exploradas.
Quando começamos a explorar o estanho das jazidas do Pitinga e quebramos o cartel do estanho, se assustaram e jogaram tudo nos movimentos indianistas e ambientalistas.
A moderna utilização de metais quase só encontrados aqui os fez compreender que teriam de lidar com governos submissos, e o ideal seriam governos indígenas, não o de uma nação do porte do Brasil, que, quando despertasse, lhes criaria problemas.
Aliaram-se aos Estados Unidos. Financiaram demarcações, propagandas e compraram homologações. Conseguiram a assinatura do Itamaraty na declaração de direitos que na prática concede status de nação independente às áreas indígenas, sempre sobre as principais jazidas algumas como a Ianomâmi, Já sob inteiro domínio das ONGs. Entretanto, para que o novo “país indígena” não ficasse cortado ao meio, a Raposa tem de ser cooptada, mesmo com a oposição da maioria dos índios que lá vivem.
Então vamos à caça à Raposa. Tem de ser agora! A crise está mordendo os calcanhares do Reino Unido, como dos EUA e da Holanda. Em breve não mais poderiam conseguir; até suas ONGs enfrentam penúria. O Brasil está tomando conhecimento da manobra e iniciando a levantar a cabeça. Não dá para esperar mais.
Já haviam sido retirados alguns opositores: o diretor-geral da ABIN e generais do Ministério da Defesa. O General Monteiro, comandante da Brigada em Boa Vista. Agora retiram o General Heleno, o que não ousaram fazer antes. É a hora do julgamento. É tudo agora ou não dará mais. Vale pedidos pessoais dos governos. Vale visita do príncipe. Vale promessas de dinheiro, impossível de cumprir por um país em crise. Vale mentir, enganar, jogar charme, aproveitar a vaidade de nossos dirigentes. É a hora da caça à raposa. A situação é séria e merece atenção. O Exército ainda reage? – tratam de desmoralizá–lo. Lembremos que todas as nações que descuidaram da sua defesa e/ou desprestigiaram os seus soldados terminaram subjugadas por aquelas outras que agiram de outra forma. Brasil, desperta! (JDB, N° 338)
Cabe aqui uma pequena, mas necessária interrupção no noticiário sobre a TIRSS, para inserir um comentário bastante oportuno do meu dileto amigo Coronel Gélio Fregapani sobre as Minas do Pitinga e o Cartel do estanho chamado “Thin Brothers”. O Coronel Fregapani é meu mentor e consultor para assuntos amazônicos:
Eis meu testemunho:
1982 ‒ Na antevéspera de passar o comando do CIGS fui procurado por uma delegação da mineração Paranapanema sobre a incidência de leishmaniose na região do Pitinga, o que inviabilizava a exploração das jazidas minerais, e me prontifiquei a empregar os nossos métodos de profilaxia do CIGS, que eram bem sucedidos nos deslocamentos pela selva.
A Paranapanema havia sido instada por um clarividente Diretor local do DNPN, Dr. José Belfort Bastos, ao verificar uma grande anomalia mineral na área do rio Pitinga e tinha verificado que haveria um teor de cassiterita [estanho] muito superior ao maior teor já conhecido no mundo, mas a incidência da doença infecciosa estava impedindo a exploração.
A nossa profilaxia, apropriada para os deslocamentos, o uso de vitamina B12 e o acampar em locais altos já poderiam resolver o que nem a SUCAN nem diversos cientistas o tinham conseguido com dedetizações, mas nosso conhecimento da floresta ainda nos permitiu eliminar, com armadilhas, os depósitos do protozoário ‒ os mucuras e a preguiça real além dos cães domésticos; e a reduzir o vetor ‒ um flebótomo, o mosquito palha, através de armadilhas de mosquitos, da introdução de predadores de larvas ‒ patos e rãs e do uso de cores repelentes [o amarelo].
Conseguimos o índice de “zero” leishmaniose no Pitinga e a produção de cassiterita cresceu exponencialmente, incomodando os concorrentes. Esses associados ao “Thin Brothers”, o nome do cartel do estanho. Para se entender melhor a situação podemos registrar o número quinze; o mundo produzia então 150 mil toneladas de estanho por ano e consumia 135 mil e, as restantes 15 mil, eram estocadas para manter o preço, que estava em 15 mil dólares.
Quando a produção do Pitinga atingia as 10 mil toneladas/ano o “Thin Brothers” convidou o Presidente da Paranapanema para entrar no cartel, alegando que as vendas no Spot prejudicava a todos, mas só ofereceu uma cota de duas mil toneladas.
O Presidente Otávio Cavalcante Lacombe não aceitaria o sacrifício de 80% de sua produção enquanto os demais sacrificariam apenas 10%.
Em sequência o “Thin Brothers” ameaçou: “Vou quebrar vocês, tenho um estoque grande e oneroso e vou lançá-lo para baixar o preço”. Assim o fez, baixando progressivamente o preço até chegar aos 7 mil dólares por tonelada.
A maioria das outras minas fechou, pois este era praticamente o custo de sua produção. As demais minas do mundo produzem em média 80 gramas de estanho por metro cúbico em galerias profundas na rocha, enquanto a mina do Pitinga conseguia 3 Kg por m³ à flor da terra. Em um determinado local chamado “Morro Sagrado” eram retirados 6 Kg por m³. Com a parada da produção de suas minas, o cartel em desespero baixou o preço até pouco mais de 2 mil dólares por tonelada, ‒ apenas o custo da comercialização, numa tentativa final de quebrar a Paranapanema, mas mesmo assim a produção do Pitinga continuou aumentando. A Paranapanema aguentou o tranco e continuou aumentando sua produção.
Muitas vezes visitei a mina e levei companheiros a convite da Paranapanema e conversava com o Lacombe sobre o progresso do empreendimento. Certa vez me contou: descobrimos outra riqueza, a Tantalita-Volframita [a maior jazida do mundo], mas a que mais chamou minha atenção foi a de um mineral do qual eu nunca tinha ouvido falar.
Foi lá pelo ano de 1990, quando recebi um telefonema do Lacombe, contente da vida, me anunciando que haviam descoberto uma jazida da Creolita. Depois de dar-lhe os parabéns eu disse em tom jocoso:
‒ Já sei que é preto, mas para que é que serve?
‒ Deixa de ser preconceituoso.
Contestou Lacombe.
‒ Pois é um cristal vermelho. É indispensável para processar a bauxita na obtenção do alumínio e existe só uma mina e está em extinção. Será mais um setor que o nosso país vai dominar.
Naturalmente isto me impressionou, mas não me surpreendeu, tal a riqueza daquela área. Cerca de um mês depois, noutro telefonema, perguntei qual a situação da Creolita. Respondeu-me ele:
‒ Não estamos explorando e estamos recebendo um bom subsídio para deixar assim.
Indignado exclamei que não esperava isto dele, ao que ele respondeu:
‒ Por que não? Quase todas as usinas de alumínio no país são americanas ou canadenses e conseguiram, graças à corrupção, subsídios no fornecimento de energia elétrica tão grandes que, fazendo as contas, o país está pagando para eles extraírem e processarem o alumínio. Pois bem, eles só conseguem fazê-lo aqui com Creolita artificial e quem a fabrica é um industrial brasileiro e patriota ‒ Antônio Ermírio de Moraes ‒ que mete o dente e faz muito bem. Melhor ainda, divide conosco.
O Lacombe comentava comigo que, quando acabasse o estoque, eles teriam que refazer o estoque, e se não fosse refeito o produto do Pitinga ano a ano avançaria sobre o mercado.
Bem, aconteceu; o “Thin Brothers” se reestruturou, ficando o nosso País com a cota de 20 mil toneladas, tornando-se o segundo maior exportador do mundo. Lendo este relato parece que os nacionais ganharam a guerra, mas o “Thin Brothers” passou a financiar pesadamente os movimentos indianistas para, com os Atroaris, impedir o transporte de minério da mina.
Lá por 1990 ou 91 faleceram na mesma o sócio maior da Paranapanema ‒ Otávio Lacombe e o engenheiro que levava mina para frente ‒ o Coronel Nelson Dorneles da Silva; um num acidente automobilístico em São Paulo e outro num acidenta aéreo no Amazonas e a mina foi vendida.
Essas mortes são suspeitas. Sabemos que acidentes acontecem, mas quando os compradores anunciaram que a mina estava em exaustão e, que eu saiba, só no Morro Sagrado havia estanho para mais de 300 anos conclui que havia demasiadas coincidências para se acreditar sem deixar dúvidas, pois o jogo é bruto e não exclui assassinatos.
Como estará o Pitinga hoje? ‒ Não sei.
A entrada do estanho brasileiro no mercado internacional, na verdade, concorreu para colapso do “International Tin Council” (ITC), em 1985. Vejamos este pequeno histórico da Mineração Taboca, disponibilizado no seu site oficial:
LINHA DO TEMPO (www.mtaboca.com.br)
Em 1961, a Paranapanema, empresa de origem familiar na época, inicia sua história como empresa de construção civil pesada;
Em 1969, a Paranapanema descobre ocorrências de cassiterita – minério de estanho – na Região Amazônica e obtêm os direitos minerários em diversas áreas na província estanífera de Rondônia, fundando a Mineração Taboca S.A.;
Em 1973, a Paranapanema incorpora a empresa Mamoré Mineração e Metalurgia, verticalizando a produção, passando a produzir estanho refinado;
Em 1974, a Paranapanema, após anos de investimentos, consolida tecnologia de concentração de cassiterita, proveniente de depósitos aluvionários;
Em 1979, a Mineração Taboca, através de pesquisas geológicas, descobre os primeiros indícios promissores de existência de cassiterita, em afluentes do Rio Pitinga, no estado do Amazonas;
Em 1982, a Mineração Taboca inicia implantação e lavra na mina a 300 km de Manaus [AM], que passa a denominar-se Pitinga, gerando recursos que a transforma em um projeto autossustentado;
Em 1987, investimentos em pesquisa e desenvolvimento permitem à Mineração Taboca, avançar em tecnologias para processamento de minérios ricos em Nióbio e Tântalo, também presentes na mina de Pitinga;
Em 1996, um pool de fundos de pensão, adquire o controle acionário da Mineração Taboca, da Mamoré Mineração e Metalurgia, adotando o nome Paranapanema para denominar o novo conglomerado de empresas voltadas para produção de metais não ferrosos;
Em 2002, Mineração Taboca obtém Certificação ISO 9001:2000;
Em 2005, a Mineração Taboca SA arrenda as instalações da Mamoré Mineração e Metalurgia, no interior de São Paulo, consolidando as atividades de mineração e metalurgia de estanho sob uma única empresa;
Em 2006, após anos de pesquisas e investimentos, a Mineração Taboca inicia o processo de substituição do aluvião pela extração da rocha primária, projeto denominado “Rocha-Sã”;
Em 2008, o tradicional grupo minerador peruano Minsur, adquire o controle acionário da Mineração Taboca e da Mamoré Mineração e Metalurgia.
Por Hiram Reis e Silva (*), Bagé, 18.11.2022 – um Canoeiro eternamente em busca da Terceira Margem.
Bibliografia
JB, N° 338. Indígenas e ONGs em Manaus – Brasil – Rio de Janeiro, RJ – Jornal do Brasil, n° 338, 14.03.2009.
(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;
- Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)
- Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);
- Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
- Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);
- Ex-Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)
- Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
- Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
- Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);
- Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)
- Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
- Comendador da Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)
- Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).
- Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
- E-mail: [email protected].
[1] “Curiosamente” agendada para este período. (Hiram Reis)
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