No mês em que se celebra a consciência negra, o Museu Goeldi e o Centro de Estudos e Defesa do Negro do Pará (CEDENPA) inauguram exposição abordando as encruzilhadas entre o Continente Africano e as Américas. Objetivo é promover imaginários humanizadores dos povos africanos e de seus descendentes pelo mundo. Abertura é nesta quarta (30).
Agência Museu – Famoso por ser especializado na Amazônia, o Museu Goeldi possui uma coleção de itens africanos que foram doados à instituição na década de 1930, com itens que remontam ao século XIX. Este precioso patrimônio não é exposto desde 1984 e agora volta aos olhos do público na exposição “Diásporas – Artefatos africanos e de origem africana do acervo do Museu Goeldi”, com curadoria compartilhada com o Centro de Estudos e Defesa do Negro do Pará (CEDENPA). A abertura da exposição ocorre nesta quarta (30), no Centro de Exposições Eduardo Galvão, no Parque Zoobotânico.
Na programação especial de abertura, haverá a palestra “Diásporas Africanas na Amazônia”, proferida pela Profa. Dra. Zélia Amador de Deus.
As peças expostas incluem machados cerimoniais, espadas, figuras humanas em madeira e outros itens oriundos das atuais República de Angola; República Democrática do Congo; República Gabonesa; República da Guiné-Bissau; República do Sudão; República do Zimbabwe e República de Moçambique. Também há peças de comunidades afro-diaspóricas no Suriname, na América do Sul.
A técnica cultural e militante do CEDENPA, Maria Luiza de Carvalho Nunes, que participou do processo de curadoria das peças expostas, destaca que “existe um apagamento da memória do nosso povo. É como se a gente não soubesse fazer nada. E quando você vê obras de arte de um povo do qual nós somos herdeiros, que são nossos ancestrais, você vê a beleza de tudo que está sendo exposto, isso também tem uma importância para nossa autoestima. Eu não sou descendente de escravos: eu sou descendente de africanos e africanas que foram escravizados, mas que têm um trabalho de importância significativa para a humanidade”, explica.
Diáspora – Estimativas indicam que cerca de 11 milhões de pessoas foram forçadamente transportadas da África para as Américas por meio do tráfico de escravizados, das quais 5 milhões vieram para o Brasil. Uma história de violência, mas também de construção de novos modos de vida para enfrentar a desumanização da escravidão.
No material da exposição, a museóloga Dra. Luzia Gomes Ferreira, da Universidade Federal do Pará, destaca que “a relação África e Diáspora, ocorreu de forma forçada e violenta, devido ao tráfico de pessoas africanas escravizadas pelos europeus”.
Por isso, par a pesquisadora, “o papel dos museus, além serem locais de encanto, poética, aprendizagem, crítica e fruição, também devem ser espaços antirracistas, nos quais as heranças negro-africanas sejam apresentadas com dignidade, contribuindo para a descolonização do olhar, do sentir, do pensar e do imaginar”.
Para a técnica cultural e militante do CEDENPA, Maria Luiza de Carvalho Nunes, com a exposição “Diásporas”, “o CEDENPA ganha, a sociedade paraense ganha e ganha o Museu Emílio Goeldi, por estar abrindo suas portas para que o movimento possa dialogar com o acervo que já existe aqui”.
Coleção – A Coleção etnográfica africana do Museu Paraense Emílio Goeldi tem cerca de 490 peças. Reunida entre 1887 e 1904, a coleção foi adquirida na Ilha da Madeira pelo Coronel José Júlio de Andrade, seringalista e político paraense, e doada ao Museu Goeldi em 1933. Os objetos foram reunidos sem seguir critérios científicos, por pessoas desconhecidas, e, portanto, são um grande desafio para os pesquisadores desde que foram doados ao Museu Goeldi. Desafios relacionados a entender suas origens, bem como torná-los foco de entendimento sobre o legado dos povos africanos para o mundo.
Texto: Uriel Pinho
Serviço
Abertura exposição “Diásporas – Artefatos africanos e de origem africana do acervo do Museu Goeldi”
Local: Centro de Exposições Eduardo Galvão, no Parque Zoobotânico (Av. Magalhães Barata, 376 – São Brás, Belém – PA).
Data: 30 de novembro de 2022, quarta-feira
Horário: a partir das 10h, com a palestra “Diásporas Africanas na Amazônia”. Proferida pela Profa. Dra. Zélia Amador de Deus.
A exposição funcionará sempre de quarta a domingo, das 9h às 16h, seguindo os horários do Parque Zoobotânico do Museu Goeldi. A entrada no Parque custa R$3, com gratuidades e meia entrada previstos em lei. O ingresso já inclui a visita a todas as exposições e espaços públicos do Parque.
PUBLICADO POR: MUSEU GOELDI
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