Como e quando se formou a Amazônia? Essa é a pergunta que um Projeto Temático conduzido no Instituto de Geociências da Universidade de São Paulo (IGc-USP) busca responder. A iniciativa envolve instituições de 11 países, 60 pesquisadores – 30 deles sediados no Brasil – e é desenvolvida no âmbito do Programa FAPESP de Pesquisa em Mudanças Climáticas Globais (PFPMCG).

Postada em: FAPESP – Mudanças Climáticas

Intitulada “Projeto de Perfuração Transamazônica: origem e evolução das florestas, clima e hidrologia dos trópicos da América do Sul”, a pesquisa busca reconstituir o passado da Amazônia desde a sua origem, tendo como material fundamental os registros de sedimentos e rochas. Também pretende responder questões fundamentais como, por exemplo, de que forma as mudanças climáticas influenciaram a diversidade de plantas, a diversificação de espécies e a formação do rio Amazonas.

Os estudos sobre a origem da Amazônia ainda são escassos em dados geológicos, considerando a dimensão continental do bioma, e são mais baseados em modelos e hipóteses do que sustentados por evidências. Os dados disponíveis até o momento sugerem que a formação das florestas Neotropicais teria ocorrido durante o período Cenozoico, era geológica iniciada há aproximadamente 65,5 milhões de anos.

“A floresta como é hoje teria sido formada no período Cenozoico. Então, essa é a dimensão temporal do nosso projeto, reconstituir a história cenozoica da Amazônia”, conta André Oliveira Sawakuchi, professor do IGc-USP e coordenador do estudo.

O Projeto de Perfuração Transamazônica (TADP), como é chamado, é financiado pelo International Continental Scientific Drilling (ICDP), National Science Foundation (NSF) e Smithsonian Tropical Research Institute (STRI). Trata-se de um dos maiores programas de pesquisa já organizados para estudar a origem e evolução da Amazônia e sua relevância global. A FAPESP, uma das financiadoras, contribui com R$ 5,5 milhões para cobrir os custos de sondagens.

A coleta do material para a pesquisa (os testemunhos) será realizada a partir de perfurações de 800 a 2 mil metros de profundidade em locais escolhidos estrategicamente nos Estados do Acre, Amazonas e Pará. A ideia inicial era realizar cinco perfurações, sendo duas na bacia sedimentar do Amazonas, uma na bacia do Acre, uma na bacia do Solimões e outra na bacia do Marajó.

Segundo o professor da USP, diversas perfurações já foram realizadas na Amazônia desde a década de 1970, mas para outros fins, como descobrir reservas de carvão, petróleo e gás natural. De acordo com o acervo do Instituto Socioambiental, em 1976, por exemplo, a Petrobras já teria furado 200 poços na Amazônia. São localidades que já têm seções sísmicas que permitem ter uma ideia sobre a ocorrência e espessura dos sedimentos cenozoicos.

As amostras coletadas nessas perfurações, no entanto, não podem ser consideradas no estudo, já que não foram coletados testemunhos, ou seja, não fornecem a rocha na integridade exigida para a pesquisa. As operações de sondagens, com previsão de início no primeiro semestre de 2023, serão realizadas sequencialmente nas bacias do Acre, com perfuração a 2 mil metros, do Solimões, a 800 metros, e do Marajó, a 1.200 metros. Cada perfuração dura, em média, três meses de trabalhos ininterruptos.

“Os custos das sondagens subiram substancialmente [aproximadamente 32%] devido a diversos fatores. Os recursos que temos disponíveis permitirão realizar sondagens no Acre e Marajó. A bacia do Solimões está incerta e dependerá da busca de recursos financeiros adicionais”, esclarece Sawakuchi.

De acordo com o professor, a ideia é, a partir dos furos, reconstituir a história das florestas, do clima e dos rios da Amazônia. “Os sedimentos [areias e lamas] acumulados ao longo do tempo nas bacias sedimentares estão organizados em camadas, que são como um arquivo do passado. Então, quanto mais fundo conseguirmos perfurar, mais avançamos no nosso conhecimento sobre a história natural da Amazônia”, esclarece.

Os pesquisadores envolvidos acreditam que esse estudo trará avanços científicos de grande relevância, pois possibilitará compreender a origem e as transformações da Amazônia e da Bacia Hidrográfica do Rio Amazonas, elementos fundamentais do sistema climático global.

Apesar das sondagens ainda não terem sido iniciadas, encontram-se em andamento estudos sobre sedimentos e rochas aflorantes (acessíveis na superfície) e estudos filogenéticos.

A previsão para iniciar a sondagem é fevereiro de 2023, no Acre, em um trabalho que será realizado 24 horas por dia, sete dias por semana. O material colhido começará a ser estudado neste projeto, mas demandará décadas de estudos mais detalhados.

Agência FAPESP – Com informações de Cristiane Bergamini do Programa FAPESP de Pesquisa em Mudanças Climáticas Globais (PFPMCG).

PUBLICADO POR: FAPESP 

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