De acordo com Pedro Luiz Côrtes, isso dá brechas para que grileiros e comerciantes de madeira ilegal explorem ao máximo esses territórios

Levantamento feito pelo Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) revelou que, nos oito primeiros meses do ano, uma área equivalente a quase sete vezes o município do Rio de Janeiro foi desmatada. O período observado, e que compreende os meses de janeiro a agosto deste ano, revelou que o porcentual foi o maior em 15 anos.

O Simex, rede desenvolvida pelo Imazon, que conta com entidades como o Imaflora, Idesan, ICV e o próprio Imazon, também apontou que a região de extração de madeira ilegal nos territórios indígenas do Pará aumentou 11 vezes, em um período de 12 meses. A região explorada aumentou de 158 hectares para 1.720 hectares, equivalente a uma taxa de quase 1.000%.

O desmonte significativo dos órgãos de controle e fiscalização, como o Ministério do Meio Ambiente, Ibama e ICMbio, é um dos pontos-chave que o professor Pedro Luiz Côrtes relaciona ao crescimento de áreas desmatadas no País. Ele também adiciona à discussão a questão envolvendo “a fiscalização muito tênue, que vem sendo cada vez mais reduzida” com as eleições deste ano diante da possibilidade de troca no governo federal.

Isso dá brechas para que grileiros e comerciantes de madeira ilegal explorem ao máximo esses territórios, que é “combinado com a insistência em manter o mesmo modelo econômico, tendo o desmatamento como base”, explica Côrtes.  E mesmo que, em contrapartida, esses locais representem um potencial de exploração do turismo amazônico, além da produção de fármacos e produtos químicos a partir da flora, o que não gera benefícios no âmbito da geração de empregos, melhorias sociais, além de impactar a fauna e a flora amazônica.

Como os números repercutem

Côrtes também salienta que a prática não possui nenhum tipo de índice de desenvolvimento econômico atrelado à atividade, já que o problema em questão repercute na comercialização de itens agrícolas brasileiros no mundo. Ele ressalta o caso do Parlamento europeu, que aprovou um projeto de lei que visa à proibição de produtos procedentes de áreas de desmatamento, o que põe o Brasil em uma situação delicada ambiental e economicamente falando, segundo ele: “Os prejuízos já estão sendo observados, e nós teremos ainda prejuízos maiores se seguirmos nessa toada”, adiciona.

Para Côrtes, é necessário então recompor as estruturas de fiscalização, bem como os órgãos responsáveis por essas áreas. Isso pode ficar custoso para a União, uma vez que demanda recursos e vontade política.

Texto: Redação – Arte: Simone Gomes

A reprodução de matérias e fotografias é livre mediante a citação do Jornal da USP e do autor. Recorde de desmatamento em terras indígenas tem a ver com desmonte de órgãos de fiscalização – Jornal da USP  

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