“Trazer a questão da Amazônia para o centro das atenções é algo fundamental para as futuras gerações”, escreve Vanderlan da S. Bolzani, professora-titular do IQ/Unesp de Araraquara, membro do Conselho SBPC e presidente da Aciesp

Assistimos hoje ao processo de desmatamento da Floresta Amazônica com o sentimento de impotência diante daquilo que não podemos impedir. As notícias se sucedem a cada dia dando conta de novas áreas desmatadas e os alertas sinalizam para um quadro alarmante. Na semana que precedeu o Dia da Amazônia, que se celebra hoje, o cientista e ambientalista Carlos Nobre, em entrevista ao jornal O Globo (29/08), previu que, no ritmo atual, em 20 anos o processo de destruição chegará ao ponto de “não retorno” e a floresta se tornará um tipo de savana, o que significa uma catástrofe não apenas para o Brasil, mas para o mundo.

Também na semana passada (30/08), o jornal The Washington Post, um dos principais porta-vozes do mundo corporativo norte-americano, dedicou ampla matéria de capa para mostrar os números crescentes do desmatamento, ressaltando que nada está sendo feito pelos brasileiros para impedir.

Ações pontuais de ambientalistas ou de ativistas dedicados podem ajudar na luta contra a destruição da floresta. Mas sabemos que as decisões importantes são tomadas no âmbito da política institucional. Em princípio, pelo poder Executivo, a quem cabe definir políticas, dirigir órgãos regulatórios, de controle e vigilância. Mas é inegável a responsabilidade do Congresso, dos parlamentares que elegemos, no desenrolar desse processo. Se contássemos com uma parte expressiva do Legislativo comprometida com os interesses do País, com a pauta ambiental e com o desenvolvimento sustentável, o processo de destruição poderia ser contido.

Isso confere às eleições de 2022 uma importância única na história do Brasil. Mesmo que possamos contar no futuro com a existência de um poder Executivo de visão progressista e alinhado à causa da preservação do meio ambiente, é essencial a ação parlamentar que lhe dê sustentação. Sabemos, no entanto, que a eleição de um parlamentar depende de vários fatores, e os recursos financeiros têm peso decisivo no sucesso de uma campanha eleitoral.  Recursos que existem em grande quantidade nas mãos dos que querem continuar a exploração predatória e irresponsável. Mas as regras do sistema eleitoral abrem espaço também para a mobilização da sociedade através da veiculação de informações sobre candidatos e suas propostas. Quem são os candidatos comprometidos com a proteção dos nossos seis biomas – Amazônia, Mata Atlântica, Cerrado, Caatinga, Pampa e Pantanal?

A Amazônia é um grande desafio enfrentado hoje pelo País e como podemos colaborar para ampliar a consciência da sociedade de que a preservação da Amazônia não é uma questão regional. É nacional, ou, ainda, mundial. Há razões para essa falta de atenção, uma vez que a pauta política do País é ditada pelos grandes centros econômicos do Sudeste e do Sul.

Trazer a questão da Amazônia para o centro das atenções é algo fundamental para as futuras gerações, quer sejam seus integrantes gaúchos, mato-grossenses, cariocas ou de qualquer canto deste imenso país.

O processo de degradação, além de representar uma ameaça de consequências imprevisíveis para o meio ambiente, significa para os brasileiros das próximas gerações a perda de um patrimônio exclusivo herdado da natureza. Um patrimônio que, com os recursos da ciência, de modo sustentável, pode ser transformado em riquezas para os que nascerão no Brasil nas próximas décadas.

As decisões sobre esse futuro, ou parte delas, serão tomadas também nos próximos dias com as escolhas que os eleitores farão dos parlamentares que ocuparão o Congresso Nacional na próxima legislatura.  A nossa rica biodiversidade é hoje tema mundial não somente devido aos recursos naturais de nosso país, mas porque abriga um arsenal molecular inigualável, destacado como ambiente de grande riqueza natural no planeta.

* O artigo expressa exclusivamente a opinião de seus autores

PUBLICADO POR:  JORNAL DA CIÊNCIA SBPC