A corrida com tora é uma atividade tradicional indígena praticada por diferentes etnias no país, obedecendo ritos e costumes que abrangem significados sociais, religiosos e esportivos. Entre as populações que realizam a maratona então os Krahô, Xerente e Apinajé, do estado do Tocantins; os Kanela e os Krikati, do Maranhão; os Gavião, do Pará; e os Xavante, do estado de Mato Grosso.

Foto: Mário Vilela/Funai

Para a etnia Khraô, a modalidade está associada a algum ritual, segundo o qual variam os grupos de corredores, assim como o percurso e o tamanho dos troncos. As corridas são realizadas sempre com duas toras praticamente iguais. Os participantes se dividem em dois grupos de corredores rivais, cabendo apenas a um atleta de cada grupo carregar a tora, revezando-se em um mesmo percurso. As corridas se realizam no sentido de fora para dentro da aldeia, nunca de dentro para fora, ou mesmo dentro dela, quando são estabelecidos os pontos de largada e chegada no pátio de uma casa chamada woto, uma espécie de oca preparada para as práticas culturais, sociais e políticas.

Nas aldeias Khraô, a corrida é sempre realizada ao amanhecer e ao entardecer. As corridas vindas de fora acontecem geralmente no final da tarde, quando os Krahôs retornam de alguma atividade coletiva, como caça e roça. Ela é praticada também nos rituais, festas e brincadeiras. Nesses casos, as toras podem representar símbolos mágico-religiosos, como durante o ritual do “Porkahoks”, que simboliza o fim do luto pela morte de algum membro da comunidade. Pela manhã, a corrida ganha um sentido de ginástica para a preparação do corpo. Corre-se com as toras ao redor das casas, no sentido anti-horário.

Já os Xavante realizam a corrida com tora, o “Uiwed”, entre duas equipes de 15 a 20 pessoas. Eles pintam os corpos e correm mais de cinco quilômetros, revezando até chegar ao “Wa’rãm’ba”, o centro da aldeia, onde iniciam a Dança do “Uwede’hõre”. Na festa do “U’pdöwarõ”, a festa da comida, também existe a corrida com tora, mas nesse evento o tronco usado é maior e mais pesado.

A etnia Gavião também possui grandes corredores de tora. Há uma peculiaridade que é o “Jãmparti”, uma corrida com uma tora que pesa mais de 100 quilos, comprida e carregada por dois atletas. Essa atividade é realizada sempre no período final das corridas de toras comuns, ou seja, aquelas nas quais o objeto é carregado por um atleta apenas. Em todas essas manifestações há a participação das mulheres. Não há um prêmio para o vencedor, pois somente a força física e a resistência são demonstradas.

Preparação das toras

Geralmente, as comunidades confeccionam as toras com o tronco de uma palmeira chamada buriti, uma espécie de coqueiro, considerado sagrado pelos Krahô. Do buriti, os indígenas aproveitam praticamente tudo, desde seu fruto, como alimento, folhas para cobertura de casa e confecção de artesanatos, com cestarias e abanos, até o tronco para rituais e atividades esportivas.

Na preparação de corte dessa madeira, há um ritual de cantos e danças. A madeira é derrubada e cortada em duas partes, em forma de cilindros em tamanhos iguais. Na extremidade da tora é feito um tipo de cava para facilitar seu carregamento. As toras possuem tamanhos variados, de acordo com o ritual a ser realizado, pesando de dois a 120 quilos. Muitas toras são mantidas dentro do rio para que seja absorvida mais água e, assim, fiquem mais pesadas.

Assessoria de Comunicação / FUNAIcom informações da Secretaria da Educação e do Esporte do Paraná