A arte cerâmica faz parte do sistema de cultura material de diversas populações indígenas do país, entre elas a etnia Baniwa, que vive na região amazônica do Alto Rio Negro, estado do Amazonas, nas proximidades do município de São Gabriel da Cachoeira. Cestos de carga, facas, pedras de polir, tábuas, cuias, bacias e abanos trançados estão entre os materiais e ferramentas utilizados na produção da cerâmica pelas mulheres Baniwa.

Foto: Acervo/Museu do Índio

A massa é feita de barro selecionado misturado às cinzas da casca de uma árvore chamada Caraípe. Já objetos são modelados geralmente por meio de uma técnica “acordelado”, na qual são realizados rolos com a massa que, por sua vez, são adicionados um a um até atingir o formato e a dimensão desejados pela ceramista Baniwa. Na sequência, ocorre a secagem da peça.

Após essa modelagem inicial, a ceramista define a forma dos potes com o auxílio de um pedaço de cuia, abrindo e estreitando as suas paredes por meio da raspagem. O resultado será uma peça mais leve e delicada. Em seguida, quando a peça atinge o “ponto de osso”, inicia-se o polimento utilizando pedras especiais, que trará brilho e ainda mais leveza aos potes.

Na pintura dos potes de cerâmica, normalmente é empregado o pigmento eewa, encontrado em raros depósitos localizados no leito dos rios, acessíveis somente em determinados períodos do ano, quando as águas baixam. Seguido da etapa de pintura ocorre a técnica de queima, geralmente nas roças próximas às aldeias. As peças não podem ficar expostas à chuva nem ser aquecidas muito rapidamente durante o processo.

Após a queima, as peças se transformam completamente: antes de cor cinza, com padrões pintados em amarelo, tornam-se claras, com padrões vermelho-alaranjados. A mudança de cor do pigmento é resultante da oxidação dos minerais ferrosos presentes em sua composição.

O envernizamento é a última etapa do acabamento das peças decoradas com grafismos. O procedimento é feito com resina vegetal de um arbusto chamado “oomapihitako” em Baniwa. Pode também ser realizado com a seiva do Jutaí, árvore da família do Jatobá. Os potes destinados a ir ao fogo para o cozimento de alimentos são impermeabilizados por meio de uma técnica de defumação.

A cerâmica é uma técnica exclusivamente feminina entre os Baniwa, transmitida de geração a geração. A forma tradicional de aprendizado ocorre durante a reclusão que segue a primeira menstruação das jovens indígenas. As panelas feitas neste contexto são utilizadas nos rituais de iniciação feminino e masculino praticados ainda hoje em determinadas aldeias da etnia.

A “cerâmica branca” produzida pelas mulheres Baniwa é um importante marcador de identidade no sistema interétnico do Alto Rio Negro. Os potes claros com grafismos vermelhos se contrapõem à cerâmica com acabamento escuro, acompanhada de “pintura em negativo”, característica da produção das mulheres da etnia Tukano que também habitam a região. Embora distintas no acabamento, as duas tradições cerâmicas são encontradas em formatos semelhantes, como panelas, tigelas, taças e bilhas.

Assessoria de Comunicação / FUNAIcom informações do Museu do Índio