Primeiro aniversário de criação do Zoobotânico comemorado presencialmente desde o início da pandemia de Covid-19, as celebrações do último domingo festejaram o último fragmento florestal da área central da capital do Pará. A programação destacou a importância da ciência e da natureza para os povos amazônicos.
Agência Museu Goeldi – Aberto em 1895, o Parque Zoobotânico do Museu Goeldi nunca para. Os ciclos da natureza continuam, com suas árvores e flores crescendo, e seus animais seguindo suas rotinas, acompanhados por tratadores, biólogos e veterinários. Mas, com o início da pandemia de Covid-19, por um tempo isso tudo precisou acontecer longe dos olhos do público. Por isso, desde que reabriu para visitas no ano passado, retornar ao Parque Zoobotânico acaba sendo, para muitos, um reencontro com o que há muito não era visto – natureza, ciência e aprendizados neste local de memórias e diversidade amazônica.
Na celebração dos 127 anos do Parque Zoobotânico no último domingo (28), tudo foi pensado para garantir encontros com o melhor que este espaço centenário tem a oferecer. Na programação “Domingo é dia de Ciência”, organizada pelo Serviço de Educação do Museu Goeldi, estandes compartilhavam, de forma lúdica, diversos conhecimentos sobre a flora, a fauna e as populações amazônicas. Quase 2 mil pessoas passaram pelo Parque durante seu horário de funcionamento, das 9h às 15h.
Um bolo de flores com mais de 2 metros de altura, feito pela equipe de jardinagem do Parque Zoobotânico com mudas de diversas plantas cultivadas no espaço, causou grande admiração nos visitantes do dia. Um dos responsáveis pelo bolo, o jardineiro Jair Roberto, explica que “No bolo temos Alpinia, Maranta, Copo-de-Leite, Dracena, etc. Fizemos as mudas e criamos o formato do bolo, fizemos uma base e fomos montando até chegar nesse resultado”.
Ao redor do bolo, a equipe do Museu Goeldi recepcionava os visitantes. Estavam presentes os estudantes do Clube do Pesquisador Mirim, os museólogos e educadores da Coleção Didática Emília Snethlage, os educadores e bibliotecários da Biblioteca Maria Clara Galvão, além dos participantes da oficina inclusiva de modelagem de animais em argila, a partir das percepções de pessoas cegas.
Visitantes premiados – Uma das surpresas do dia foi a premiação dos 126º e 127º visitantes a entrarem no Parque. Como no ano passado não foi possível comemorar os 126 anos do espaço presencialmente, o Serviço de Educação do Museu Goeldi escolheu esses dois números para também celebrar o aniversário passado.
Os visitantes de sorte foram o pequeno José Eduardo, de 8 anos, e sua bisavó Albertina Lima, 84. Os dois ganharam uma pasta com publicações e brindes do Museu Goeldi. Eles vieram de Icoaraci, distrito de Belém. Junto com eles, estavam a mãe e o pai de José Eduardo, Fabiola e Sandro, e sua avó Helena.
Fabiola conta que traz Eduardo desde pequeno ao Parque Zoobotânico e sempre que possível também a outros locais com natureza, como o Mangal das Garças e a orla de Icoaraci. “Temos que dar valor aqui ao Museu. É muito importante manter as crianças em comunhão com as plantas e com os animais, para elas irem crescendo sabendo que é importante preservar”, opina.
José Eduardo diz que não esperava ser premiado, mas que foi “legal, incrível e demais”.
“Achei que dentro da pasta ia ter algum bicho, mas eram muitos cadernos”, pontua, olhando o brinde entregue pelo Serviço de Educação. Ele diz que veio ao Parque com vontade de ver a onça e que agora já viu tanto uma onça ao vivo quanto a onça taxidermizada, exposta pela da Coleção Didática Emília Snethlage. Antes de correr para brincar com um dos kits do Clube do Pesquisador Mirim, ele faz uma recomendação para outras crianças: “vocês deveriam ir lá no Museu, tem animais, tem uma onça, só que ela não morde. E várias outras coisas”
Leitura – Em um dos cantos do grande espaço de celebração que se formou aos pés da samaumeira mais jovem do Parque, estava o Carro da Leitura. Zeneida Britto, bibliotecária do Museu e responsável pelo estande, conta que os visitantes estavam conferindo com o Carro da Leitura uma amostra do que Biblioteca Clara Galvão do Parque Zoobotânico oferece, com jogos, contação de histórias e atividades de desenho livre.
“A maioria das pessoas vem aqui para ver os animais e as plantas, mas é muito importante para comunidade conhecer outros serviços que nós temos aqui dentro”, convida Zeneida Britto. A Biblioteca Clara Galvão funciona das 8h30 às 11h30 e de 13h30 às 16h30 de segunda a sexta, e aceita agendamento de atividades com escolas, além de visitas individuais para estudo e consulta de seu acervo.
Animais – O Parque Zoobotânico é lar de quase 3 mil animais. Quando o ciclo de vida deles chega ao fim, alguns são taxidermizados. Um dos estandes mais movimentados da programação foi o da Coleção Didática Emília Snethlage, que trouxe alguns desses antigos moradores para exposição. A curadora da Coleção Didática, Neuza Freire, explica que ela é dividida em quatro grandes áreas de pesquisa do Museu Goeldi (Geociência, Zoologia, Botânica e Antropologia), mas “para o evento de aniversário do Parque, nós escolhemos trazer os animais taxidermizados, pois percebemos que desperta mais interesse, justamente por essa questão da identificação, da memória que o público tem. Muitas pessoas já disseram ‘ah eu já vi essa onça preta quando eu era criança!’, então foi justamente com o intuito de resgatar essa memória afetiva”, pontuou.
Outro estande, o do Clube do Pesquisador Mirim, expôs resultados de estudos do projeto e apresentou brincadeiras interativas com o público. A integrante do clube, Giulia Ferreira, 14 anos, contou como funciona o aprendizado durante as aulas. “Nossa professora nos apresenta pessoas que trabalham no Museu e que tem a ver com a nossa área, como paleontólogos, biólogos, museólogos, etc. E eles nos ensinam muito através da experiência que eles têm e então fazemos atividades referentes a isso. Eu acho muito bom podermos passar para as pessoas um pouco da nossa experiência para que talvez elas possam incentivar os filhos, os parentes a terem mais aprendizados na área da ciência e biologia”, ressalta a estudante.
Acessibilidade – A oficina de produção de animais em argila foi outra dinâmica presente na comemoração. O facilitador da oficina, Thiago Ferreira, é deficiente visual e já havia participado de oficina com orientação do educador do Museu Goeldi, Alcemir Aires. Dessa vez, voltou como facilitador da atividade para o aniversário do Parque
“Para mim está sendo muito gratificante porque é uma experiência nova. Eu sempre mexi com argila e então o meu amigo Alcemir me deu essa ideia de fazermos a oficina para modelar os animais e as pessoas entenderem um pouco sobre como é o meu processo. Principalmente as crianças estão se esforçando muito para interagir e tentar fazer algo que nunca tentaram”, diz Thiago.
Bruna Matos, estagiária do Serviço de Educação do Museu, explicou que a oficina foi pensada para que “as pessoas possam ter a perspectiva de como as pessoas com deficiência visual enxergam o mundo, principalmente através do tato. No primeiro momento as pessoas podem observar os animais, mas então nós pedimos para vendar os olhos e toquem os detalhes e as texturas do animal, para depois tentar modelar em argila e levar um pouco dessa conscientização sobre como as pessoas com deficiência visual se utilizam dos outros sentidos”.
História – Primeiro de seu tipo no Brasil, o Parque Zoobotânico do Museu foi criado em 1895, quando o naturalista suíço Emilio Goeldi transferiu as atividades do Museu Paraense (criado em 1866 como Associação Philomática) para uma casa de campo típica da época, conhecida como “rocinha”. De um lado da rocinha, construiu um zoológico, e do outro, um jardim botânico. Exposições das coleções científicas eram organizadas no prédio central e desde sua abertura o espaço contou com popularidade massiva entre o público de Belém. Hoje, é a base mais antiga do Museu Paraense Emílio Goeldi, Instituto de Pesquisa vinculado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação do Brasil. O Museu tem também seu Campus de Pesquisa, em Belém (PA), a Estação Científica Ferreira Penna, na Floresta Nacional de Caxiuanã (PA), e seu Campus Avançado, que no futuro será convertido no Instituto Nacional de Pesquisas do Pantanal, em Cuiabá (MT).
Texto: Uriel Pinho e Kauanny Cohen – PUBLICADO POR: MUSEU GOELDI
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