Região promissora, mas alvo de crescente desmatamento e queimadas, o Sul do Amazonas recebe até o hoje, 1º de julho, o “Encontro Anual da Aliança para o Desenvolvimento Sustentável do Sul do Amazonas (ADSSA)”. Em Humaitá (AM), membros dos governos estadual e municipais debatem com representantes de organizações da sociedade civil e de comunidades tradicionais sobre impactos de uso inadequado dos recursos naturais, bem como a respeito de estratégias para a implementação de políticas públicas ambientais nos municípios.
De acordo com a pesquisadora e coordenadora de projetos do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) Jarlene Gomes, presente nos três primeiros dias de evento, a participação do instituto, assim como de outras entidades, contribui para o levantamento de informações estratégicas e de qualidade, capazes de subsidiar gestores estaduais e municipais e iniciativas privadas na tomada de decisão referente a planejamento e à priorização de ações para conservação.
“O evento é essencial no fortalecimento da governança local dos dez municípios que formam a região, principalmente para a elaboração e a implementação de políticas públicas nas cidades amazonenses como, por exemplo, reduzir impactos da dinâmica de uso dos recursos naturais e consolidar a agenda positiva inerente ao desenvolvimento com bases sustentáveis”, destaca Gomes.
Endossando o discurso, o secretário-geral do CNS (Conselho Nacional das Populações Extrativistas), Dione do Nascimento Torquato, acredita que o debate conjunto possibilita a percepção mais efetiva sobre quais são, de fato, as demandas de cada território. “E a partir dessa escuta, dessa troca, conseguimos propor estratégias muito mais assertivas junto aos municípios, aos Estados e às organizações de apoio.”
A pesquisadora acrescenta, contudo, que esta é uma oportunidade não só para apontar problemas, como também para apresentar e estruturar soluções. “O desmatamento na Amazônia traz impactos que vão muito além da perda de florestas e de biodiversidade, atingindo as regiões como um todo, social e economicamente. Essa aliança entre sociedade civil, setor privado e os diversos entes federativos tem um papel fundamental na conservação florestal e no bem-estar socioeconômico local.”
Positivamente surpreso com a mobilização presencial dos participantes, o secretário executivo da Aliança, Josimar Fidelquino, estima que, apenas no primeiro dia, compareceram 95 pessoas. “Aguardávamos 50 após essa lacuna pós-pandemia!”. Ele destaca ainda a importância que os encontros vêm gerando para todas as comunidades e setores. “Um lugar que permite a todos esses grupos sentarem com membros do governo, não para ‘bater’, não para apenas ‘apontar erros’, mas sim para ajudar a construir soluções. Este é o principal viés da Aliança para o Desenvolvimento Sustentável do Sul do Amazonas, que busca simplesmente aquilo que está no seu nome.”
Além do IPAM e do CNS, participam do evento sindicatos, associações filiadas, a Coiab (Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira), representantes de prefeituras de municípios do sul do Amazonas (secretarias municipais de Meio Ambiente) e governo do Estado do Amazonas, dentre outras organizações não governamentais.
Movimentos sociais locais no centro da conversa
Espaço para reflexões e de compartilhamento de informações do atual cenário enfrentado pela região nesta sexta-feira (1º/7), os debates setoriais concentram participações de representantes de movimentos sociais como trabalhadores da agricultura familiar, pela Fetagri (Federação dos Trabalhadores na Agricultura); povos indígenas, por meio da Coiab; e extrativistas, pelo CNS.
Nos dois primeiros dias, a Aliança convocou reunião ordinária. Na ocasião, grupos buscaram construir estratégias de apoio ao planejamento e à implementação de grandes projetos incidentes na região do Sul do Amazonas, além de viabilizar táticas e apoio a operadores de políticas públicas de interesse da ADSSA e da região. O debate ainda trouxe à luz ações referentes a temas como produção e extrativismo, regularização fundiária e ambiental, desmatamento e queimadas.
A elaboração de planos de ação estruturados e integrados a políticas públicas com incentivos, bem como apoio a boas práticas voltadas para economias de base florestal sustentável e de baixas emissões de GEE (Gases do Efeito Estufa), segundo a pesquisadora do IPAM, são a chave para a organização do território no Estado e a otimização do uso dos recursos.
Parte da programação, o ADSSA planeja também analisar os avanços conquistados desde o último encontro presencial, há dois anos, afetado pela pandemia do coronavírus, e tecer coletivamente os próximos passos.
A união faz a força
A Aliança para o Desenvolvimento Sustentável do Sul do Amazonas (ADSSA) é uma rede que envolve instituições governamentais, não governamentais e setor privado e que trabalha na promoção do desenvolvimento socioeconômico aliado à conservação da natureza. Criada entre 2016 e 2017, o grupo articula organizações em dez municípios da região Sul do Amazonas, operando como um fórum de debate apartidário, sem identidade jurídica e sem fins lucrativos.
PUBLICADO POR: IPAM AMAZÔNIA
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