Combinando a experiência prática dos órgãos estaduais ambientais e as análises científicas, participantes do evento apontaram uma seleção de indicadores que permitem avaliar a qualidade da regeneração natural em diferentes momentos no tempo, a partir de uma base de dados de experiências em mais de 500 florestas em regeneração na Amazônia.
Agência Museu Goeldi – A Oficina “Monitoramento da integridade ecológica da regeneração natural na Amazônia” reuniu especialistas para analisar e propor indicadores que melhor descrevem o progresso das iniciativas de restauração ecológica usando a regeneração natural. O resultado vai auxiliar os órgãos estaduais de Meio Ambiente na implantação e acompanhamento dos Planos de Recuperação de Áreas Degradadas (PRADAs) no âmbito do Código Florestal.
O evento aconteceu entre os dias 22 e 23 de junho na Ilha do Mosqueiro em Belém – Pará e foi uma iniciativa do grupo de pesquisadores do Projeto SinBiose-Regenera (Uncovering and classifying the ecological integrity of Amazonian secondary forests) que é apoiado pelo Centro de Síntese em Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos – SinBiose do CNPq (www.sinbiose.cnpq.br). A oficina foi organizada pelas pesquisadoras Rita Mesquita (INPA), Catarina Jakovac (UFSC), André Giles (INPA) e Ima Vieira (Museu Goeldi). Participaram representantes das Secretarias de Meio Ambiente do Acre, Amazonas, Amapá, Rondônia e Pará, além do Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas – IPAAM.
Rita Mesquita, pesquisadora do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – INPA e coordenadora do Projeto SinBiose – Regenera, explica que “indicadores robustos e de fácil aplicabilidade pelos órgãos de assistência técnica, extensão rural e ambientais são essenciais para garantir que os planos de recuperação de áreas degradadas não estejam apenas criando uma cobertura verde de baixo valor social e ecológico, mas estejam efetivamente recuperando os serviços ambientais.” Para auxiliar nesse trabalho, Mesquita convidou 19 participantes
A regeneração natural da floresta é uma estratégia de baixo custo priorizada pelos órgãos para a recuperação da reserva legal e das áreas de preservação permanente em pequenas e grandes propriedades rurais. O monitoramento via satélite indica que aproximadamente 20% das áreas desmatadas da Amazônia estão cobertas por florestas em regeneração. Isso pode parecer uma boa notícia, mas muitas destas florestas estão regenerando em áreas sujeitas à degradação pelo fogo e uso intensivo do solo, gerando uma regeneração natural lenta, de baixa diversidade e baixas taxas de sequestro de carbono. Em tais situações, a restauração ecológica efetiva requer intervenções como o manejo de espécies invasoras, o enriquecimento de espécies através de semeadura direta ou plantio de mudas, entre outras.
Atualmente poucos estados da Amazônia têm indicadores objetivos para fazer o acompanhamento dos planos de recuperação de áreas degradadas implantados. Os técnicos de órgãos estaduais ressaltaram que indicadores robustos e valores de referência são necessários, pois possibilitam avaliar se um PRADA baseado em regeneração natural está cumprindo sua obrigação de recomposição da vegetação nativa.
Eles precisam saber, por exemplo, quantas espécies e qual o tamanho que as árvores deveriam ter em uma capoeira de 5 anos para dizer se a restauração ecológica está efetivamente acontecendo. Indicadores e valores de referência são também dados essenciais para a quitação do compromisso do proprietário de uma terra junto ao órgão ambiental.
Na formulação de indicadores, o grupo de participantes da oficina se baseou nos resultados científicos oriundos de uma base de dados compilada pelo Projeto SinBiose-Regenera, que inclui indicadores avaliados em mais de 500 florestas em regeneração ao longo da Amazônia. Dentre os indicadores avaliados estão riqueza e diversidade de espécies, área basal, cobertura da vegetação, altura do dossel e diversidade de tamanho das árvores. Combinando a experiência prática dos órgãos estaduais ambientais e as análises científicas, o grupo fez uma seleção de indicadores que permitem avaliar a qualidade da regeneração natural em diferentes momentos no tempo. Tal resultado continuará sendo trabalhado pelo grupo para gerar uma nota técnica com diretrizes que auxiliem no processo de regularização ambiental das propriedades rurais garantindo eficiência ecológica no processo de recuperação da vegetação nativa.
Para a pesquisadora do Museu Goeldi, Ima Vieira, a dinâmica do grupo funcionou muito bem e a equipe conseguiu conciliar os resultados do projeto com as demandas dos órgãos. “O conhecimento científico tem uma enorme importância como subsídio para a tomada de decisões sobre as políticas públicas, mas nem sempre há boa comunicação entre pesquisadores, técnicos e gestores. Ainda há muito a ser feito para avançarmos na agenda da restauração na Amazônia, mas oferecer respostas às questões importantes, como as que tratamos na Oficina, nos animou a seguir com essa interlocução”, afirma a pesquisadora Ima Vieira.
Edição: Joice Santos com contribuição dos pesquisadores.
PUBLICADO POR: MUSEU GOELDI
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