O cultivo de café se consolidou como uma das principais atividades produtivas da etnia Paiter-Suruí no município de Cacoal, em Rondônia. A cafeicultura virou fonte de renda para as comunidades, cuja receita em 2021 chegou a R$ 634 mil. Entre maio e junho, uma nova safra é colhida nos mais de 70 mil pés de café plantados da região, com expectativa de superar o número de sacas comercializadas no ano passado.

Foto: FUNAI

Nesta série especial, a Fundação Nacional do Índio (Funai) apresenta os detalhes desse exemplo bem-sucedido de etnodesenvolvimento e autonomia indígena. Confira!

Por meio da unidade localizada em Cacoal, a Funai apoia os cafeicultores indígenas Suruí em atividades como o transporte de mudas de café, o escoamento da produção e a preparação do solo para o plantio. “Cada etnia possui autonomia para escolher a atividade produtiva conforme suas tradições e de acordo com as características de cada região. E a Nova Funai tem atuado para valorizar essas escolhas, fortalecendo seus modos de produção e suas iniciativas”, pontua o presidente da Funai, Marcelo Xavier.

No Norte do país, o município de Cacoal é conhecido como a capital do café. A relação dos indígenas com a prática e o plantio começou com a homologação da Terra Indígena Sete de Setembro, na década de 1980. De acordo com o agricultor Wilson Nakodah, uma parte da área possuía café cultivado por colonos vizinhos. “Assim, começamos a fazer uso da prática do plantio de café para geração de renda. Com o tempo, erros e acertos, fomos aprendendo a cuidar melhor do cultivo”, explica Wilson.

O produtor fala com orgulho sobre a transformação que o café trouxe para a sua família. “Eu gosto do que eu faço. Se eu não estiver no meio da lavoura eu fico triste. Hoje são 30 mil pés de café plantados, com muito esforço e dedicação. Meu sonho é que meus netos possam continuar com esse trabalho futuramente”, afirma.

Wilson ressalta o apoio da Funai e a parceria que se estende ao longo dos anos. “Hoje eu não tenho o que reclamar da Funai. Temos uma Coordenação Regional que faz o possível para nos ajudar. Nós sempre pedimos mais autonomia para a Funai e agora estamos conseguindo. Na primeira safra em 2013, produzimos 50 sacas de café, em 2018 já foram 250 sacas. E assim vamos aumentando a produção e melhorando a qualidade, com o apoio técnico necessário”, destaca o produtor.

Com o passar dos anos, os Paiter-Suruí contribuíram para consolidar o sucesso do cultivo do café especial. A parceria com a iniciativa privada coroou a experiência sustentável em 2018 quando, com o apoio da Funai, a produção do café indígena passou a ser vendida para o grupo 3Corações, por meio de acordo que prevê o aumento da produtividade com foco na qualidade do café especial sustentável.

O presidente da Cooperativa de Produção e Extrativismo Sustentável da Floresta Indígena Garah Itxa, Celso Suruí, conta que, em 2021, cerca de 1.200 sacas de café foram comercializadas pela cooperativa junto à empresa. “Agora estamos começando uma nova safra, com expectativa de superar o número de sacas vendidas para a 3Corações. Esse projeto nos ajuda a proporcionar equilíbrio, conseguindo recursos financeiros, melhoria de vida nas aldeias e a preservação da nossa floresta. Temos o apoio da Funai desde o início desse processo, o que também abriu muitas portas”, afirma Celso, cacique e liderança da aldeia Lapetanha, cuja plantação conta com cerca de 10 mil pés de café.

Em 2021, Celso classificou duas sacas de café especial no concurso anual do projeto Tribos. “Pela qualidade dos cafés, recebemos R$ 25 mil de premiação mais R$ 3 mil por saca. A gente se sente valorizado com esse reconhecimento”, pontua.

Somente na Terra Indígena Sete de Setembro, 115 famílias indígenas de 15 aldeias se organizam em cooperativas para o ganho em escala e a distribuição da safra, de adubo especial ou irrigação, com cuidado para fazer a colheita no tempo certo, tratar e estocar os grãos de café produzidos.

Projeto Tribos em parceria com a 3Corações

Com a venda de café indígena para o grupo 3Corações, surge um produto de alto valor agregado, devido à qualidade intrínseca e à origem: os Robustas Amazônicos indígenas. À medida que aumenta a qualidade, aumenta também o valor por saca. Os melhores cafés são comprados pelo dobro do preço da cotação de mercado.

“Essa iniciativa garante mais incentivo aos cafeicultores, uma vez que passamos a ter não só a garantia de compra de 100% da nossa produção, mas também um prêmio que valoriza o nosso trabalho”, explica Celso.

O Projeto Tribos conta com 132 famílias de indígenas cafeicultores espalhados por 28 aldeias nos municípios de Cacoal e de Alta Floresta D’Oeste (RO). A iniciativa fomenta o desenvolvimento sustentável amparado nos pilares social, ambiental e econômico, interagindo de forma harmoniosa.

Para o presidente da Cooperativa de Produção e Desenvolvimento do povo Indígena Paiter-Suruí (Coopaiter), Naraymi Suruí, a parceria com a empresa trouxe grandes benefícios aos indígenas. “A Coopaiter foi pioneira nesse projeto, que hoje beneficia muitas famílias da nossa região. Nossa cooperativa entrega 1.500 sacas de 60 quilos de café por ano para a 3Corações. Temos um contrato de quatro anos e tem sido muito importante para todos nós essa aproximação. O café Paiter-Suruí está sendo mais divulgado e todos nós ganhamos com isso, ao ver o nosso produto ser reconhecido como de alta qualidade”, afirma Naraymi.

Anualmente, a 3Corações promove um concurso que premia os melhores cafés em duas Terras Indígenas do estado, Sete de Setembro e Rio Branco, valorizando a qualidade dos grãos produzidos e os cafeicultores indígenas. O projeto Tribos ocorre em parceria com a Funai, Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Secretaria de Estado da Agricultura do Estado de Rondônia, Entidade Autárquica de Assistência Técnica e Extensão Rural de Rondônia (Emater-RO), Secretaria Municipal de Agricultura de Alta Floresta D’Oeste e de Cacoal e Câmara Setorial do Café do Estado de Rondônia.

No concurso, cerca de 100 amostras concorrem e os dez melhores lotes de café são premiados. As premiações são de R$25.000,00 para o campeão e compra de cada saca por R$3.000,00; o segundo colocado recebe R$10.000,00 e R$2.000,00 por cada saca; o terceiro R$8.000,00 e cada saca por R$1.000,00. A partir do quarto colocado até o décimo, todos são agraciados com R$5.000,00 e compra de cada saca por R$800,00.

Produção de Robustas Amazônicos por indígenas

Os Paiter-Suruí realizam a atividade há mais de 30 anos. Já as etnias Aruá e Tupari, da Terra Indígena Rio Branco, de Alta Floresta D’Oeste, cultivam o café há mais de 15 anos. Ao longo dos anos, se destacaram com a produção de cafés especiais, que ganharam notas acima de 80 pontos na classificação da Associação Americana de Café Especiais (SCAA). Segundo especialistas da Associação, os cafés especiais indígenas possuem sabores exóticos, com notas de chocolate e castanha, que remetem a produtos amazônicos, o que chama atenção e atrai investidores para a cafeicultura do estado.

Funai investe em etnodesenvolvimento

O investimento da Funai em etnodesenvolvimento em aldeias de todo o país chegou a R$ 41,3 milhões entre 2019 e 2021. Os valores superam em 72% o total investido entre os anos de 2016 e 2018, cujo aporte ficou em torno de R$ 24 milhões. O uso econômico sustentável de Terras Indígenas como ferramenta para a geração de renda às comunidades tem sido um dos principais focos da Funai. Ao impulsionar a produção responsável nas aldeias, a fundação colabora para que os indígenas se tornem autônomos e sejam protagonistas da própria história.

Os recursos foram destinados ao fortalecimento de atividades de agricultura, piscicultura, roças de subsistência, carnicicultura, etnoturismo, extrativismo, confecção de artesanato, casas de farinha, casas de mel, entre outros. O incentivo permitiu a aquisição de materiais de pesca, sementes, mudas, insumos, ferramentas, maquinário agrícola, bem como apoio para o escoamento da produção e realização de cursos de capacitação para os indígenas.

Em 2021, a Funai assinou mais de 20 Cartas de Anuência para diferentes comunidades e, em uma iniciativa pioneira, adquiriu e entregou 40 tratores para fornecer apoio a atividades produtivas. A intenção é garantir a segurança alimentar das diferentes etnias e possibilitar que elas aumentem a produção, investindo em processos de geração de renda. Ao todo, a fundação investiu de mais de R$ 5 milhões na aquisição do maquinário.

Já em 2022, a Funai promoveu um encontro inédito entre instituições bancárias e produtores indígenas do Mato Grosso. O objetivo é estabelecer parcerias que possibilitem o acesso dos agricultores a linhas de crédito. No mês de maio, também numa iniciativa inédita, a fundação viabilizou a participação de mais de 30 produtores de diferentes etnias do país como expositores na AgroBrasília 2022: Feira de Tecnologia e Negócios do Agro, entre eles, os Paiter-Suruí.

O uso econômico sustentável de Terras Indígenas como ferramenta para proporcionar autonomia às comunidades tem sido um dos principais focos da Funai. Ao impulsionar a produção responsável nas aldeias, a fundação colabora para que os indígenas ampliem o cultivo, conquistem novos mercados e se tornem cada vez mais autossuficientes, sendo, assim, os verdadeiros protagonistas da própria história.

VER REPERTÓRIO FOTOGRÁFICO EM: Série Especial: Com apoio da Funai, produção de café indígena se consolida em Rondônia — pt-br (www.gov.br)

Assessoria de Comunicação /  FUNAI