Indígenas das etnias Cinta Larga e Paiter-Suruí, de Rondônia, estão transformando a realidade das suas aldeias por meio da produção e comercialização da Castanha do Brasil. Divididos em cooperativas, eles destacam a importância do beneficiamento da castanha para a autonomia das comunidades. Na segunda matéria da série especial sobre a produção indígena em Rondônia, a Fundação Nacional do Índio (Funai) apresenta histórias bem-sucedidas de etnias que apostaram no etnodesenvolvimento e agora colhem os frutos das iniciativas. Confira!

Na Terra Indígena Roosevelt, localizada entre os estados de Rondônia e Mato Grosso, os indígenas Cinta Larga deram início ao projeto da Cooperativa Extrativista de Castanha Indígena (Coocasin), que atualmente conta com 20 cooperados, beneficia mais de 300 famílias e envolve 1.750 indígenas em todo o processo de produção.

“Mais do que isso, geramos emprego e renda para parentes de outras etnias, como Zoró e Gavião, de onde a Coocasin compra parte das castanhas. A cooperativa foi fundada há cinco anos pela necessidade de legalizar o nosso trabalho, para ter um projeto sólido que tirasse os jovens da ilegalidade, mas nunca imaginei que iríamos alcançar tantas vidas”, afirma o presidente da Coocasin, João Paulo Alves.

Para realizar a coleta da castanha nos milhares de hectares de castanhais, os indígenas contam com o apoio da Funai em diferentes ações, como aquisição de ferramentas, instalação de maquinário para o beneficiamento da castanha, transporte da produção e capacitação dos indígenas.

“A Funai se transformou. Hoje, há uma gestão que é próxima do indígena, que ouve e ajuda nos seus projetos. Se o nosso cliente de Santa Catarina ou de São Paulo fica seguro quanto ao recebimento da sua carga, é graças à ajuda e o compromisso que a Funai tem com a Coocasin. É importante fazer esse reconhecimento”, pontua o presidente da cooperativa.

Para o presidente da Funai, Marcelo Xavier, a etnia Cinta Larga soube desenvolver a atividade extrativista de forma a conciliar o ganho econômico com autonomia e sustentabilidade na área indígena. “É de sua importância reconhecer a integração entre atividade sustentável, geração de emprego e renda e qualidade do produto. A sustentabilidade, por meio do etnodesenvolvimento, também agrega valor à castanha, o que confirma a força de projetos responsáveis realizados pelas comunidades indígenas”, afirma Xavier.

A produção da castanha envolve diversas etapas, desde a coleta até a comercialização do produto final. A Coocasin extrai a castanha das aldeias Roosevelt, Capitão Cardoso e Pingo D’água. “Movimentamos até 300 toneladas de castanha com casca durante uma safra. Coletamos nas aldeias e contamos com o apoio da Funai no transporte do produto até a sede da cooperativa. Realizamos todo o preparo, até chegar o momento da venda para os estados, como Santa Catarina, Goiás, São Paulo e Rondônia”, afirma João Paulo.

Após a coleta, o processo segue com a estocagem da castanha, a secagem e a passagem no equipamento chamado autoclave para retirada da película. Em seguida, o produto passa pelo container de refrigeração, pela máquina de quebra da casca, classificação manual, desidratação no forno e, finalmente, a classificação final e a embalagem.

“São muitos processos, por isso temos tantas pessoas envolvidas. Atualmente, temos três não-indígenas trabalhando na Coocasin, isso fomenta toda a economia aqui em Ji-Paraná, não apenas a indígena”, explica o presidente da cooperativa. João Paulo afirma, ainda, que a cooperativa auxilia os jovens com os estudos, proporcionando o acesso ao ensino superior.

“Já formamos três indígenas, outros dois vão se formar em breve, e antes isso não acontecia. Estamos capacitando nossos jovens para que no futuro eles possam contribuir com o trabalho. A castanha nos proporciona tudo isso. Costumo dizer que o nosso maior diamante é a castanha. Ela tem mudado vidas nas aldeias e mudou a realidade da minha família”, ressalta.

Coopaiter é pioneira nos projetos multiprodutivos

Criada em 2017, a Cooperativa de Produção e Desenvolvimento do Povo Paiter-Suruí (Coopaiter) foi a primeira cooperativa exclusivamente indígena com atuação multiprodutiva. É composta por cerca de 220 cooperados de 25 aldeias da Terra Indígena Sete de Setembro, ao norte do município de Cacoal (RO) até o município de Aripuanã (MT), com cerca de 240 mil hectares.

O presidente da Coopaiter, Naraymi Suruí, explica que atualmente a cooperativa trabalha com produção própria dos indígenas cooperados, tanto da etnia Paiter-Suruí, quanto Cinta Larga, Gavião e Zoró. “Em 2021, comercializamos 10 mil quilos de castanha, passamos cerca de um ano com castanha estocada, pois a pandemia atrasou as vendas, mas já estamos conseguindo normalizar a nossa produção. Atualmente, vendemos nossa castanha para estados como Paraná e Mato Grosso. Agora queremos ampliar esse comércio”, afirma Naraymi.

Anualmente, a coleta é feita entre os meses de novembro e maio, período em que cerca de 200 indígenas trabalham na coleta da castanha dentro da mata fechada. Outros oito indígenas atuam no seu beneficiamento, realizado na agroindústria em Cacoal, entre eles a esposa de Naraymi, Elisângela Dell-Armelina Suruí. Além de administrar a cooperativa, ela é professora em escolas indígenas na aldeia Paiter-Suruí da Linha 12, em Cacoal.

“Com a produção e o trabalho conjunto entre os indígenas, nós encontramos uma forma de mudar as nossas vidas e gerar melhorias às comunidades. Agradecemos o apoio da Funai nesse processo, que nos ajuda a fortalecer nossa política de trabalho e a mostrar a nossa capacidade. Queremos desenvolver a produção ainda mais e atingir novos mercados”, pontua Naraymi.

O prédio onde fica a sede da Coopaiter foi cedido pela Funai para uso da cooperativa. Por meio da Coordenação Regional de Cacoal, a fundação realizou a reforma das instalações da agroindústria onde a castanha é beneficiada e embalada.

A cooperativa trabalha com produção de café orgânico, cacau e banana. A comercialização do café foi a primeira atividade realizada pela Coopaiter, resultando num contrato com a empresa 3Corações. A qualidade do café foi reconhecida em 2019 na Semana Internacional do Café, a principal ação de promoção do café brasileiro. O produto conquistou o 5º lugar no Prêmio Coffee Of The Year 2019.

Funai investe em etnodesenvolvimento

O investimento da Funai em etnodesenvolvimento em aldeias de todo o país chegou a R$ 41,3 milhões entre 2019 e 2021. Os valores superam em 72% o total investido entre os anos de 2016 e 2018, cujo aporte ficou em torno de R$ 24 milhões. O uso econômico sustentável de Terras Indígenas como ferramenta para a geração de renda às comunidades tem sido um dos principais focos da Funai. Ao impulsionar a produção responsável nas aldeias, a fundação colabora para que os indígenas se tornem autônomos e sejam protagonistas da própria história.

Os recursos foram destinados ao fortalecimento de atividades de agricultura, piscicultura, roças de subsistência, carnicicultura, etnoturismo, extrativismo, confecção de artesanato, casas de farinha, casas de mel, entre outros. O incentivo permitiu a aquisição de materiais de pesca, sementes, mudas, insumos, ferramentas, maquinário agrícola, bem como apoio para o escoamento da produção e realização de cursos de capacitação para os indígenas.

Em 2021, a Funai assinou mais de 20 Cartas de Anuência para diferentes comunidades e, em uma iniciativa pioneira, adquiriu e entregou 40 tratores para fornecer apoio a atividades produtivas. A intenção é garantir a segurança alimentar das diferentes etnias e possibilitar que elas aumentem a produção, investindo em processos de geração de renda. Ao todo, a fundação investiu de mais de R$ 5 milhões na aquisição do maquinário.

Já em 2022, a Funai promoveu um encontro inédito entre instituições bancárias e agricultores indígenas do Mato Grosso. O objetivo é estabelecer parcerias que possibilitem o acesso dos agricultores a linhas de crédito. No mês de maio, também numa iniciativa inédita, a fundação viabilizou a participação de mais de 30 produtores de diferentes etnias do país como expositores na AgroBrasília 2022: Feira de Tecnologia e Negócios do Agro, entre eles, Cinta Larga e Paiter-Suruí.

O uso econômico sustentável de Terras Indígenas como ferramenta para proporcionar autonomia às comunidades tem sido um dos principais focos da Funai. Ao impulsionar a produção responsável nas aldeias, a fundação colabora para que os indígenas ampliem o cultivo, conquistem novos mercados e se tornem cada vez mais autossuficientes, sendo, assim, os verdadeiros protagonistas da própria história.

Leia mais: Série Especial: Com apoio da Funai, produção de café indígena se consolida em Rondônia

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Assessoria de Comunicação / FUNAI