O Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá – IDSM está divulgando uma Nota à Comunidade enfocando a segurança e o bem-viver na Amazônia.

Imagem postada em: Instituto Mamirauá IDSM

NOTA À COMUNIDADE

Os recentes e brutais assassinatos ocorridos nas imediações de uma Terra Indígena na bacia do Rio Javari alcançaram mais do que um membro de uma organização governamental federal e um jornalista estrangeiro. Aquela ação desprezível, de enorme repercussão nacional e internacional, expos de forma dramática o grau insegurança em que vivem os cidadãos e trabalhadores da região do Médio Solimões, foco da atuação do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá – IDSM. Em especial aqueles que atuam no contexto da conservação da Amazônia, e do desenvolvimento de suas populações tradicionais.

É premente solicitarmos uma ação mais contundente por parte de todas as autoridades de Segurança Pública, sejam elas federais, estaduais e municipais, no sentido de aplicarem esforços de investigação e inteligência, para identificar, coibir e prender os autores de ações criminosas que ameaçam a integridade da população e o funcionamento das instituições que atuam na região.

As instituições governamentais e do terceiro setor na região têm enfrentado nos últimos anos uma violência sistemática, que afeta profundamente a vida do Médio Solimões, realizada pelos chamados “piratas” de rios. Os membros do IDSM, bem como todos os demais cidadãos do Amazonas, têm o direito e a necessidade de usufruir de níveis mínimos de segurança, que lhes permitam viver e trabalhar de maneira efetiva, conforme se espera de um pleno estado de direito.

Atualmente o IDSM conta com uma equipe de mais de 250 colaboradores, entre pesquisadores, técnicos que atuam para fortalecer o desenvolvimento sustentável nesta região. E para o desempenho destas atividades de campo, o IDSM conta com embarcações e estruturas de suporte em campo. Nesses quase 30 anos, diversas pesquisas e experimentações desenvolvidas pelo IDSM subsidiaram políticas públicas no nível estadual e federal, especialmente aquelas versando sobre a conservação e o manejo sustentável dos recursos biológicos da Amazônia, e sobre a geração de renda e melhoria da qualidade de vida das comunidades tradicionais da região.

São muitos regulares os relatos de práticas de violência sistemática contra moradores e membros dos organismos governamentais e da sociedade civil nos últimos 10 anos, mas eles se intensificaram nos anos mais recentes. Tais práticas são exercidas por parte de agentes do narcotráfico e de outros bandidos, que são denominados popularmente na região de “piratas”. Estes ameaçam, assediam, abordam, atemorizam e assaltam de forma violenta os navegantes que trafegam pelos rios da região, bem como as comunidades situadas nos beiradões daqueles cursos de água. Esses “piratas” se utilizam de armamento pesado e de embarcações com motores potentes, e chegam a usar roupas escuras e/ou camufladas, que imitam as das equipes militares ou de policiais, para facilitar sua aproximação e abordagem, reforçando sua capacidade de assediar suas vítimas. Em vários destes casos os pesquisadores e técnicos do IDSM foram diretamente afetados. Tanto nos ambientes de campo, mas também nas cidades onde residem estas pessoas.

Abordagens nos rios, e tiroteios entre piratas e traficantes nas regiões de atuação do Instituto, no Médio Solimões e redondezas (baixo Japurá, baixo Jutaí, baixo Juruá, etc.), vêm se tornando cada vez mais frequentes, e nos fazem lembrar o quão arriscado é o trabalho em campo para aqueles que tratam de questões sensíveis relacionadas ao contexto da conservação da Amazônia e suas populações tradicionais. O Brasil, infelizmente, tem se notabilizado pela crescente espiral de violência contra seus ativistas de direitos humanos, e contra seus profissionais que trabalham a temática socioambiental na Amazônia em particular.

É imperativo que as autoridades de segurança atuem de forma decisiva no combate a esta violência, especialmente nos territórios protegidos do Médio Solimões – uma região que possui várias unidades de conservação federais e estaduais. Precisamos garantir a segurança e o bem-viver dos navegadores e moradores destas áreas, assim como de nossa e de outras organizações, para que possamos todos manter de forma segura um serviço absolutamente essencial para a população e para o desenvolvimento do nosso país.

Tefé, junho de 2022

PUBLICADO POR:  INSTITUTO MAMIRAUÁ