Estudo investiga como a sinergia do aquecimento global, a perda e fragmentação de habitats naturais interferem na distribuição e conservação de lagartos tropicais. Oito espécies foram identificadas com alto risco de extinção, mas as possibilidades de reduções futuras se estendem para um grande número de lagartos endêmicos da Amazônia.
Agência Museu Goeldi – Aquecimento global, mudanças climáticas, aliado a perda e fragmentação do habitat natural estão provocando o declínio da biodiversidade no mundo. Um grupo de pesquisadores investigou os efeitos combinados destes fatores na conservação de 63 espécies de lagartos da Amazônia, verificando quais devem ser avaliadas cuidadosamente em função de alto risco de extinção. O estudo é o primeiro a correlacionar as mudanças climáticas e da paisagem e seus efeitos na distribuição de lagartos tropicais.
A pesquisa foi publicada na revista científica PeerJ, sob o título “Synergistic effects of climate and landscape change on the conservation of Amazonian lizards” (“Efeitos sinérgicos das mudanças climáticas e da paisagem na conservação de lagartos amazônicos”, em tradução livre). O artigo é assinado por cinco pesquisadores, entre os quais se encontram a zoóloga Ana Prudente, curadora da coleção herpetológica do Museu Emílio Goeldi, e a doutoranda do Programa de Pós Graduação em Biodiversidade e Evolução (PPGBE) do Museu Goeldi, Cássia de Carvalho Teixeira. Assinam também o artigo os pesquisadores Leonardo Carreira Trevelin, Maria Cristina dos Santos-Costa e Daniel Paiva Silva.
O trabalho é fruto da parceria entre pesquisadores do Museu Goeldi, Instituto Tecnológico Vale, Universidade Federal do Pará e Instituto Federal Goiano. “Vale ressaltar que os dados de ocorrência das espécies foram obtidos de pesquisas exaustivas em distribuição, morfologia e história natural de lagartos amazônicos, realizadas em outro momento por pesquisadores do próprio Museu Goeldi”, destaca Cássia Teixeira.
Répteis em situação de vulnerabilidade – Os répteis têm sido propostos por especialistas em biodiversidade como uma das principais espécies afetadas negativamente pela perda e fragmentação do habitat à medida que as temperaturas aumentam. O que torna este grupo vulnerável?
Por possuírem um metabolismo ectotérmico – eles não são capazes de regular a temperatura corporal por mecanismos próprios e precisam de fontes externas de calor para manter a temperatura corporal constante -, os lagartos tornam-se mais vulneráveis às consequências das mudanças climáticas e da paisagem nas regiões tropicais.
Parte expressiva das espécies de lagartos endêmicos da Amazônia poderão enfrentar reduções futuras em suas áreas de ocorrência na Bacia Amazônica. Ao todo, 23% das espécies estudadas precisam de atenção especial para amenizar a combinação dos efeitos adversos das mudanças climáticas e da paisagem. Com base nos resultados apurados em dois anos de investigação, os cientistas apontam que, dentre as 63 estudadas, 8 espécies são vulneráveis, ou podem se tornar em cenários futuros de clima e desmatamento.
Estas espécies merecem maior atenção quanto ao nível de vulnerabilidade: Enyalius leechii, Polychrus liogaster, Stenocercus roseiventris, Uracentron a. azureum, Cercosaura eigenmanni, Neusticurus rudis, Dactyloa punctata e Bachia flavescens.
Cenários futuros – O estudo também assinala que mudanças severas na paisagem podem dificultar a dispersão das espécies de lagartos amazônicos e limitar sua capacidade de rastrear condições adequadas, levando a maior risco de extinção. “Prevemos que o nicho climático potencial da espécie será significativamente impactado por diferentes cenários de desmatamento e pela estrutura da paisagem resultante”, relatam os pesquisadores.
“Os principais fatores reconhecidos como ameaças à biodiversidade atualmente são as alterações climáticas e a perda de habitats naturais. Ainda que conhecidos, eles vêm sendo estudados isoladamente, e nosso estudo se propôs a avaliar seus efeitos de forma conjunta, usando lagartos amazônicos como modelo. Buscamos traçar padrões gerais de resposta às alterações climáticas e das paisagens naturais atuais e de cenários futuros para ambos os efeitos. E encontramos resultados inéditos com algumas espécies que, atualmente não se encontram ameaçadas, mas que futuramente estarão, caso esses fatores de ameaça continuem”, conclui a doutoranda Cássia Teixeira.
Os autores sublinham também a importância das áreas protegidas (Unidades de Conservação e Terras Indígenas) para a proteção da biodiversidade. Eles reforçam a necessidade de planejar estratégias que levem a manutenção de tais áreas e uma possível implantação de corredores ecológicos.
Confira aqui a íntegra do artigo “Synergistic effects of climate and landscape change on the conservation of Amazonian lizards”.
Texto: Samara Barra – Edição: Joice Santos – PUBLICADO POR: MUSEU GOELDI
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