Considerado o ecossistema mais diverso do mundo, as florestas tropicais na bacia do rio Amazonas contêm mais de 10% de todas espécies conhecidas atualmente. Aves, primatas, sapos e outros organismos apresentam variação na composição de espécies em grandes interflúvios ao longo da planície amazônica. Só de aves a estimativa é de que a Amazônia abriga mais 1.300 espécies.
Um estudo publicado recentemente na Revista Science Advances, intitulado “Rearranjos da rede fluvial promovem especiação em aves das terras baixas Amazônicas”, analisou como o surgimento e a evolução dos rios da Amazônia influenciaram a origem de linhagens de aves de Terra Firme na região. O trabalho conta com autoria da pesquisadora do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI), a bióloga Camila Ribas, e pesquisadores do Museu Americano de História Natural (AMNH), da qual Ribas é pesquisadora associada desde 2008. A primeira autoria do artigo é assinada por Lukas Musher.
De acordo com Ribas, as aves se tornam “ótimos marcadores” da evolução das paisagens, por serem grupos especializados em diferentes ambientes Amazônicos, como sub-bosque de floresta de terra firme, várzeas, igapós, campinas e savanas. “Aqui podemos testar hipóteses sobre como mudanças nas paisagens afetaram a distribuição das espécies de aves em cada ambiente Amazônico no passado, e com isso entender melhor tanto a formação da biodiversidade Amazônica como a conhecemos hoje quanto o que pode acontecer com essa diversidade frente às mudanças futuras, mais rápidas, causadas pelo homem”, explica.
Para investigar como o movimento – a dinâmica – dos rios na paisagem influenciou o acúmulo de espécies de aves na Amazônia, os pesquisadores sequenciaram os genomas de 371 indivíduos de seis espécies de aves do Sul da Amazônia: Galbula cyanicollis (conhecido como ariramba-da-mata), Malacoptila rufa (barbudo-de-pescoço-ferrugem), Thamnophilus aethiops (Choca-lisa), Hypocnemis sp. (cantador-estriado), Phlegopsis nigromaculata (mãe-de-taoca) e Willisornis sp (rendadinho).
“Mesmo que os pássaros possam voar, nosso estudo confirmou que os rios atuais da floresta amazônica, mesmo os relativamente pequenos, são altamente eficazes no isolamento de populações dessas seis espécies, o que leva à divergência genômica e, finalmente, à especiação”, disse o autor sênior do estudo, Joel Cracraft, curador Lamont e curador responsável no Departamento de Ornitologia do Museu Americano de História Natural, em notícia publicada pelo AMNH .
O trabalho mostrou que os rios são barreiras para as populações das aves estudadas, que acumulam diferenças genéticas, o que pode levar à especiação. Outro achado importante do estudo é que a riqueza de espécies de aves na Amazônia ainda pode ser subestimada, apesar de as aves serem um dos grupos de animais mais bem conhecidos. Os cientistas identificaram populações de aves que evoluem independentemente e, portanto, deveriam ser reconhecidas como espécies diferentes, mas foram consideradas até hoje como uma única espécie.
“O estudo, além de abordar processos interessantes que afetam a diversificação das aves associadas às florestas de terra firme, mostrando que elas são muito influenciadas pelas barreiras representadas pelos rios Amazônicos, também chama a atenção para o fato de que mesmo interflúvios menores, delimitados por rios como Ji-Paraná e Aripuanã, definem a distribuição de linhagens geneticamente distintas”, explica Ribas, bióloga que atua com pesquisas voltadas ao estudo de padrões e processos de diversificação na região Neotropical com ênfase em história biogeográfica na Amazônia.
Preocupados com o futuro da Amazônia, os autores do artigo alertam para as mudanças ambientais atuais que ameaçam espécies conhecidas e desconhecidas. “Essas linhagens são únicas e endêmicas de áreas que se encontram sob forte pressão de desmatamento, de modo que conhecer esses padrões e reconhecer essas linhagens como de importância para conservação é muito importante para discussão sobre criação de áreas de conservação nas diferentes regiões dentro do interflúvio Madeira-Tapajós, por exemplo”, ressaltou Ribas.
Colaborações científicas
A pesquisadora do Inpa destacou ainda a importância da geração de conhecimento sobre o bioma Amazônico partindo de instituições Amazônicas e buscando colaborações construtivas. “Quando o conhecimento é gerado na Amazônia várias outras dimensões são adicionadas ao trabalho, como a formação de pesquisadores locais, envolvendo alunos dos programas de pós-graduação, e a contribuição para políticas públicas e para disseminação do conhecimento”, lembrou Camila Ribas.
Texto: Lucas Batista – Comunicação Inpa
Banner: Laísa Maida – Comunicação Inpa
Edição: Cimone Barros – Comunicação Inpa
PUBLICADO POR: INPA
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