Descendo o Rio Branco
Candide, ou l’Optimisme
Como relata anteriormente Francisco Xavier Ribeiro de Sampaio, nem mesmo Voltaire conseguiu ficar alheio à controversa questão. Na sua obra “Candide, ou l’Optimisme” escreveu algumas páginas sobre um “País Dourado”:
Após fugirem dos jesuítas, Cândido e seu parceiro Cacambo decidem, depois de muito andar sem rumo, se apossar de uma canoa abandonada na beira do rio. Depois de navegarem alguns quilômetros por margens ora verdejantes ora áridas, algumas vezes planas, outras muito íngremes. O rio, finalmente, se estende sob uma abóbada de rochedos ameaçadores que se elevam até o céu. Os viajantes ousaram entregar sua nau ao sabor da torrente sob aquela imensa cúpula que os arrastou com uma velocidade e um ruído apavorantes.
Só voltaram a ver a luz do dia vinte e quatro horas depois, quando sua canoa se despedaçou contra os rochedos e foram obrigados a se arrastar pelos penedos por quilômetros até que descortinaram um horizonte imenso, rodeado por montanhas intransponíveis. Era uma região pródiga em culturas, onde o útil unia-se ao agradável.
Nos caminhos cruzavam belos e brilhantes veículos, conduzindo homens e mulheres de uma beleza singular, tracionados por grandes carneiros vermelhos que ultrapassavam em velocidade os mais belos cavalos de Andaluzia, de Tetuán e de Mequínez. (VOLTAIRE)
Cemitério I
(Thales Bastos Chaves)
“O que perturba e intimida
O meu espírito forte
Não é a certeza da morte
Mas a incerteza da vida.”
(Da Costa e Silva)
Terra sem Sol, da noite eterna… Terra
Onde repousa o corpo decomposto;
Úmida terra que deforma o rosto,
Urna da paz e símbolo da guerra.
Terra das almas que velando a morte,
Hão de deitar-se sobre o ventre teu;
Terra que a vida ‒ miserável sorte,
Chora um amigo que se foi, morreu…
Terra das lousas, das imagens frias,
Dos sepulcros antigos, do passado;
Terra que encobre as fúteis fantasias,
Lugar que ocupa o nobre, o desgraçado.
Terra das sombras, que o cipreste abriga,
E o mocho embala com seu triste canto;
Lá nasce e fica uma saudade antiga,
Lacrimejada de funéreo pranto.
Terra das catacumbas branquejadas,
Das casas pequeninas, da saudade,
Das orações de amor inconsoladas,
Agasalho final da humanidade. […]
Por Hiram Reis e Silva (*), Bagé, 22.04.2022 – um Canoeiro eternamente em busca da Terceira Margem.
Bibliografia
VOLTAIRE – François-Marie Arouet. Candide, ou l’Optimisme – França – Paris – Editora Cramer, Marc-Michel Rey, Jean Nourse, Lambert, and others, 1759.
(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;
- Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)
- Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);
- Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
- Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);
- Ex-Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)
- Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
- Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
- Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);
- Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)
- Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
- Comendador da Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)
- Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).
- Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
- E-mail: [email protected].
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