Versão kids da tradicional revista da instituição, traz como tema central os bagres amazônicos: ilustrações, jogos e linguagem didática e lúdica, tornam o periódico um exemplo de popularização da Ciência atraindo não somente o público infanto-juvenil, mas também o público em geral
A 85ª edição da revista “O Macaqueiro” versão Kids está no ar, e traz como tema central os bagres amazônicos, que além de ocuparem parte importante da pesca comercial na Amazônia, despertam o interesse dos cientistas pelas suas características peculiares: longas migrações, hábitos noturnos, e até histórias que circundam o imaginário das pessoas, como a lenda que diz que os bagres ‘comem gente’. Os bagres são conhecidos pelos seus “bigodes” (barbilhões maxilares), o que lhe rendem também a fama de peixes-gato.
Foram essas e outras características, como o escasso conhecimento do ciclo de vida dos bagres, que motivaram a equipe do “Projeto Ciência Cidadã para a Amazônia – médio rio Solimões”, executado pelo Grupo de Pesquisa (GP) em Ecologia e Biologia de Peixes, a definir esse destaque para edição. Líder do GP de Peixes e coordenador de Pesquisa do Instituto Mamirauá, Alexandre Hercos observa que, embora a revista seja voltada ao público infanto-juvenil, o público adulto também pode ser beneficiado pelo conhecimento, e aprender muito com todo o conteúdo que foi desenvolvido de forma lúdica. “A revista ‘O Macaqueiro’ sobre os peixes, conseguiu trazer um pouco deste conhecimento de maneira simples e lúdica, sendo capaz de interagir com os mais variados tipos de públicos, desde crianças até adultos que se interessam pelo tema. Sobre a revista, pessoalmente fico entusiasmado a cada novo volume que é lançado, pois acredito que a revista “O Macaqueiro Kids” vem cumprido seus objetivos de informar o público infanto-juvenil sobre os mais variados temas a respeito das pesquisas realizadas pelo Instituto Mamirauá e, desta maneira, despertando no seu público o interesse por importantes questões ambientais, e sendo uma importante ferramenta de educação ambiental”, avaliou o pesquisador.
O conhecimento mencionado por Hercos, é referente aos peixes, de uma maneira geral. Segundo ele, os peixes fazem parte do grupo de vertebrados que apresentam o maior número de espécies em toda Amazônia – somente de peixes bagres, existe um total de 250 espécies catalogadas, que habitam principalmente os canais de rio de água branca, clara e preta. Ainda com toda essa variedade, a diversidade de espécies de peixes é desconhecida por grande parte da população.
Quem levou a capa da edição foi a espécie de peixe bagre dourada. O motivo? A espécie dourada é uma recordista mundial – é o peixe de água doce que realiza a mais longa migração do mundo. A espécie pode percorrer mais de 11 mil quilômetros durante seu ciclo de vida.
De acordo com a pesquisadora Bianca Darski Silva, que liderou a produção da 85ª edição da revista, a espécie dourada conecta diferentes partes da Bacia Amazônica por meio de sua migração. “Ela nasce na região dos Andes, e parte em sua viagem de migração rumo à região do estuário amazônico, onde as águas do rio Amazonas encontram o Oceano Atlântico. Após passar um período no estuário, a dourada retorna para se reproduzir no seu local de nascimento, nos Andes”, revela a pesquisadora.
Ela ainda menciona os riscos que ameaçam não só a espécie dourada, mas como também outras espécies comerciais de peixes na Amazônia. Construção de hidrelétricas, poluição das águas, garimpo e pesca predatória são algumas das ameaças que provocam o declínio das populações de peixes amazônicos. “Pode estar ocorrendo a extinção local de algumas espécies, porém, até o momento, os bagres migradores amazônicos não estão na lista de animais ameaçados de extinção, possivelmente devido à escassez de dados”, explicou.
Com a preocupação dessas ameaças, naturalmente questiona-se sobre as medidas mitigadoras que poderiam ser aplicadas para preservação dos estoques das espécies. E a solução, poderia vir a partir da união da elaboração de políticas públicas para regulamentação da pesca e conservação de espécies migratórias que abranjam os diferentes países da Amazônia, e ações de educação ambiental para sensibilizar a população sobre a importância da proteção destas espécies. “É importante destacar que a construção de hidrelétricas, como as usinas de Jirau e Santo Antônio no Rio Madeira, pode impedir ou dificultar a passagem de peixes migradores. Na Bolívia, por exemplo, houve um declínio da captura de douradas após a construção de Jirau e Santo Antônio. Os indivíduos adultos de dourada que conseguiram subir o rio Madeira antes dos barramentos, ficaram confinados às áreas de reprodução”, alertou a pesquisadora.
Distribuição
A 85ª edição do “O Macaqueiro” versão Kids – Bares Migradores, será distribuída no primeiro semestre deste ano em unidades de ensino dos municípios de Tefé e Alvarães, no Amazonas. Também serão distribuídos exemplares em comunidades das Reservas Mamirauá e Amanã – principais áreas de atuação do Instituto Mamirauá – durante oficinas de capacitação previstas no âmbito do Projeto Ciência Cidadã para a Amazônia.
No segundo semestre, participantes da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia (SNCT) na sede do Instituto Mamirauá, também terão a oportunidade de receber a versão impressa da revista. O evento, que é promovido pela instituição desde 2004, é uma oportunidade de abrir as portas da instituição para sociedade, apresentando os resultados obtidos em suas ações e pesquisas, bem como oferecer atividades voltadas a Ciência para todos os participantes. Durante o evento científico, com previsão de acontecer no mês de outubro, são promovidas palestras, atividades lúdicas, exposições e visitas guiadas para membros da comunidade, sempre voltadas ao tema do evento nacional, uma vez que a Semana acontece em todo o país.
Já foram distribuídos alguns exemplares da revista durante uma oficina de capacitação sobre Ciência Cidadã e uso do aplicativo Ictio (saiba mais abaixo) para os funcionários da Pousada Casa do Caboclo, e comunitários em geral, como comunitários da Comunidade Boca do Mamirauá.
Importante destacar que a versão digital está disponível a todos para download. Para baixar a 85ª edição do “O Macaqueiro” Kids – Bares Migradores, basta clicar aqui.
Entre os resultados esperados desta edição, Bianca Darski tem a expectativa que a popularização do conteúdo desenrolado no periódico, possa contribuir na proteção dos grandes bagres migradores, que desempenham um papel fundamental no que ela chama de ‘rede de vida’. “Espero que esta edição leve para crianças, jovens e adultos informações sobre estes peixes incríveis que são os grandes bagres migradores. São peixes do nosso dia a dia, mas que muitas vezes não sabemos o quão longe eles podem ir e vir pelos rios amazônicos. Espero ter contribuído para a desmistificar a fama que alguns bagres têm de serem peixes assustadores. Os grandes bagres não ameaçam o ser humano. Pelo contrário, eles precisam da nossa proteção para continuarem a desempenhar seu papel na rede da vida”, salientou.
Ilustrações
As ilustrações presentes na edição da revista, foram elaboradas pelo ilustrador Norberto Ferreira. Antes mesmo de seu lançamento, os traços do artista foram responsáveis por arrancar elogios de diversos pesquisadores que tiveram contato antecipado com os desenhos. Ele também foi responsável por ilustrar a 84ª edição da revista “O Macaqueiro” versão Kids sobre “Caças”, que está disponível para download no site do Instituto Mamirauá. O download está disponível através do link: https://bit.ly/3iUxDSD
“Ficamos impressionados com a qualidade das ilustrações dos peixes. Norberto conseguiu equilibrar a fidelidade das características, mas sem perder a leveza necessária para compor uma revista cujo público-alvo é infanto-juvenil. Além das ilustrações, Norberto também fez a diagramação desta edição, tomando sempre o cuidado de manter uma identidade gráfica ao longo de todas as páginas”, ressaltou Bianca, que também contou com a colaboração de todos os integrantes do GP de Peixes na criação de conteúdo e revisão do material da revista.
Norberto revela que, um dos principais desafios no processo criativo das ilustrações que compõe a edição dos Bagres Migradores, foi o de refletir nos desenhos o equilíbrio entre a liberdade artística e o compromisso científico que determina as características dos peixes. “Decidi respeitar mais a morfologia das espécies, e trabalhar com um pouco de liberdade na escolha das cores e texturas, mas nunca alterando drasticamente a aparência, e sim tornando mais evidentes algumas tonalidades que aparecem de forma sutil no cenário real”, afirmou o artista. As belíssimas ilustrações são o resultado de uma extensa pesquisa realizada pelo designer gráfico, que antes de pincelar qualquer tipo de esboço, tomou o cuidado de buscar os estilos gráficos correspondentes aos peixes utilizados em publicações científicas. Depois que chegou em um estilo satisfatório, Ferreira realizou a definição do desenho utilizando de uma mesa digitalizadora e técnica de pintura digital através de software de computador. “Com o traço mais seguro, e com o resultado aprovado pela equipe técnica da revista, as ilustrações seguintes fluíram com mais naturalidade”, finalizou.
Projeto Ciência Cidadã
O Projeto “Ciência Cidadã para a Amazônia – médio rio Solimões” tem como objetivo compreender os ecossistemas de água doce da Amazônia por meio da ciência cidadã, para aumentar a compreensão sobre as migrações de peixes e dos fatores ambientais que os afetam. Os grandes bagres integram as espécies de peixes migradores que são alvo do projeto.
A ciência cidadã é uma abordagem que permite que qualquer pessoa, cientista ou não, possa contribuir para a geração de conhecimento científico e para a conservação da natureza. Nesse sentido, as ações do projeto são focadas no envolvimento das comunidades locais, tomadores de decisão e cientistas, usando ferramentas de baixo custo para conservar os ecossistemas aquáticos da Bacia Amazônica.
O projeto teve sua primeira fase executada no Instituto Mamirauá entre os anos de 2017 e 2019. Em fevereiro de 2019, foi criada a Rede Ciência Cidadã para a Amazônia – uma iniciativa que visa democratizar a ciência e gerar conhecimento a partir da ciência cidadã. São mais de 30 sócios, entre pessoas e organizações da Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Estados Unidos, França e Peru que estão trabalhando para conectar pessoas e organizações em toda a Bacia Amazônica. O Instituto Mamirauá é um dos sócios que compõe a Rede.
Um dos produtos do projeto Ciência Cidadã para a Amazônia é o aplicativo Ictio – criado para registrar observações de peixes capturados na bacia amazônica. O download do app está disponível gratuitamente pela Google Play Store, apenas para sistema operacional Android (com versão 5 ou maior). Saiba mais sobre o aplicativo Ictio clicando aqui, ou seguindo as redes sociais https://www.facebook.com/ictiomediosolimoes
A tecnologia foi desenvolvida pelo Laboratório de Ornitologia de Cornell em colaboração com a Wildlife Conservation Society (WCS) e parceiros do projeto
O Instituto Mamirauá desenvolve as atividades deste projeto na região do Médio Solimões, por meio do GP de Peixes em parceria com a WCS, e conta com o apoio da Fundação Gordon e Betty Moore.
Assista ao vídeo abaixo “A Dourada – Um Peixe Viajante”, e saiba mais sobre a incrível viagem de migração da espécie dourada. (Créditos: WCS Brasil)
PUBLICADO POR: INSTITUTO MAMIRAUÁ
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