A indígena e professora Eliane Zoizocaeroce, do Mato Grosso, é a atual presidente da Cooperativa Agropecuária dos Povos Indígenas Haliti-Paresi, Nambikwara e Manoki (Coopihanama). Hoje, ela é uma das lideranças à frente do trabalho agrícola nas lavouras localizadas nas Terras Indígenas Utiariti e Paresi (MT). Com uma função de grande responsabilidade e protagonismo, Eliane faz a diferença na sua comunidade e conduz diferentes demandas no dia a dia.

Além do cargo de presidente, pelo qual lidera 1.950 indígenas das três etnias ligadas à cooperativa, Eliane também faz a gestão de uma unidade descentralizada da Coopihanama (são 11 no total), com quatro aldeias sob seus cuidados. Ela ainda administra suas duas casas (uma na cidade e outra na aldeia) e cuida dos seus quatro filhos – sendo que dois são bebês: um de 2 anos e, o mais novo, de apenas 3 meses.

“Se eu falar que é fácil, estaria mentindo, mas com planejamento e dedicação dá para fazer tudo. Sempre fui muito organizada, ainda mais financeiramente. Consegui construir minha vida, minhas casas, acho que foi por isso que confiaram a mim essa liderança na Cooperativa. Hoje estou aqui para cuidar desse patrimônio que é da nossa comunidade”, pontua Eliane.

Em 2022, a previsão é de que o recurso a ser dividido entre os cooperados chegue a R$ 9 milhões; em 2021 foram cerca de R$ 8 milhões. “Além disso, temos 202 funcionários na Coopihanama, todos com carteira assinada”, se orgulha Eliane. Ela conta que um dos objetivos da sua gestão é sempre oferecer cursos de capacitação profissional aos cooperados. Para este ano, estão previstas 90 vagas no curso de Gestão de Negócios e 30 vagas para Técnico em Agropecuária, ambos através de parceria com o Instituto Federal do Mato Grosso (IFMT).

A educação sempre foi prioridade na vida de Eliane. Ela saiu de casa aos 12 anos para estudar no município de Tangará da Serra (MT), mas, por conta da saudade, retornou para casa alguns meses depois e concluiu os estudos em uma escola mais próxima da aldeia, enfrentando diariamente viagens de balsa e de ônibus para realizar o sonho de sua mãe. “Não foi um período fácil, mas minha mãe sempre encontrava palavras de apoio para que eu não desistisse. Ela sempre sonhou que um filho se formasse na faculdade, eu fui a única, e ainda escolhi a Pedagogia para seguir os passos dela como professora. Me orgulho muito disso”, afirma.

Eliane destaca, ainda, o apoio da Fundação Nacional do Índio (Funai) no processo de regularização do trabalho agrícola na Terra Indígena Utiariti. “Desde que foi assinado o Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) para regularizar a produção agrícola mecanizada, nós conseguimos retomar a utilização da área que é destinada para a produção, a fim de viabilizar o comércio dos grãos no exterior. Sem esse documento não conseguiríamos manter o trabalho, por isso é fundamental reconhecer essa parceria da atual gestão da Funai com os indígenas que querem buscar a sua independência através do trabalho nas lavouras”, assinala.

Ao lembrar da sua trajetória na sala de aula até a presidência da Coopihanama, Eliane reafirma a importância da educação para a conquista da sua autonomia ao longo dos anos. “Sinto orgulho do que faço, da confiança e apoio que conquistei das nossas lideranças, tanto homens como mulheres. Acredito que é a partir dos desafios que nós somos testados, pra mostrar o quanto somos fortes e o quanto conseguimos aguentar. Espero servir de inspiração para as mulheres das outras aldeias: nós podemos fazer tudo, basta se organizar e não desistir quando a dificuldade aparecer. No fim, dá certo”, ressalta Eliane.

Apoio da Funai

Na atual gestão da Funai, sob liderança do presidente Marcelo Xavier, foi assinado um TAC visando regularizar a produção agrícola, por meio de lavouras mecanizadas, nas Terras Indígenas Rio Formoso, Paresi, Utiariti, Tirecatinga e Irantxe, em Mato Grosso. Com o documento, os indígenas puderam retomar a utilização da área designada para a produção agrícola mecanizada.

O cultivo de grãos como soja, milho e feijão pelas etnias Haliti-Paresi, Nambikwara e Manoki vai movimentar nessa temporada cerca de R$ 140 milhões. A plantação ocupa menos de 2% da área indígena total e ocorre em locais já antropizados, sendo um exemplo bem-sucedido de etnodesenvolvimento na Região Centro Oeste. A Funai vem apoiando em todo o país iniciativas como essa, que promovem a autonomia das comunidades indígenas, por meio da geração de renda, de forma responsável.

Abril Indígena 2022

Na Campanha Abril Indígena de 2022, ano em que o Brasil celebra o Bicentenário da Independência, a Funai mostrará exemplos de protagonismo indígena que contribuem para a autonomia e independência das comunidades. A história de Eliane integra a série de reportagens especiais, publicadas nos canais oficiais da Funai, apresentando o perfil de quatro lideranças que buscam mudar a realidade de suas aldeias.

Bicentenário da Independência

Em 2022, também celebramos o Bicentenário da Independência do Brasil, comemorado em 7 de setembro. Para festejar a marca histórica, o Governo Federal realiza uma série de atividades para rememorar a trajetória do país ao longo dos 200 anos. Com o mote Liberdade, Independência e Soberania, há ações como o lançamento de publicações, incentivo à produção de arte sobre a temática, reforma de museu e mobilização da diplomacia brasileira para celebrar a data também no exterior.

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Assessoria de Comunicação / FUNAI