Falar sobre a construção do projeto turístico-cultural na Terra Indígena Utiariti (MT), que contou com o apoio da Fundação Nacional do Índio (Funai), enche de orgulho o cacique da aldeia Wazare, Rony Azoinayee. Maior articulador e protagonista dessa iniciativa na região, ele fala com entusiasmo sobre as visitas que recebe de turistas de todos os estados da Federação e também do exterior, que vem ao Brasil para conhecer a área indígena e os aspectos culturais da etnia.
Ao lado dos irmãos, em 2019 ele iniciou a projeção da aldeia, cuja construção se deu em 2011. Mas o início do processo originou-se muitos anos antes, na década de 70, por um dos principais líderes da etnia Haliti-Paresi, Daniel Cabixi, seu pai, que atuou intensamente para o direito dos indígenas da região de produzirem.
“Um dos maiores sonhos do meu pai era que os índios tivessem sua autonomia econômica e vivessem em suas aldeias com dignidade. Hoje, todas as aldeias estão usufruindo disso, após muitos anos de esforço, por meio dos projetos agrícola, turístico e cultural. Estamos conseguindo garantir a nossa liberdade a partir desse trabalho que começou lá atrás, com as lideranças passadas”, afirma o cacique.
Rony reconhece o apoio da atual gestão da Funai e diz que a parceria foi importante para a evolução do etnoturismo nos últimos dois anos na aldeia Wazare. “Recebemos das mãos do presidente Marcelo Xavier a Carta de Anuência da Funai em 2021, que regulariza a atividade de visitação com fins turísticos na modalidade de etnoturismo, turismo cultural indígena e de vivência. Esse foi o primeiro plano de visitação em Terra Indígena legalizado no estado do Mato Grosso, temos muito orgulho dessa conquista que tivemos com apoio da Funai”, salienta.
A criação de galinhas, a piscicultura, a horticultura e o plantio de árvores para sombra e produção de frutas são outras atividades sustentáveis complementares para a geração de renda, junto com o trabalho na lavoura mecanizada, com o plantio de soja, milho e feijão. “Mesmo com esses projetos novos, nós sempre buscamos manter o aspecto tradicional das casas, do pátio, ou seja, de toda a infraestrutura indígena. Assim, conseguimos manter a nossa comunidade aqui, trabalhando, gerando renda com dignidade, sem perder nossos costumes”, explica.
O nome da aldeia também traz a simbologia da etnia em sua essência. “A aldeia foi denominada Wazare para referenciar e eternizar a cosmologia do líder mítico da etnia Haliti-Paresi. Wazare, junto do sábio irmão Kamahiye, ensinou aos nossos antepassados todos os conceitos e aspectos de sobrevivência no Chapadão dos Parecis”, pontua.
Crença e religiosidade para atingir os objetivos
Uma filosofia de origem indígena, relacionada ao uso do arco e da flecha como impulso nas decisões da vida e a garantia de manter o foco e nunca desistir diante das dificuldades, foi apresentada a Rony por seu avô quando criança e, é com base nela, que o cacique atingiu seus objetivos, em especial na sua formação educacional.
“Eu tinha muita dificuldade em aprender o português quando era criança, os colegas de aula riam de mim, e aquilo me fazia desistir um pouco a cada dia. Meu avô pegou o arco e a flecha e, por meio da espiritualidade e da força, me direcionou ao caminho do sucesso. Hoje sou formado, com graduação em Educação Escolar e pós-graduação em Linguística. Com a filosofia do meu avô eu falo e escrevo português, escrevi meu primeiro material didático nas duas línguas, assim como a minha monografia. E eu gosto de repassar essa filosofia para todos que nos visitam na aldeia Wazare”, explica.
Atualmente, o cacique Rony se consolida como uma das principais lideranças da etnia na região. Visionário, sempre cheio de projetos, ele conta que até mesmo a sua mãe duvidava de algumas ideias suas. “Lá no início eu andava com a minha mãe aqui pela área e ia apontando para os lugares dizendo: olha, bem aqui eu vou construir a sua casa. Ela balançava a cabeça e dizia que eu era doido, que ia ser difícil fazer isso. Então hoje, cada vez que eu vou na casa dela, eu lembro dessa história. Construímos exatamente onde eu disse que ia ser”, conclui o cacique.
Apoio da Funai
O presidente da Funai, Marcelo Xavier, destaca que a fundação segue com seu compromisso de levar etnodesenvolvimento às aldeias e tem potencializado projetos sustentáveis em todo o Brasil. “Só em 2021, foram assinadas mais de 20 Cartas de Anuência para projetos de etnodesenvolvimento em diferentes aldeias. Além disso, fizemos uma grande entrega de tratores, mais de 40, para diversas comunidades indígenas, entre outras inúmeras ações por todo o país”, ressalta.
Xavier espera que o exemplo de etnoturismo da etnia Paresi possa ser adotado por outras aldeias no território nacional. “Esperamos que essa experiência exitosa dos Paresi seja replicada como modelo para todo o país, a fim de levar dignidade às comunidades indígenas brasileiras. A Nova Funai entende que o indígena tem que ser o protagonista da sua própria história e ter autonomia para suas escolhas, sendo que ele não deixa de ser indígena por buscar melhores condições de vida”, salienta.
Abril Indígena 2022
Na Campanha Abril Indígena de 2022, ano em que o Brasil celebra o Bicentenário da Independência, a Funai mostrará exemplos de protagonismo indígena que contribuem para a autonomia e independência das comunidades. A história do cacique Rony integra a série de reportagens especiais, publicadas nos canais oficiais da Funai, apresentando o perfil de quatro lideranças que buscam mudar a realidade de suas aldeias.
Bicentenário da Independência
Em 2022, também celebramos o Bicentenário da Independência do Brasil, comemorado em 7 de setembro. Para festejar a marca histórica, o Governo Federal realiza uma série de atividades para rememorar a trajetória do país ao longo dos 200 anos. Com o mote Liberdade, Independência e Soberania, há ações como o lançamento de publicações, incentivo à produção de arte sobre a temática, reforma de museu e mobilização da diplomacia brasileira para celebrar a data também no exterior.
Conheça também o primeiro perfil da série especial, leia aqui.
Assessoria de Comunicação / FUNAI
Deixe um comentário