O mito do “vazio demográfico” na Amazônia e da “floresta virgem” vem sendo derrubado sistematicamente por uma série de estudos científicos que mostram que a região foi ocupada por milhões de pessoas no passado.
A arqueologia tem um papel central em revelar a riqueza histórica, cultural e socioeconômica dessa ocupação. No caso da região do Tapajós, no Pará, recentes descobertas fortalecem achados das décadas de 1970 e 1980.
O relatório “Tapajós Sob o Sol”, lançado pela ONG International Rivers, reúne achados arqueológicos inéditos e lembra que, no caminho da pesquisa, estão a industrialização massiva do garimpo ilegal, que causa destruição sem precedentes, o avanço do agronegócio e projetos em cadeia para o Tapajós, como hidrelétricas, portos, hidrovias, barragens e ferrovias.
O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) registra a presença de 375 sítios arqueológicos nos municípios situados no entorno do Rio Tapajós: são 134 em Itaituba, 81 em Santarém, 65 em Jacareacanga, 59 em Belterra, 21 em Rurópolis, 9 em Novo Progresso e 6 em Aveiro.
“Essa ideia do grande vazio, esse mito da floresta prístina, permite uma ideia de recursos naturais a serem explorados. Quando olhamos para as informações que a arqueologia pode fornecer, ela desbanca a ideia de áreas vazias. Não é possível mais pensar que são áreas desocupadas, esses lugares têm donos”, afirma a pesquisadora Bruna Rocha, coordenadora e professora adjunta do Bacharelado em Arqueologia da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa), uma das autoras do relatório.
A maior parte desses sítios arqueológicos está relacionada a ocupações humanas mais densas em termos demográficos, indicando um caráter sedentário, e boa parte datadas entre o ano 1 d.C. e o início do século 20.
por Maurício Angelo
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