Uma das cientistas do estudo do Painel Intergovernamental da ONU sobre Mudança Climática, lançado esta semana, destaca que é a primeira vez que o documento traz um olhar social sobre a região e como os povos indígenas já estão sendo afetados; Patrícia Pinho explica dificuldades de adaptação em contexto migratório.

Foto: © UNICEF/Alécio Cézar – Poyowari Piyãko, jovem ativista indígena Ashaninka, no norte do Brasil.

O Painel Intergovernamental da ONU sobre Mudança Climática, Ipcc, lançou esta semana seu novo relatório, mostrando os “perigos inevitáveis” que o ecossistema continuará enfrentando nos próximos 20 anos devido ao aquecimento global.

Reverter um cenário de catástrofe é possível, se a temperatura média não subir mais do que 1.5° Celsius em relação aos níveis da era pré-industrial. Pela primeira vez, o relatório do Ipcc traz um olhar sobre o impacto social da mudança climática na região da Amazônia, que abriga nove países, entre eles o Brasil, que concentra a maior parte do território amazônico.

Riscos severos 

A ONU News conversou com uma das co-autoras do relatório do Ipcc. De São Paulo, a especialista em ecologia humana, Patrícia Pinho, explicou os efeitos do aquecimento global para as populações indígenas.

“No caso da Amazônia brasileira, a gente tem mostrado que os povos indígenas e a população mais tradicional, ela está no cerne da questão dos impactos que geram a vulnerabilidade à exposição, que é a mudança do uso da terra, que são atividades ilegais de desmatamento, de mineração, conflitos fundiários que acontecem dentro do seu território e mais os impactos das mudanças climáticas. O que a gente mostra é que essa população está num risco muito, muito grande.”

Segundo Patrícia Pinho, o conceito de justiça climática está exposto de maneira muito forte neste novo relatório do Ipcc. A co-autora do estudo explica que muitas populações indígenas estão abandonando suas terras devido à mudança climática e indo morar nas cidades. Mas a adaptação ao novo meio é outro obstáculo.

Migração e adaptação 

“Esses povos, por consequência disso, já estão saindo do seu território. Migram para uma situação de cidades. Só que o que acontece, é uma estratégia de adaptação, mas que no longo termo, ela não é adaptativa. Quando você traz essa população que já era marginalizada no seu lugar de origem, ela não vai ser uma população apta a viver nas cidades, ela não tem oportunidades de trabalho, não tem oportunidades de educação ou de saúde, vão ocupar áreas marginais já degradadas, aumentando assim a problemática das múltiplas crises que estamos vivendo.”

A especialista Patrícia Pinho destaca que uma crise humanitária acaba se formando, consequência da crise ambiental.

A co-autora do estudo do Ipcc garante que a população da Amazônia está enfrentando os limites da adaptação climática.

PUBLICADO POR:     ONU – NAÇÕES UNIDAS