Dois laboratórios do Instituto Mamirauá, um flutuante e outro em terra, foram inaugurados com a presença de comitiva ministerial. Anúncio sobre monitoramento em tempo real abrangendo toda a Reserva Mamirauá, também foi oficializado
Infraestruturas de pesquisa com tecnologia de ponta em áreas remotas da Amazônia – um projeto ambicioso que promete transformar a maneira de fazer pesquisa no território amazônico. Uma ideia que foi desenhada em 2018, e teve seu ponto de partida na prática com a inauguração de dois laboratórios satélites sob responsabilidade do Instituto Mamirauá nas Reservas de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá e Amanã, nos últimos dias 5 e 6 de fevereiro, que integram o projeto SALAS – Sistema Amazônico de Laboratórios Satélites do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI). A inauguração dos laboratórios Vitória-régia e Peixe-boi contou com a presença do Ministro Marcos Cesar Pontes e sua comitiva do Ministério, embaixadores, além dos Diretores do Instituto Mamirauá, pesquisadores e demais colaboradores da instituição.
Antecedendo o lançamento dos laboratórios SALAS nas Reservas Mamirauá e Amanã, o Instituto Mamirauá recebeu as autoridades nacionais e internacionais em sua sede, situada na cidade de Tefé (AM). No primeiro dia da visita da delegação, sábado (5), todos puderam ter conhecimento das diversas atuações do Instituto Mamirauá, através da apresentação ministrada pelo Diretor Geral João Valsecchi do Amaral.
“Eu vejo aqui a capacidade de transformar a região amazônica e outras regiões com as tecnologias e metodologias que eles desenvolvem aqui”, afirmou o Ministro Marcos Cesar Pontes após assistir à apresentação do Diretor Geral do Instituto. “Esse trabalho é extremamente importante”, comentou para as autoridades, entre elas, os embaixadores. Logo em seguida, a comitiva seguiu para uma breve visitação no prédio de Coleções Biológicas e Pesquisas Terrestres.
Laboratório Satélite Flutuante Vitória-Régia (Reserva Mamirauá)
Após visita técnica na sede do Instituto, toda a comitiva se deslocou para a Reserva Mamirauá, onde aconteceu a solenidade de inauguração do laboratório satélite flutuante Vitória-régia, e a oficialização ao público do projeto Providence – que utiliza de tecnologia para monitoramento da biodiversidade em tempo real e que, graças à essa tecnologia, hoje a Reserva Mamirauá adquiriu o ‘título’ de primeira unidade de conservação monitorada em tempo real no mundo.
Na oportunidade, o Diretor Geral João Valsecchi ministrou uma breve apresentação sobre o projeto SALAS. “É um prazer estar aqui inaugurando o primeiro laboratório satélite do projeto SALAS no Ministério. Agradeço o fato de Mamirauá ter sido a instituição escolhida para inaugurar a primeira base. É um projeto que tem por objetivo a instalação de infraestruturas voltadas para o apoio a pesquisa no território amazônico. A ideia, é que com essa infraestrutura, a gente consiga ampliar a oportunidade em pesquisa científica e formação de recursos humanos, apoiar atividades de pesquisa em diferentes áreas do conhecimento, e mobilizar de fato as pesquisas do ministério na Amazônia legal”, ressaltou João Valsecchi às autoridades.
O Diretor Geral do Instituto Mamirauá ainda detalhou sobre as fases do projeto, e próximas entregas previstas: o Centro de Reabilitação de Peixes-boi na Reserva Amanã, uma Base Logística SALAS – que irá funcionar como um Centro de Operação de todas as outras bases da Amazônia Ocidental, e será localizada na região de Tefé – e o Laboratório Satélite do Rio Tefé, que será posicionado próximo da Floresta Nacional (Flona) de Tefé. Essas entregas já haviam sido anunciadas pelo Diretor durante a 18ª Semana Nacional de Ciência e Tecnologia (SNCT) em Brasília, promovida pelo MCTI, na ocasião em que ministrou uma apresentação sobre o SALAS no palco principal do evento.
Ao todo, serão 50 laboratórios compondo o projeto SALAS, sob coordenação da Secretaria de Pesquisa e Formação Científica (SEPEF) do Ministério. “Hoje estamos na inauguração do laboratório SALAS Vitória-régia aqui na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, mas estamos projetando pelo menos 50 bases na Amazônia – 15 bases que já existem nas instituições e serão adequadas para o formato SALAS, e colocadas em uma condição na qual os institutos e pesquisadores vão conseguir realizar as pesquisas devidas – e 32 novas construções espalhadas em todo o bioma. Dessas, serão 25 estruturas flutuantes, e 22 bases terrestres, nas quais 17 localizadas na Amazônia Ocidental estarão sob responsabilidade do Instituto Mamirauá, na Amazônia Central 19 bases sob responsabilidade do INPA [Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia], e 11 bases na Amazônia Oriental sob responsabilidade do Goeldi [Museu Paraense Emílio Goeldi]”, detalhou Valsecchi. “É um projeto bastante ambicioso e que vai ter grande impacto na produção do conhecimento científico no país”, destacou.
O Centro de Reabilitação de Peixes-boi na Reserva Amanã, será uma estrutura composta por três estruturas flutuantes, sendo que, uma delas, será contemplada com três piscinas para receber animais jovens e adultos que serão reintroduzidos posteriormente para a natureza. Outra estrutura comportará equipamentos laboratoriais para viabilizar experimentos com a espécie, e por fim, haverá um pequeno espaço com tanques menores destinados para o resgate de filhotes. “O Mamirauá já tem essa experiência no passado, mas de fato o trabalho foi interrompido porque precisava de uma estrutura para dar continuidade a esse projeto. Então, o projeto SALAS vem ajudar fortemente com isso, e vamos conseguir retomar o trabalho de conservação e monitoramento da espécie”, observou o Diretor Geral durante a sua explanação.
Por outro lado, a Base Logística SALAS será capaz de operacionalizar bases distantes da sede do Instituto Mamirauá, já que terão bases, por exemplo, a mais de 800 quilômetros a oeste da sede, de acordo com João Valsecchi. “A cobertura é impressionante, e isso vai aumentar muito as possibilidades de pesquisas e descobertas na Amazônia”, pontou. “A Base Logística será capaz de operar não só as 19 bases satélites, mas também de oferecer infraestrutura de apoio a pesquisa para toda região do médio e alto Solimões, não só para o Mamirauá, ou mesmo para as instituições que vão participar das chamadas salas via CNPq [Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico], mas também para as universidades e outros institutos parceiros que atuam aqui na região”, completou.
Outro ponto que foi destaque na apresentação do Diretor Geral do Instituto Mamirauá, e que resultou em um feedback satisfatório das autoridades presentes, foi quanto ao uso de materiais sustentáveis na construção dos laboratórios. Como exemplo, ele citou que toda a base é movida a energia solar, construída a partir de madeiras plásticas certificadas, e que foram instaladas em sua estrutura, telhas de isolamento térmico que também propiciam melhores condições para os pesquisadores. Todo o mobiliado do laboratório também é certificado, e o material tem garantia de grande durabilidade de uso. “A ideia é ter, de fato, uma estrutura mais perene na Amazônia, que não sofra tanto com esse ambiente que é tão agressivo, e esse é só o primeiro passo. Hoje estamos trabalhando no conceito das bases terrestres”, revelou.
Projeto Providence – monitoramento 24h da biodiversidade
Após a apresentação de João Valsecchi, o Diretor Técnico-Científico Emiliano Esterci Ramalho fez o uso da palavra, para uma explanação e lançamento oficial do Projeto Providence. Emiliano iniciou sua apresentação contando um pouco para as autoridades como surgiu a ideia da tecnologia, uma vez que o planeta está perdendo floresta e exemplares da sua fauna em taxas alarmantes; e da insuficiência de metodologias capazes de monitorar a biodiversidade a partir da perspectiva terrestre. “Olhamos de cima e não sabemos o que acontece embaixo”, observou.
O Diretor Técnico-Científico citou como exemplo armadilhas fotográficas que são utilizadas atualmente para o monitoramento da biodiversidade. No entanto, segundo ele, é um tipo de metodologia que demanda muito tempo, conhecimento e grande capacidade logística para ser executada. “As metodologias que temos hoje também não permitem fazer com muita eficiência a fiscalização nas unidades de conservação. Então, com essa inquietação, pensamos numa tecnologia que pudesse monitorar a biodiversidade de maneira automatizada […] o equipamento Providence escuta, faz a classificação das espécies, e ainda consegue monitorar dentro d’água”, disse.
Além dos sons, o módulo ainda é capaz de capturar imagens, e classificar a espécie que seja mais provável. “A ideia do Providence não é só gerar dados científicos e dados para os gestores; a ideia também é aproximar as pessoas da biodiversidade da Amazônia”, mencionou Emiliano. Para isso, está em implementação e desenvolvimento, um site para que qualquer pessoa seja capaz de acessar, ver e ouvir os sons da Amazônia, funcionando como uma verdadeira espécie de “big brother” da floresta.
Durante sua apresentação, ele declarou oficialmente que hoje, a Reserva Mamirauá é primeira unidade de conservação no mundo monitorada em tempo real. Ao todo, são 20 módulos do Projeto Providence que foram instalados estrategicamente ao longo da reserva. Seu funcionamento acontece a partir de energia solar.
Após a explanação dos Diretores do Instituto Mamirauá, o ministro Marcos Pontes teceu elogios à instituição, e ainda detalhou as autoridades como surgiu a ideia do projeto SALAS – advinda do conceito de estação espacial internacional: laboratórios remotos a serem construídos em ambientes hostis. “Estou muito feliz hoje, esse laboratório é completamente sustentável, e muda a capacidade de infraestrutura na ciência do país”, declarou. “Eu acredito que é isso que a gente precisa; esse trabalho em conjunto entre cientistas brasileiros e cientistas de outros países para poder resultar em melhores condições para o planeta”, afirmou na solenidade de inauguração do laboratório satélite Vitória-régia.
A comitiva ministerial aproveitou as acomodações da Uakari Lodge no primeiro dia da visita. A Pousada Uacari é uma experiência de ecoturismo de Base Comunitária, e fica situada na Reserva Mamirauá.
Laboratório Satélite terrestre Peixe-boi (Reserva Amanã)
No dia seguinte da inauguração do Laboratório Vitória-régia, domingo (6), a delegação partiu para a inauguração do segundo laboratório satélite SALAS sob responsabilidade do Instituto Mamirauá: o Laboratório Satélite terrestre Peixe-boi, situado na Reserva Amanã. A estrutura do laboratório conta com duas cozinhas: uma interna e outra externa, quatro quartos, banheiro, um escritório, espaço de convivência e laboratórios.
Durante a solenidade de inauguração do laboratório de “selva”, estavam presentes a Drª Miriam Marmontel, líder do Grupo de Pesquisa em Mamíferos Aquáticos Amazônicos do Instituto Mamirauá, e pesquisadores do grupo. Durante seu pronunciamento na solenidade de inauguração, a pesquisadora se mostrou emocionada com a notícia da reativação do Centro de Reabilitação de Peixes-boi. “Essa notícia oficial de que o ‘Centrinho’ será renovado, é extremamente gratificante para nós, e acho que é um reconhecimento também para as comunidades que tem sido muito apoiadoras nessa nossa jornada da preservação do peixe-boi, e até para o lago Amanã, que é conhecido como a casa do peixe-boi. Então queria agradecer muito por isso, especificamente por essa parte do peixe-boi, mas também queria dizer que esse laboratório é muito mais do que isso, ele serve de apoio para diversas outras pesquisas”, agradeceu.
Segundo a pesquisadora, o sistema de laboratórios remotos na Amazônia, irá possibilitar mais pesquisas na área socioambiental e oportunidade de atuação no bioma para diversos pesquisadores brasileiros e estrangeiros. Em memória ao fundador do Instituto Mamirauá José Márcio Ayres, Drª Miriam fez menção ao primatólogo na solenidade, ressaltando que Ayres foi idealizador das reservas, e que seu sonho se concretiza através de projetos como o SALAS.
O Diretor Geral João Valsecchi explicou o porquê do nome do laboratório. “A base recebeu o nome em homenagem a espécie peixe-boi, e nós estamos no primeiro módulo de construção, que seria o módulo de sobrevivência. Aqui tem o fundamental para que pesquisadores e usuários possam, de fato, permanecer em campo confortavelmente. Aqui ficam hospedados com facilidade e com conforto, 16 pesquisadores, mas nós já recebemos grupos maiores”, falou para a comitiva.
Valsecchi ainda explicou que a base – agora revitalizada – tem uma grande importância para instituição. Historicamente, a estrutura serviu de subsídio para pesquisas e extensões, e que já estava subutilizada, necessitando de reparos e reestruturação. “Com os recursos provenientes do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações, nós conseguimos não só recuperar a base, mas fazer o investimento em equipamentos, energizá-la com energia solar, transformá-la em uma base mais sustentável, e agora ela está pronta novamente para uso”, comemorou.
Secretário de Pesquisa e Formação Científica do MCTI, Marcelo Morales ressaltou que nos próximos anos, haverá chamadas públicas para recrutar pesquisadores interessados em fazer pesquisa nos laboratórios SALAS na Amazônia. “Nós teremos chamadas públicas frequentes, a cada ano, para os laboratórios SALAS. Então todos os pesquisadores do Brasil, em cooperação com pesquisadores do exterior, vão poder vir aos laboratórios SALAS e fazer pesquisas de ponta nesses laboratórios. Então, parabéns ao Mamirauá, aos pesquisadores, agências FINEP [Financiadora de Estudos e Projetos] e CNPq, e aos embaixadores que faremos cooperações importantes. Vamos seguir em frente com esse projeto que começa com esses laboratórios que estamos inaugurando. Nós faremos 50 em todo o território amazônico, e teremos aí o Goeldi, o INPA e o Mamirauá linkados a esses laboratórios satélites”, enfatizou o Secretário Marcelo Morales.
A solenidade de inauguração do Laboratório Satélite terrestre Peixe-boi foi encerrada após a fala do ministro. “Isso aqui é o começo de uma transformação na maneira de fazer ciência na Amazônia. Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá faz jus ao nome. Para quem não conhece, saiba mais a respeito do Instituto”, concluiu ainda fazendo menção ao Projeto Providence. “As coisas estão acontecendo”, finalizou.
Diretoria do Instituto Mamirauá
A visita da comitiva ministerial foi acompanhada integralmente por toda Diretoria do Instituto Mamirauá, que atualmente é composta pelo Diretor Geral João Valsecchi do Amaral, pelo Diretor Técnico-Científico Emiliano Esterci Ramalho, pela Diretora de Manejo e Desenvolvimento Dávila Suelen Souza Corrêa, e pela Diretora Administrativa Joycimara Rocha de Sousa Ferreira.
Delegação
A comitiva do MCTI foi composta por secretários e diretores do ministério e embaixadores, além do Ministro Marcos Pontes. Entre os secretários, estavam presentes a Secretária de Articulação e Promoção da Ciência do MCTI, Christiane Corrêa; o Secretário de Empreendedorismo do MCTI, Paulo Alvim, e Secretário de Pesquisa e Formação Científica do MCTI, Marcelo Morales.
O diretor do departamento de Promoção Tecnológica Luciano Mazza de Andrade estava presente representando o ministro das Relações Exteriores, e o diretor do Departamento de Ciências da Natureza – SEPEF/MCTI, Savio Raeder, também acompanhou a comitiva.
Também estavam com a delegação o presidente da FINEP/MCTI, Waldemar Barroso, e o secretário Municipal de Ciência, Tecnologia e Inovação de Tefé, Daniel Sacha Caminha Beserra.
Entre demais diplomatas, acompanharam a comitiva ministerial: o Embaixador da Alemanha no Brasil Heiko Thoms, Embaixador e Embaixatriz da Suíça no Brasil Pietro Adolpho Giuseppe Lazzeri e Anahita Thoms, respectivamente, Embaixador Ignacio Ybáñez Rubio, Chefe da Delegação da União Europeia no Brasil e Ministro Pablo Antonio de Angelis, Ministro Conselheiro e Chefe da Chancelaria da Embaixada da Argentina no Brasil.
O projeto SALAS
O SALAS MCTI é coordenado pela SEPEF do MCTI, que adota, em articulação com outras unidades do Ministério, as medidas e ações necessárias para a gestão, implementação e monitoramento do projeto.
As unidades vinculadas ao Ministério, e que integram o projeto, são o INPA e MPEG (Museu Paraense Emílio Goeldi), além do Instituto Mamirauá. Todo o projeto foi concebido ainda com o apoio do SENAI (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial) de São Paulo.
Imagens e edição do vídeo: Carine Fernanda dos Santos Corrêa
Texto: Carine Fernanda dos Santos Corrêa – INSTITUTO MAMIRAUÁ – VER REPERTÓRIO FOTOGRÁFICO
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