Enquanto se autopremia pelos “serviços prestados” à causa indígena, o governo Bolsonaro segue insistindo em usar o risco de desabastecimento internacional de potássio para empurrar a legalização da mineração em Terras Indígenas. Segundo a Reuters, executivos da empresa Potássio do Brasil, subsidiária do banco canadense Forbes & Manhattan, se encontraram nesta 3ª feira (15/3) com a ministra Tereza Cristina, da agricultura, para apresentar seus planos para expansão da exploração de potássio na região de Autazes, no sul do Amazonas.

A mina operada pela Potássio do Brasil fica nas proximidades da Terra Indígena Jauary, habitada pelo povo Mura; algumas comunidades locais afirmam que parte da exploração acontece em áreas dentro da reserva, o que é atualmente ilegal – e que o governo quer a todo custo legalizar. De acordo com os executivos da empresa, a ideia é ampliar a capacidade de exploração de 2,44 milhões de toneladas anuais para mais de 5 milhões, o que cobriria quase metade da necessidade nacional de potássio.

Mas a promessa não é imediata: segundo a empresa, levará pelo menos três anos a partir da concessão do licenciamento para que a produção atinja este patamar. A Folha publicou uma tradução da reportagem.

Ainda sobre a Potássio do Brasil, Maurício Angelo escreveu no Observatório da Mineração sobre a relação da empresa com os interesses econômicos do ex-ministro Blairo Maggi, um dos maiores produtores de soja do mundo. Segundo a reportagem, Maggi estaria negociando com os proprietários canadenses da mineradora uma parceria na exploração da mina de Autazes, na qual o grupo Amaggi entraria na parte logística, oferecendo transporte pelas hidrovias que possui nos rios Madeira e Amazonas. Maggi se posicionou publicamente em favor do projeto de lei (PL) 191/2020, em tramitação na Câmara. “O meu entendimento é que o subsolo pertence à nação brasileira, não pertence a nenhum de nós, nem aos índios, então explorar essas riquezas, se com responsabilidade e com todo o cuidado, gera riquezas para a nação brasileira e vai gerar royalties para quem está nas nossas áreas”, disse o ex-ministro.

Por falar no PL 191, a coluna de Lauro Jardim n’O Globo revelou que a deputada Joenia Wapichana, única representante indígena no Congresso Nacional, quase ficou de fora da comissão especial montada pelo presidente da Câmara, Arthur Lira, para analisar o mérito da proposta. A Rede Sustentabilidade, partido da parlamentar, ficou de fora na divisão das vagas no colegiado. Para evitar a exclusão de Wapichana, o PSB indicou a deputada para uma de suas vagas; como resultado, o deputado Rodrigo Agostinho, presidente da Comissão Parlamentar Ambientalista, foi excluído da comissão.

Em tempo: O bloqueio planejado por garimpeiros em trecho da rodovia Transamazônica foi desfeito nesta 3ª feira (15/3) pela Polícia Militar do Pará, que dispersou o grupo com bombas de gás lacrimogêneo. Os garimpeiros fazem parte da mesma mobilização que bloqueou a BR-163 na semana passada em protesto contra ações de fiscalização ambiental do IBAMA e da Polícia Federal que resultaram na destruição de maquinário do garimpo. O Estadão deu mais detalhes.

PUBLICADO POR:   CLIMAINFO