BRASÍLIA – O atraso de quase uma década no início das obras do linhão de energia de Tucuruí, entre Manaus (AM) e Boa Vista (RR), costuma ser atribuído, tanto pelo governo federal como pelos empreendedores do projeto, à relutância de povos indígenas de Roraima em chegar a um acordo final para que a linha de transmissão passe por dentro de suas terras. A questão indígena, porém, está longe de ser um único fator que transformou essa obra em um dos projetos mais problemáticos da infraestrutura nacional. A questão é dinheiro.
A concessionária Transnorte Energia, empresa formada pela estatal Eletronorte e a companhia Alupar, trava uma batalha financeira contra Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), a qual acusa de “usurpar” decisões já tomadas pelo governo, e cobra mais de R$ 1 bilhão em custos extras por uma obra que sequer teve início.
O Estadão teve acesso a uma carta que a concessionária enviou à diretoria da agência no dia 15 de fevereiro. No documento, a empresa acusa a Aneel de se negar a reconhecer seus cálculos de indenização pelo atraso da obra que foi leiloada há dez anos e que deveria estar pronta desde 2015. A Aneel nega as acusações.
Até hoje a construção não começou devido ao impasse em seu licenciamento ambiental, dado que a linha de 720 km cortaria pelo meio a terra indígena do povo Waimiri Atroari, em uma extensão de 120 km.
Segundo a empresa, que já tentou devolver o projeto, o Ministério de Minas e Energia e a Advocacia Geral da União (AGU) recomendaram à agência que mantivesse a concessão ativa e que fizesse o reequilíbrio econômico-financeiro do contrato, mas a Aneel resiste em aceitar as contas apresentadas pela Transnorte Energia.
André Borges
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