EPOPEIA ACREANA

Cel Hiram em seu caiaque

Inimigos na Trincheira! – IX

Quo Vadis?, n° 239
Manaus, AM – Sábado, 19.12.1903
No País da Miséria ‒ Catão ou Tartufo
Seção Livre  

Terminou, afinal, o Sr. Tenente Alípio Bandeira a série de artigos com a sugestiva epígrafe – No País da Miséria – com os quais pretendeu exibir-se perante a sociedade amazonense, que o não conhecia, e, sem resultado, felizmente, macular a reputação de Plácido de Castro.

Venho hoje, de uma só vez, dizer quem é esse sr. Alípio Bandeira e destruir as suas calúnias infamantes contra o heroico chefe acreano.

Certo estou de que, se o Ten Alípio Bandeira refletisse um só momento, não viria atacar a Plácido de Castro em matéria de moralidade porquanto, diz o rifão ([1]): “quem tem telhado de vidro…” ou por outra, quem só amasia com a legítima mulher de um pobre camarada, a quem devia respeitar, além do mais, pela sua posição do superior hierárquico do marido vilipen­diado, não pode piar… piar, sequer, Sr. Tenente, tratandose de moralidade; tanto mais quando, conscientemente, lançava uma calúnia.

Sobre a questão do dinheiro, fez bem o sr. Tenente de tratá-lo de leve, passando como gato por brasas, sem referência seria, que mereça resposta; por isso limito-me a chamar a sua atenção para o relatório publicado pelo Cel Rodrigo do Carvalho, da receita arrecadada pela Revolução e das despesas efetuadas, do qual lhe remeterei para Óbidos um exemplar na primeira oportunidade, e para um balancete que publiquei no Amazonas, em julho próximo passado. Fez bem, repito, em não ir a fundo contra Plácido de Castro, neste assunto, porque S.S.ª que tanto bisbilhotou da sua vida, deve ter ficado sabendo que o dinheiro da Revolução Acreana só passou pelas mãos do Coronel Rodrigo de Carvalho e pelas do signatário deste artigo, na sua qualidade de Procurador de Plácido e, mesmo porque, recordando o prolóquio ([2]) já citado, eu poderia contar certa história que motivou tornar-se antipático a seus camaradas; lembra-se?

Sobre depredações, a que aludiu insidiosamente e perfeitamente conhecedor de que nenhuma houve praticada ou autorizada por Plácido de Castro, pois os gêneros necessários à alimentação das suas tropas foram adquiridos por compra, mediante a borracha que os chefes acreanos, proprietários de seringais, subscreveram, ou por meio do requisições assinadas por quem de direito, sob o compromisso, em parte, grande parte já satisfeito, de serem pagos com o produto dos impostos de importação e exportação arrecadados pela Revolução, cumpre lembrar ao Sr. Ten Alípio Bandeira que, uma Revolução, pela sua natureza própria, só dispõe dos elementos que o local lhe oferece, e que, se alguns abusos houve, foram severamente punidos, como S.S.ª não ignora e só de má fé ocultou em seus artigos verrinas ([3]).

Terminada a questão, a exemplo do que já se fez com a publicação do Relatório acima referido e do balancete, o Cel Plácido de Castro, fará publicar tudo quanto houver referente a assunto do dinheiro, escrupuloso como sempre se tem patenteado por idiossincrasia própria. Disse S.S.ª que, à luz da estratégia e da tática modernas iria analisar, etc. mas não cumpriu a sua promessa. Porque? Seria muito mais bonito que o fizesse. Em vez das “estratégias” anunciadas com tanta ênfase; desembestou por um acervo de calúnias, que só demonstram a sua leviandade, ignorância, ou perversidade.

É porventura, suportável que um Tenente qualquer, sem nenhum título a recomendálo, se arrogue no direito de chamar covardes aos acreanos que se bateram pela independência do Acre? Pois não chega até à petulância querer pôr em dúvida a bravura de Plácido de Castro? Ora, sr. Alípio Bandeira… Os acrea­nos tem os seus padrões de glórias e de valor atesta­dos por fatos recentes, que ninguém ignora, apenas S.S.ª finge desconhecê-los; e Plácido de Castro tem, além do que fez no Acre, para a sua reputação de bravura, dois anos de campanha no Rio Grande do Sul. Envio-o, entre outros, ao livro que o doutor Ângelo Dourado ([4]) publicou sob, o título ‒ “Os Voluntários do Martírio”, ‒ donde poderá tirar elemen­tos para julgar com acerto a José Plácido de Castro, a alma, o coração e o braço da Revolução do Acre. E S.S.ª o que nos pode apresentar como atestado do seu valor militar? Certamente não virá dizer que escondeu vergonhosamente na Escola Militar do Ceará, por ocasião da deposição do inesquecível e bravo General José Clarindo de Queiroz.

Pouco falta para patentear que os seus artigos, miseráveis de verdade, de imaginação e de coerência, como o título que os encima, nada valem, nem mesmo como defesa ao Exm°. Sr. General Olympio da Silveira, que, estou certo, dispensar-lhe-ia de bom grado. S.S.ª não deve ter esquecido ainda dois relatórios que apresentou, dos quais fez alarde, lendo-os a muitas pessoas, exibindo-os como “grandíloquos produtos” da sua genial cerebração ([5]). Pois bem, lembra-se do que escreveu sobre o Major Sallinas no primeiro? Chamou-o de transviado e outras coisas ainda mais belas, arrastou o seu nome pelas ruas da amargura, com a mesma simplicidade ou “sans façon” ([6]) com que agora assaca calúnias sobre os acreanos e, principalmente, sobre Plácido do Castro, o alvo predileto das suas diatribes! No segundo relatório dizia já que o Major Sallinas era o único homem de valor real no Acre! Nega a incoerência destes seus dizeres? Faltar-lhe-á o senso moral a esse ponto? Como explica a duplicidade do juízo sobre o mesmo indivíduo em tão curto espaço de tempo?

Não percamos ainda a esperança do ver Plácido de Castro endeusado pelo Sr. 2° Tenente Alípio Bandeira… Porque S.S.ª não declara pelos jornais, como fez no Acre, que, se não tivesse família no Brasil, se bandearia para a Bolívia? Porque, não confessa que a sua indignação contra os habitantes do “País da Miséria” provem de não ter podido realizar os seus sonhos de riqueza? Ora, Sr. Tenente Alípio Bandeira, tome mais cuidado nos seus dizeres; seja mais criterioso, que tem obrigação de o ser; lembre-se que veste e que merece mais respeito de sua parte a farda do glorioso Exército Brasileiro.

Antes S.S.ª se ocupasse em escrever alguma coisa sobre a forma do abastecimento ao nosso Exército em campanha, demonstrada, como ficou, ser a atual deficientíssima, ou sobre a sua artilharia; mas, parece, para estes problemas de imediato interesse da sua classe, S.S.ª não tem embocadura, nem competência.

Repito, ao terminar, a pergunta com que epigrafo estas linhas, escritas espontaneamente em defesa daqueles que, sem poderem prever o desfecho da luta, a ela se expuseram para reintegrar o solo da Pátria, conspurcado pelo estrangeiro: Catão ([7]) ou Cartufo ([8])?

Manaus, 17 de dezembro de 1903.

Domingos Alves Pereira de Queiroz (JQV, n° 239)

Jornal Comércio do Amazonas, n° 002
Manaus, AM – Segunda-feira, 04.01.1904
Plácido de Castro   

A “Revista da Semana” acaba de publicar o mais recente e belíssimo retrato do intrépido chefe dos Acreanos. Das suas raras qualidades militares de comando, da exemplar disciplina em que sabe manter as suas tropas, têm falado ou escrito com louvor soldados da maior competência, que conheceram de perto o heroico rio-grandense, como são os Generais Henrique Valladares e Pinheiro Machado, os Coronéis Siqueira de Menezes, Salles Torres Homem e Cunha Mattos, o Major Gomes de Castro e outros que poderíamos citar. Ainda há dias, um dos mais considerados oficiais superiores do Exército Brasileiro, portador de um nome ilustre, publicava o seguinte em artigo assinado “Um Soldado”:

[…] Também não poderíamos, se sucedesse o contrário, deixar de repelir devidamente quaisquer doestos ([9]) que fossem lançados à reputação do brilhante chefe da Revolução Acreana, Cel Plácido de Castro, que em plena mocidade tem revelado, como acontece às individualidades extraordinárias, um admirável tino militar, político e administrativo.

O Major Gomes de Castro, em relatório de 1° de maio, escreveu:

Ao meio dia de 25 de abril, fiz a minha entrada em “Gironda”, sendo recebido por Plácido de Castro com a gentileza e a camaradagem que lhe são peculiares. Imediatamente, fiz-lhe entrega da vossa carta e dei-lhe ciência das instruções que lhe enviastes. Só então o Chefe Acreano teve conhecimento do acordo diplomático de 21 de março.

É dever de justiça declarar-vos o modo cavalheiresco peio qual o Chefe Acreano deu-se pressa em cumprir as deliberações do nosso governo. Com as próprias mãos, Plácido preparou a bandeira branca, o símbolo sagrado da paz, que foi mandado arvorar imediatamente na posição acreana, confronte à trincheira boliviana de Porto Rico.

Ao comandante dessa trincheira enviou ele um cartão comunicando a suspensão das hostilidades por efeito do convênio preliminar e a aproximação de um oficial do nosso Exército com o ofício do General brasileiro, propondo conferência parlamentar…

O Quartel General de Plácido de Castro pouco distante daquele em que fica o Vice-Consulado alemão, assina­lado pela respectiva bandeira.

Afim de evitar os desastrosos efeitos do sítio, agravados pela circundação ([10]) do Campo pelas matas, Plácido de Castro, ao invés de colocar a sua gente num mesmo ponto aplica a engenhosa tática de distribuí-la em pequenos grupos em torno do Quartel General, abrigados pelas matas, em tapiris e outros meios de bivacamento ([11]).

A segurança de seu campo é completa, devido a um meticuloso serviço de vigilância. De “Gironda”, por “Bela Flor”, até pouco acima de Porto Rico, onde o Orton faz uma imensa volta, se estendem as linhas acreanas, tolhendo completamen­te o passo ao inimigo.

Tendo seguido a marchas forçadas, Plácido estava reduzido a alimentar suas tropas com milho torrado, enquanto esperava pelos comboios de mantimentos que daqui [“Boa Fé”] irão partir. (JDC, n° 002)

D. Quixote, 14.02.1903

Jornal Comércio do Amazonas, n° 017
Manaus, AM – Quinta-feira, 21.01.1904
Ineditoriais ‒ O Acre 

Vergastemos as impudentes faces do
caluniador soez com “o látego da verdade” ([12])

Audax omnia perpeti, gens humana
ruit per vetitum nefas. ([13])

O descaroável ([14]) e trêfego ([15]) Alípio Bandeira, 2° Tenente de artilharia, pago pelo Governo com o suor do povo, para nas fronteiras da Pátria, defender a integridade do solo nacional, não cumpre seu dever; transforma-se em lacaio e em salão da caserna dá a mais evidente prova de sua indisciplina, atacando o Governo, desmoralizando o Exército, a que pertence, e, mais que isto, infamando sua Pátria perante o mundo inteiro, nas pessoas de seus irmãos, os mártires acreanos.

Destes nem o lar doméstico foi respeitado, pois que pelos monturos, onde soe escabujar ([16]), o degenerado arrastou a honra das famílias acreanas e a honorabilidade de seus chefes.

Ingratamente assim paga este dementado ([17]) o lisonjeiro acolhimento e os benefícios que recebeu daqueles que em tão má hora dispensaram atenções a quem tão indigno é de entrar em casa de família.

Com extrema vileza tenta ridicularizar a gloriosa Revolução acreana e prenhe de feroz despeito e de injustificável despeito, atira-se contra os heróis do Acre. Em linguagem de arrieiro ([18]), ou melhor, de alcouce ([19]), busca, baldadamente, macular a honra e marear a glória do prestigioso e denodado chefe Plácido de Castro. […]

O Ten Alípio, que, pela arrogância, provavelmente, pertence à plêiade “ilustre” dos degoladores ([20]), receberá, mais tarde, perante os tribunais o preço de, tanta “galhardia”, e ficará sabendo que os acreanos não são jagunços. Enganou-se, inteiramente, Ten Alípio Bandeira, os acreanos já tendo dado robustas provas de que não temem fanfarronadas, nem correm de caretas de bicho, lhe respondem que se defenderão em toda altura, fazendo-o sair corrido desta questão que tão despojadamente provocou.

O leitor certamente desculpará a rudeza de frases e termos, porque a brutalidade da ofensa plenamente justifica a energia da defesa.

É preciso dizer alguma coisa que provoque a manifestação da vergonha em termos que produza o efeito do ferro em brasa chiando nas faces lívidas do caluniador audaz.

O Tenente Alípio tem, com certeza, “as costas quentes” ([21]), [o que pouco ou nada importa], e quem lhe pague os artigos, o que bem se compreende porque o soldo de Tenente não dá para fazer bernardices ([22]) de légua e meia, vomitadas nos jornais, nem de seu primitivo ofício de ourives guardou reservas, porquanto se este fosse tão próspero, [atenta sua grande ambição] não o teria abandonado para ser soldado.

Ninguém julgue certas minudências questão de pouca monta, é preciso esmiuçar, dissecar este aborto, fibra por fibra, para e conhecer-se a natureza do monstro; além disto, toda defesa é justa contra inimigo tão desleal.

Esta afronta feita aos acreanos, como os prejuízos que temos sofrido, tudo devemos a, indébita e grandemente nociva intervenção do General Olympio da Silveira em assuntos somente afetos aos acreanos.

Esta questão já teria sido posta em “pratos limpos”, se não devêssemos atender a “certas conveniências”, sendo o principal motivo porque nos calamos à promessa feita ao Coronel Plácido por personagem altamente colocada e comprometida, de que não se tocaria na questão.

Entretanto o Ten Alípio, sem atender a conveniência alguma, por má índole e para se vingar de sua sorte e da incômoda viagem ao Acre, sem ver satisfeita a sua desmedida ambição, vem, de modo insolente provocar a questão nas barbas do Delegado do Governo, desabridamente os acreanos atacando e expondo-os aos olhos do mundo como um povo infame!

É demais!!!

Fique bem gravada na memória de todos isto: não fomos nós que provocamos esta questão que vai causar grandes desgostos e dar pasto a muitas almas ruins amantes de escândalos: temos tudo sofrido e tolerado a fim de não serem conhecidos certas fatos altamente comprometedores dos créditos de personagens que não pertencem à comunidade dos acreanos. Alea jacta est ([23]).    

Aceitamos a provocação do Ten Alípio e discutiremos tudo, tudo virá à luz. Ainda chegamos a tempo.

O Cel Plácido, brevemente irá perante, os tribunais e perante o país defender a sua honra, vilmente ultrajada e a causa pela qual tão nobremente se bateu: para isto não poupará esforços e lançará mão de todos os meios, até da publicação [se tanto for necessário] de documentos de suma importância, os quais deveriam ficar em eterno olvido.

Além de um protesto comum, serão publicados diversos protestos individuais, pelos quais se poderá avaliar a indignação que em todo o Acre causaram os ultrajes feitos às famílias acreanas pelo caluniador 2° Tenente de artilharia Alípio Bandeira. Em uma série de artigos que tenciono publicar, provando quanto fica dito, farei uma apreciação sobre os monstros dados ([24]) à luz pelo caluniador 2° Tenente Alípio e lhe transmitirei os agradecimentos dos generosos acreanos, que juram vencer esta indecorosa campanha de descrédito com mais facilidade que a contra os bárbaros bolivianos.

“As obras de um homem são o espelho de sua alma”. Esta insólita arremetida contra os que tanto o obsequiaram dá, não somente a medida exata do caráter do 2° Tenente de artilharia Alípio Bandeira, mas também a mais triste cópia de sua educação, mostra sua completa falta de escrúpulos, extrema pobreza de senso comum, absoluta míngua de critério e supina ([25]) ignorância.

Fou de tête écorné, Aussi sage à trente ans
que le jour qu’il est né. ([26])

Dr. Baptista de Moraes, Coronel chefe do serviço médico do Exército acreano. (JCA, n° 017)

A Larva, 18.09.1903

Jornal Comércio do Amazonas, n° 024
Manaus, AM – Sexta-feira, 29.01.1904
O Acre   

Escreve-nos o nosso companheiro Dr. Gentil Norberto:

Resposta ao 2° Tenente Alípio Bandeira

Em breve farei publicar a minha defesa das infames acusações que me fez o 2° Ten Alípio, pelo jornal “Quo Vadis?” desta capital.

Entretanto para desenganar algumas pessoas que ainda acreditam na honestidade e seriedade de Alípio transcrevo abaixo tópicos dos dois relatórios apresentados ao Gen Olympio e Cel Cunha Mattos pelo pretensioso farsante.

O fato passou-se assim: por ordem do General Olympio e depois de nossa descida do Acre seguiu Alípio para o “Xapuri” com o fim de prender o Major Sallinas, aliás um dos nossos mais esforçados companheiros e fazer um inquérito rigoroso sobre as acusações de que era alvo aquele oficial. Alípio inicia o inquérito e todas as testemunhas são unânimes a favor de Sallinas, não obstante o positivista Alípio escreve o primeiro relatório com a data de 03.08.1904. Alípio desce trazendo Sallinas preso. Em caminho sabe que o Gen Olympio baixara, passando o Governo a Cunha Mattos. Alípio que supõe ser Cunha Mattos amigo dos revolucionários solta imediatamente Sallinas e zás ([27]) escreve o 2° relatório com a data de 13.08.1903. Diferença de datas – dez dias.

1° Relatório apresentado ao General Olympio da Silveira pelo 2° Ten Alípio Bandeira em 03.08.1903.

Examinando-se o presente inquérito verifica-se que […] Inteligência sofrivelmente lúcida, espírito aventureiro e algo enérgico, tendo fugido do lar paterno e da Pátria aos 13 anos de idade, percorrendo desde então até hoje vários países em que se ocupou de profissões várias, não seria de admirar que Sallinas transigisse um pouco em questões de honestidade e de honra, sobretudo atendendo-se a insuficiente educação doméstica que recebeu, o que resulta do abandono que fez da família em tão verdes anos. Entretanto nenhuma das culpas ficou provada neste inquérito…

2° Relatório apresentado ao Cel Cunha Mattos em 13.08.1903 pelo 2° Ten Alípio Bandeira, inspetor policial do Território do Acre…

Salinas ([28]) que é incontestavelmente o homem de maior valor, de maior capacidade e de melhores sentimentos que andou pela chamada Revolução Acreana, certo da constante regularidade do seu procedimento, acompanhou-me até Iracema, onde ficou tratando de negócios […] Ouvi, em suma, um queixume geral mesmo entre os ex-chefes da Revolta no Alto Acre. Só de Sallinas ouvi faltar sempre bem, na choupana ou nos barracões, entre soldados Acreanos, entre trabalhadores, e entre patrões.

Eis o que é o Ten Alípio Bandeira, retratado pelas suas próprias palavras. Estes dois relatórios foram remetidos pelo Coronel Cunha Mattos ([29]) ao Coronel Plácido de Castro por se tratarem de um oficial da Revolução Acreana e este Coronel deu-me a cópia que ora publico.

Manaus; 28 de Janeiro de 1904.

Gentil Norberto. (JCA, n° 024)

 

Por Hiram Reis e Silva (*), Bagé, 14.02.2022 –  um Canoeiro eternamente em busca da Terceira Margem.

Bibliografia 

JCA, n° 017. Ineditoriais – O Acre – Brasil – Manaus, AM – Jornal do Comércio do Amazonas, n° 017, 21.01.1904.  

JCA, N° 024. O Acre – Brasil – Manaus, AM – Jornal do Comércio do Amazonas – n° 024, 29.01.1904. 

JQV, N° 239. No País da Miséria – Catão ou Tartufo – Brasil – Manaus, AM – Jornal Quo Vadis – n° 239, 19.12.1903.

JDC, n° 002. Plácido de Castro – Brasil – Manaus, AM – Jornal Comércio do Amazonas, n° 002, 04.01.1904.  

(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;

  • Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)
  • Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);
  • Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
  • Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);
  • Ex-Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)
  • Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
  • Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
  • Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);
  • Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)
  • Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
  • Comendador da Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)
  • Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).
  • Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
  • E-mail: [email protected].

[1]   Rifão: adágio.

[2]   Prolóquio: adágio.

[3]   Verrinas: de crítica exacerbada.

[4]   Ângelo Cardoso Dourado: médico baiano radicado em Bagé, RS, que participou, como Plácido de Castro, da Revolução Federalista, que eclodiu, em 1893, no Sul do país.

[5]   Cerebração: atividade intelectual.

[6]   “Sans façon: sem cerimônia.

[7]   Marco Pórcio Catão Uticense: político romano célebre pela sua inflexibilidade e integridade moral.

[8]   Tartufo: personagem de Molière que encarna um hipócrita e dissimulado devoto.

[9]   Doestos: injúrias.

[10]  Circundação: ação ou resultado de circundar; cercamento.

[11]  Bivaque: acampamento ao ar livre.

[12] Ratifica-nos, mais tarde, Bazílio Telles no artigo “A Questão Religiosa” transcrito na Revista Católica Mensal, em 01.01.1914 ‒ “Em vão alguns prosélitos tem querido cingir a auréola de sábios autênticos; o esbravejar da crítica desnuda-os, o látego da verdade fustigaos e desprestigiaos”.

[13]  Horácio, Odes, Livro I, 3, 26 – “a raça humana, na sua cega ousadia, tudo suporta, sendo até capaz de cometer sacrilégios para atingir seus objetivos”.

[14]  Descaroável: desagradável.

[15]  Trêfego: ardiloso.

[16]  Escabujar: estrebuchar.

[17]  Dementado: demente, louco, imbecil.

[18]  Arrieiro: malcriado.

[19]  Alcouce: bordel.

[20]  Os soldados impunham invariavelmente à vítima um viva à República, que era poucas vezes satisfeito. […] Agarravam-na pelos cabelos, dobrando-lhe a cabeça e esgargalando-lhe o pescoço; e, francamente exposta a garganta, degolavam-na. Não raro a sofreguidão do assassino repulsava esses preparativos lúgubres. O processo era, então, mais expedito: varavam-na, prestes, a facão. Um golpe único, entrando pelo baixo ventre. Um destripamento rápido. Tínhamos valentes que ansiavam por essas cobardias repugnantes, tácita e explicitamente sancionadas pelos chefes militares. […] Antes, no amanhecer daquele dia, comissão adrede escolhida descobrira o cadáver de Antônio Conselheiro. […] Restituíram-no à cova. Pensaram, porém, depois, em guardar a sua cabeça tantas vezes maldita – e como fora malbaratar o tempo exumando-o de novo, uma espada jeitosamente brandida, naquela mesma atitude, cortou-lha; e a face horrenda, empastada de escaras e de sânie, apareceu ainda uma vez ante aqueles “triunfadores”. (Os Sertões ‒ CUNHA, 1905)

[21]  “As costas quentes”: protegido de seus superiores hierárquicos.

[22]  Bernardices: disparates. Os frades Bernardos eram tidos como homens pouco ilustrados. Talvez dessa circunstância se derivasse a palavra – bernardice – para significar tolice (Contos Tradicionais do Algarve, 1905).

[23]  Alea jacta est: A sorte está lançada.

[24]  Os monstros dados: as monstruosidades dadas.

[25]  Supina: alto grau de.

[26]  Louco da cabeça, tão sábio aos trinta anos como no dia em que nasceu. (Le Roi s’amuse ‒ Victor-Marie Hugo, 1832).

[27]  Zás: rapidamente.

[28]  Repercutido anteriormente no Jornal “Quo Vadis?” – n° 239, de Sábado, do dia 19 de dezembro de 1903, na “Seção Livre” sob o título sugestivo de “Catão ou Tartufo”.

[29]  Plácido de Castro vive em plena harmonia de vistas com o Coronel Rafael Augusto da Cunha Matos. No mais perfeito entendimento – diga-se mesmo: em visível camaradagem – aguardam o desenrolar dos acontecimentos diplomáticos na capital do país. (LIMA)