Inocentes noivos italianos podem estar carregando em suas mãos parte da destruição da Terra Indígena Kayapó, no sul do Pará. Graças a um esquema criminoso, o ouro extraído ilegalmente dessa Terra Indígena é esquentado e chega à italiana Chimet – um braço da UNOAERRE, responsável por produzir 70% das alianças de casamento vendidas na Itália.

Foto: Felipe Werneck – Ibama, postada em: Climainfo.

À Repórter Brasil, a autora da investigação que foi reproduzida pela Folha, a UNOAERRE disse nunca ter comprado ouro diretamente do Brasil. No entanto, em seu balanço de sustentabilidade de 2020, a empresa informa realizar a maioria de suas aquisições e o refinamento do ouro com a Chimet. Como se tratam de empresas de um mesmo grupo, é bastante provável que o ouro extraído ilegalmente da Terra Indígena dos Kayapós tenha terminado nos dedos dos noivos italianos.

As duas empresas são controladas pela família Squarcialupi. O fundador da Chimet, Sergio Squarcialupi, que já foi presidente da UNOAERRE, chegou a ser condenado por diversos crimes, incluindo dano ambiental, organização para tráfico ilícito de rejeitos e falsidade ideológica. A condenação foi revertida na Suprema Corte de Cassação (equivalente ao nosso Supremo) em 2017.

Questionada, a empresa declarou que sempre compra o metal acompanhado de documentos que atestem sua origem legal. Só que as notas fiscais que declaram a origem do minério são em papel, preenchidas pelo vendedor, que facilmente pode mentir sobre o local de onde foi extraído o metal.

A fragilidade do controle da comercialização do ouro é apontada pelo Instituto Escolhas como um dos principais fatores que turbinam as vendas deste metal extraído ilegalmente. Ontem, o Escolhas lançou um estudo apontando indícios de ilegalidade na venda de mais de 200 toneladas de ouro extraído no país entre 2015 e 2020. O volume equivale a metade da produção nacional de ouro no período. Segundo o Instituto, cinco empresas concentraram um terço desse montante. Mais da metade do volume de ouro considerado suspeito pelo Instituto foi produzido na Amazônia, principalmente no Mato Grosso e no Pará. A Folha e o Projeto Colabora noticiaram o lançamento. O estudo do Escolhas pode ser acessado neste link.

Em tempo: A partir de agora o Mato Grosso tem três Terras Indígenas sob vigilância da Força Nacional por causa de invasões, desmatamento e extração ilegal de madeira. Portaria do Ministério da Justiça autorizou o uso da Força Nacional nas Terras Kawahiva do Rio Pardo e Piripkura. Ambas estão localizadas em Colniza (MT). O Povo Kawahiva é isolado e o Piripkura é formado por indígenas em isolamento voluntário, vivendo em território ainda não demarcado. Os Kawahiva enfrentam ameaças de madeireiros. Já os Piripkura são alvos de garimpeiros. Pelo menos 8 cooperativas entraram em contato com a ANM (Agência Nacional de Mineração) para pedir o direito de exploração do solo. A Terra dos Sararé está sendo vigiada desde o ano passado. Poder 360g1 e O Globo noticiaram.

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