Itaituba fica às margens do Rio Tapajós, no Pará, região que é um dos maiores polos de garimpo ilegal do Brasil. Ontem (16/2), o município foi palco de um protesto de garimpeiros contra a fiscalização ambiental que incluiu a queima de duas pontes de madeira e o bloqueio à sede do Instituto Chico Mendes (ICMBio) no município, de acordo com o Estadão.

Agentes da Força Nacional de Segurança Pública estiveram presentes na região, mas não encontramos informações sobre terem feito alguma coisa para reprimir o protesto dos criminosos (ao contrário do que se viu em frente ao Congresso Nacional, no protesto pacífico contra o PL do Veneno).

A audácia dos criminosos tem respaldo oficial: segundo o Estadão, na véspera, o deputado federal José Priante (MDB-PA), primo do governador do Pará, Helder Barbalho (MDB), esteve no Palácio do Planalto junto com o líder do MDB na Câmara, Isnaldo Bulhões Júnior; o prefeito de Itaituba, Valmir Climaco (MDB); e o secretário de Meio Ambiente (!!!) do município, Bruno Rolim. Eles foram recebidos pelo ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, que se prestou ao papel de ouvir pleitos de criminosos. O encontro foi devidamente divulgado nas redes sociais do deputado.

Aliás, na manhã do protesto dos garimpeiros, o ministro das minas e energia estava na Jovem Pan defendendo os decretos presidenciais que os favorecem. A esse respeito, vale conferir o podcast Ao Ponto, que ouviu Larissa Rodrigues, doutora em energia pela USP e gerente de portfólio do Instituto Escolhas, explicando as razões pelas quais esses decretos têm sofrido inúmeras críticas.

Mas se depender dos Congressistas de outros estados, os “mineradores artesanais” podem meter a viola no saco: de acordo com o Metrópoles, em pouco mais de 24 horas a oposição na Câmara dos Deputados apresentou cinco projetos de decreto legislativo (PDL) contra a tentativa do Planalto de facilitar modalidades de garimpo.

Para os políticos paraenses, fica nossa recomendação: leiam a matéria da DW na quartesanalal Erika Berenguer, pesquisadora sênior das universidades de Oxford e Lancaster, na Inglaterra, e líder de um dos capítulos dedicados aos impactos da mineração na Amazônia que compõem o relatório do Scientific Panel for the Amazon (SPA), explica o risco que o mercúrio, usado pelo garimpo, representa para a população do Pará. Spoiler: são riscos de problemas neurológicos como insônia, ansiedade, dificuldade locomotora e cognitiva nas crianças, além de maior chance de abortos.

O protesto e o afago dos políticos paraenses aos garimpeiros vem na sequência da deflagração da Operação Caribe Amazônico pela Polícia Federal nesta segunda (14/2), nas proximidades da Terra Indígena Munduruku. Como prescreve a lei, a operação incluiu a apreensão de materiais e destruição de maquinários utilizados em práticas ilegais. A Folha traz os detalhes. O Liberal  lembrou que a região de Itaituba foi também alvo na última quarta (10/2) da “Operação Alerta Amazônia 2”, que constatou o desmatamento de 2.070 hectares na Flona de Altamira.

PUBLICADO POR:   CLIMAINFO