Com ampla distribuição na região Amazônica, a castanheira-da-amazônia (Bertholletia excelsa), castanheira-do-brasil ou castanheira-do-pará como ficou conhecida, é uma espécie fornecedora de múltiplos produtos e as suas sementes (amêndoas) são um dos principais produtos florestais não madeireiros comercializados no Brasil. Com diversos benefícios para a saúde, as sementes contribuem para a subsistência de populações, pela economia extrativista, principalmente no Brasil, Bolívia e Peru. A produção da castanha nesses países ainda é ancorada no extrativismo, mas estudo demonstra que a castanheira é uma das espécies florestais nativas mais promissoras para a formação de plantios florestais, em diferentes condições Amazônicas.
Em artigo publicado na revista internacional Current Forestry Reports é feita ampla revisão sobre a influência dos fatores ambientais relacionados ao crescimento e a produção de frutos da castanheira, em florestas nativas e em florestas plantadas. O trabalho leva a assinatura de pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI), da Faculdade de Ciências Agrárias da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa) e de mais 15 instituições, do Brasil e do exterior. Veja o artigo aqui.
Além da importância social e econômica, a castanheira-do-brasil, árvore de grande porte (entre 30-50 m de altura) e que pode exceder a 1 mil anos a sua sobrevivência, tem grande capacidade para sequestrar carbono, ocupando o primeiro lugar entre as espécies econômicas da Amazônia e a terceira posição entre 3.458 espécies avaliadas para acumulação de biomassa, e pode desempenhar um papel importante na mitigação dos efeitos das mudanças climáticas. A biomassa das árvores da Floresta Amazônica é o peso da matéria seca por área (geralmente toneladas por área), calculando-se todos elementos, como fósforo, nitrogênio, cálcio e carbono. Cerca de 50% da biomassa seca é carbono.
Para demonstrar a viabilidade de plantios de castanheiras, os pesquisadores reuniram mais de uma centena de pesquisas, buscando as conexões dos fatores ambientais, especialmente água, luz e nutriente, e suas influências sobre o crescimento e a produção de frutos da espécie. Os autores encontraram que a castanheira pode sobreviver, crescer e produzir frutos em diferentes condições ambientais, como por exemplo, ambientes com baixa ou alta disponibilidade de luz, suportar deficiência hídrica e rebrotar após desbaste, destacando-se assim como uma espécie com alto nível de plasticidade fisiológica.
Os autores também observaram que a castanheira tem grande capacidade de suportar situações estressantes, como a baixa disponibilidade de nutrientes e situações de alagamentos periódicos como os que ocorrem em áreas de preservação permanente ao longo de leitos dos rios amazônicos. Essas características ajudam a entender porque a castanheira é amplamente distribuída em toda a Amazônia e demonstram seu potencial para diversos modelos de plantios em diferentes condições ambientais.
De acordo com o pesquisador do Inpa, José Francisco de Carvalho Gonçalves, independentemente dos objetivos e dos modelos de plantios adotados, que podem incluir a castanheira, a espécie apresentará alto desempenho funcional, característica que confere a castanheira elevada polivalência de cultivo. “Diante disto, a castanheira pode ser utilizada em plantios para recuperação de áreas degradadas, sistemas agroflorestais, plantios de enriquecimento de capoeiras, plantios puros e plantios mistos”, afirmou Gonçalves, engenheiro agrônomo com doutorado em Fisiologia Vegetal e líder do Laboratório de Fisiologia e Bioquímica Vegetal (LFBV/Inpa). “A castanheira, destaca-se, sobretudo, como uma espécie nativa capaz de alavancar a silvicultura na Amazônia”, completou.
Segundo o pesquisador, investir em plantios florestais na Amazônia deixa de ser algo relegado a segundo plano, assumindo caráter tecnológico e econômico importantes, especialmente, na medida em que espécies como a castanheira podem ser estabelecidas em áreas de baixo custo e com pouco investimento, sendo possível reinserir essas áreas em processos produtivos. O trabalho, relatam os autores, também buscou lançar um desafio para políticas públicas na área florestal, visando a geração de emprego e renda para a população rural da Amazônia, que tem à disposição uma opção de cultivo, comprovadamente, rentável.
As pesquisas sobre as variações de sistemas de plantios da castanheira são aprofundadas pelos pesquisadores na região. “Atualmente, nós [Unifesspa e Inpa] temos nos comprometido em estimular o plantio de castanheira em áreas degradadas na Amazônia com alguns experimentos já estabelecidos em Marabá-PA, no Campus experimental da Unifesspa, e em Canaã dos Carajás-PA, na Comunidade Nova Jerusalém, no âmbito do projeto intitulado Agricultura Familiar em Canaã dos Carajás: Trilhando um Caminho para a Sustentabilidade”, destacou a professora Karen Costa, primeira autora, que é engenheira florestal com mestrado e doutorado pelo Inpa em Ciências de Florestas Tropicais.
O projeto Agricultura Familiar em Canaã dos Carajás é apoiado pela parceria entre Unifesspa e Prefeitura Municipal de Canaã dos Carajás e pela Fazenda Agropecuária Aruanã, em Itacoatiara, no Amazonas.
ARTIGO COMPLETO – https://doi.org/10.1007/s40725-022-00158-x
Texto: Da Redação INPA
Edição: Cimone Barros – Comunicação Inpa
Banner: Thalita Bandeira – Comunicação Inpa
Fotos: Acervo José Francisco Carvalho – pesquisador do Inpa
Deixe um comentário