Expedição Centenária Roosevelt-Rondon   3ª Parte – LII

Na Planície Amazônica – 1ª Ed., 1926

George Miller Dyott – IV

O Jornal n° 2.445
Rio de Janeiro, RJ – Domingo, 28.11.1926
A Expedição Chefiada pelo Explorador Dyott Foi Ameaçada pelos Índios em Mato Grosso [New York Times]  

Nova Iorque, 27 [U.P.] – O “New York Times” recebeu um despacho pelo rádio, procedente de Mato Grosso dizendo que a Expedição chefiada pelo explorador George Miller Dyott, chegou ao ponto extremo navegável em canoas do Rio Sepotuba. […]. (O JORNAL N° 2.445)

Gazeta de Notícias n° 287
Rio de janeiro, RJ – Sábado, 11.12.1926
No Mistério da Amazônia
O Explorador Inglês George Dyott revela Fantásticos Aspectos da Vida Indígena nas Selvas Brasileiras
# Um Caso que é mais Para rir… #  

The World Magazine” adquiriu os direitos exclusivos da publicação das notícias de viagem do Capitão e explorador inglês George Dyott, que viveu por vários anos entre os indos do vale do Amazonas. Esse homem conta coisas maravilhosas dos selvagens “Jivaros” da fronteira com a Guiana e promete edificar o público das 5 partes do mundo com as declarações sensacionais acerca, de usos e costumes desses bár­baros. Diz Dyott que os canibais o receberam mal. Resolveram-se, porém, a aproveitar-lhe os serviços de guerra, mas logo lhe impuseram o amor de 6 mulheres. Puritano, com escrúpulos clássicos, friamente pudico como qualquer inglês que guarda os domingos e canta os salmos, Dyott recusou a oferta. Maltra­taram-no então. Perante o argumento decisivo da surra e até do suplício, abriu os braços à sua meia dúzia de esposas.

Manda a lei dos “Jivaros”, entretanto, que sejam hon­rados e considerados os guerreiros que dão à tribo muitos filhos, e, para ser considerado e honrado, Dyott quase que povoou o deserto amazônico. Re­gressou à Inglaterra deixando 30 descendentes nos campos dos “Jivaros” e 6 esposas que lhe choram exemplarmente a ausência… Claro é, que o assunto interessou extraordinariamente à sociedade britânica e não se fala do outra coisa nos altos meios onde o escândalo é sempre um prato de luxo. As damas londrinas comentam risonhamente o caso; gente séria e respeitável enruga a testa, ruborizando-se e não falta quem tenha a trouxa arrumada e os bilhetes comprados… para o Amazonas! O Capitão Dyott é também um hábil novelista. Esse sujeito esperto acaba de pregar uma peça ao universo inteiro. Isso de nação indígena que quer o estrangeiro louro para tipo de raça é um mito alegre, e nada mais. A esta hora, recolhido à paz do seu gabinete, o viajante estará a rir da, ingenuidade fácil dos homens. Pois há quem acredite na fábula?

Lembra-nos a história certo caso interessante que, à guisa de anedota, corre por aí. Alto, bela figura de homem, correto e grave, um Coronel de uma cidade, próxima era tido por muito bom sujeito. Tinha, porém, um defeito considerável; não discernia claramente a verdade e a fantasia. Assim foi que, de uma feita, narrou aos vizinhos amigos esta passagem de sua vida. Viajava pelos sertões com amigos numerosos que andavam à caça, e foram todos aprisionados por uma tribo de índios, truculenta, e perversa. Os antropófagos fecharam os ouvidos às lamentações e peditórios. Cerraram os olhos ao choro e às lágrimas. E mataram cruelmente todos os presos, com exceção de um – O Coronel. O cacique atentara nele. Reparou na bela figura de homem. Salvou-o portanto, serviria para; reprodutor. O Capitão Dyott é um grande pandego! (GAZETA DE NOTÍCIAS N° 287)

Jornal do Commercio n° 32
Rio de janeiro, RJ – Terça-feira, 01.02.1927
A Expedição Dyott-Roosevelt
Sua Chegada ao Rio Roosevelt    

Notícias vindas de Mato Grosso dizem estar a Expedi­ção Dyott-Roosevelt, que se acha há vários meses no sertão mato-grossense, concluindo a última, etapa do seu itinerário, já tendo chegado ao passo do Rio Roosevelt. […] Do Porto Esperança, em Mato Grosso, ponto terminal da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil, seguiu a Expedição para a cidade de S. Luiz de Cáce­res, donde prosseguiu até Tapirapuã, à margem esquerda do Rio Sepotuba, depois de incorporar à sua comitiva alguns sertanejos brasileiros, conhecedores da região que devia ser percorrida.

Nessa viagem fluvial a Expedição foi transportada pela lancha “Rosa Bororo”, da Inspetoria do Serviço de Proteção aos Índios, de Mato Grosso. Em Tapirapuã foi organizada a Expedição terrestre, que partiu, sem demora, para Aldeia Queimada, Utiariti, Juruena, Vilhena e José Bonifácio, em busca do passo do Rio Roosevelt, na linha telegráfica Cuiabá e Santo Antônio do Madeira, numa extensão de cerca de 650 quilômetros, seguindo, invariavelmente o trajeto percorrido pela “Expedição Roosevelt-Rondon” em 1914.

Chegados àquele passo, detiveram-se o Comendador Dyott e seus companheiros no preparo da duas “ubás”, canoas, necessárias à descida do Rio até a sua foz no Madeira, donde prosseguiram para Manaus, viajando nos navios que fazem a navegação regular no Rio Amazonas, e, assim, terminaram a interessantíssima viagem que empreenderam os emissários da “Roosevelt Memorial Association”. […] O Sr. General Cândido Mariano da Silva Rondon recebeu ontem do Sr. Comendador George Miller Dyott o seguinte telegrama expedido pela estação de José Bonifácio, situada no alto sertão mato-grossense:

General Rondon, Rio. ‒ Embarcando no Rio Roosevelt, agradecemos a V. Exª o acolhimento recebido. Em homenagem a V. Exª batizamos uma canoa com o nome de “General Rondon”, Saudações, Dyott. (JORNAL DO COMMERCIO N° 32)

Jornal do Brasil n° 81
Rio de janeiro, RJ – Terça-feira, 05.04.1927
A Missão Dyott-Roosevelt 

Do nosso ilustre colaborador Ramon da Paz que acompanha a Missão Científica Dyott-Roosevelt, recebemos o seguinte telegrama:

A Missão Científica Dyott-Roosevelt chegou a Manaus, depois de quase sete meses de viagem por ínvios sertões. Sou feliz por ter ocasião de participar de um empreendimento, que me permitiu confirmar a minha admiração para com o grande país, Brasil. Saudações aos companheiros da redação e a toda a imprensa carioca. – Ramon da Paz.

O “Jornal do Brasil” publicará em breve, as informações que aquele nosso colaborador nos, prometeu enviar, sobre a viagem de exploração pelos sertões do Brasil. (JORNAL DO BRASIL N° 81)

O Paiz n° 15.512
Rio de Janeiro, RJ – Domingo, 10.04.1927
A Amazônia Misteriosa
Uma Notável Conferência do Dr. Roman Poznanski, da Missão Dyott-Roosevelt    

O subchefe da Missão Dyott-Roosevelt, que acaba de percorrer o noroeste brasileiro, numa atribulada viagem de estudos e pesquisas, realizou há pouco, em Manaus, uma curiosa conferência, cuja sumula o nosso prezado e ativo correspondente na capital amazonense nos enviou no cabograma que transcrevemos a seguir:

Manaus, 9 [Especial para O PAIZ] – O Dr. Roman Poznanski, subchefe da Missão Dyott-Roosevelt, fez uma aplaudida conferência pública, no salão principal do “Club Nacional”, na presença do Presidente do Estado, do Prefeito Municipal e grande número de pessoas de todas as classes da nossa sociedade.

Referiu as peripécias da penosa travessia do noroeste brasileiro, precisando as dificuldades encontra das e relativas à falta de gente e de aninais para o serviço, de transportes. Contou que a missão, por duas vezes, foi assaltada por um grupo de 18 homens, pertencentes à chamada Coluna Prestes.

A primeira, eia Tapirapuã, e a segunda no Salto. Finalmente, o chefe ou comandante do grupo, indivíduo de nome Emygdio da Costa Miranda, abandonou os companheiros, que o quiseram matar, vindo pedir proteção à missão Dyott, que o acolheu, sob a condição de entregá-lo à primeira autoridade brasileira que fosse encontrada.

Passando a missão pelo posto telegráfico, Emygdio foi, requisitado de Cuiabá, pelo Presidente de Mato Grosso, ficando de ser enviado com aquele destino. O conferencista referiu ainda os grandes trabalhos que teve a Missão para transpor o morro do Paixão, onde os exploradores entraram em contato com os índios Araras, que, apesar de mansos, abriram várias caixas pertencentes aos expedicionários, à procura de machados e facões.

Acampados, certa noite, pouco distante de lençol de água corrente, sobreveio grande chuva, que; alagou tudo subindo as águas 6,4 metros, arrebatando vários utensílios e aparelhos pertencentes à missão. Por fim, chegaram ao ponto mais difícil da travessia do noroeste, a passagem de inúmeras cachoeiras do Rio da Dúvida, que formam uma verdadeira escada de pedra e desce do planalto de Mato Grosso em busca do vale do Amazonas, obrigando os expedicionários a abrirem varadouros de até 306 metros de extensão.

Como derradeiro episódio, o conferencista referiu o seguinte caso:

Sem uma revista, nem um livro para ler, naqueles ermos sertões a Missão, logo que chegou ao primeiro barracão civilizado, à margem do Rio da Dúvida, pediu ao seu proprietário qualquer obra ou jornal para ler, indo este buscar o único livro que ali havia, um volume do “Na Planície Amazônica”, de Raymundo Moraes ([1]).

Referindo o incidente o Dr. Poznanski disse, para mostrar irradiação desse mesmo livro, que:

A missão considera-o a maior obra escrita sobre a Amazônia. Isso não provém somente das belezas da sua forma e do seu estilo literário, mas das verdades nele contidas […]. (O PAIZ N° 15.512)

Jornal do Brasil n° 137
Rio de Janeiro, RJ – Quinta-feira, 09.06.1927
Conversando com o Nosso Patrício Dr. José Tozzi Calvão, que foi o Verdadeiro Organizador da Exploração Através dos Nossos Sertões  

[…] O Dr. Calvão tomou parte em quase todas as expedições norte-americanas realizadas na América do Sul; e por isso, está em condições, melhor do que qualquer outro, de expressar opiniões concretas sobre as dificuldades superadas e sobre os resultados efetivos das expedições. Declarou-nos o Dr. Calvão:

Dr. Calvão: O principal elemento de sucesso de uma Expedição depende sempre do cálculo exato dos mantimentos […]. A organização dos transportes e recursos alimentícios, exige também a competência de homens experimentados nessas viagens, porque, como seria prejudicial qualquer otimismo a respeito às condições do itinerário, assim poderia resultar muito incomodo uma organização pesada dos ditos transportes. […]

Repórter: A Expedição teve encontros com os revoltosos em pleno sertão?

Dr. Calvão: Dois encontros. O primeiro aconteceu na madrugada do dia 02.11.1926. […] fomos surpreendidos pelos revoltosos da Coluna Prestes, comandados pelo Capitão Miranda. Em consideração de que a missão era estrangeira, requisitou somente os nossos animais de sela, que eu tinha escolhido em São Luiz de Cáceres, deixando-nos alguns cavalos magros e cansados. Com estes animais atravessamos cento e oitenta léguas de sertão, habitado pelos célebres Nhambiquaras, chegando a 24 de dezembro a Utiariti […].

Repórter: Qual foi a parte mais difícil da Expedição?

Dr. Calvão: A parte mais difícil da viagem foi a travessia do Rio Roosevelt, cheio de cachoeiras e de voltas perigosas. Às vezes precisávamos parar longas horas no Rio, para cortar algumas arvores colossais que obstruíam a passagem das canoas. A 02 de fevereiro encontramos as primeiras cachoeiras, e fomos obrigados a abandonar o batelão de madeira, como também parte da carga e os nossos aparelhos radiotelegráficos e os motores. Armamos então a terceira canoa de lona, e assim conseguimos superar a primeira grande dificuldade. Eu procedia ([2]) sempre na frente, explorando o Rio e os canais por onde poderíamos passar. No dia 28 de fevereiro, precisando caçar entreguei o lugar, de piloto ao índio, que me acompanhava e fiquei na proa, […] um desastre, porque, pela imperícia do meu novo piloto, a canoa, ao atravessar uma cachoeira, foi de encontro às pedras virando e jogando os tripulantes n’água. Porém, por boa sorte, a carga de mais necessidade estava bem acondicionada, por isso, flutuando pelas águas espumantes da cachoeira, foi apanhada pelas outras canoas a 2 quilômetros abaixo. Lutamos assim todos os dias, sempre de baixo de fortes chuvas e trovoadas, molhados até os ossos. No dia 3 de março, chegamos à Serra do Sargento Paixão, e às cachoeiras do mesmo nome. Tivemos de fazer um varadouro de três quilômetros. Enquanto eu com mais dois homens íamos abrindo o varadouro numa floresta espessa, fomos cercados por uma tribo de índios desconhecidos, em atitude hostil. Os meus companheiros apavorados quiseram fugir, mas felizmente consegui contê-los, o que foi a nossa salvação, pois, do contrário, os índios nos teriam atacado. Mostrei, então, que éramos amigos, entregando à tribo, que depois soube chamar-se “Araras”, machados e facões de presente e recebendo, em troca, arcos, flechas, milho e “chicha” [aguardente de milho]. Até a chegada ao Rio Madeira varamos, em 45 dias, 65 cachoeiras.

Repórter: Quantos meses durou a Expedição?

Dr. Calvão: Deixamos o Rio em 15.09.1926 e chegamos a Manaus no dia 02.05.1928.

Repórter: Quais são as suas impressões sobre os nossos sertões?

Dr. Calvão: O entusiasmo com que tenho tomado parte em tantas expedições, e o desejo de realizar ainda outras explorações, podem demonstrar o meu vivo interesse para o conhecimento mais perfeito e o estudo destas regiões maravilhosas, exuberantes de riquezas, e que poderiam, só elas, assegurar a prosperidade de um grande país.

Repórter: Quais são os resultados práticos dessas expedições?

Os resultados, hoje, são para os estudiosos. E seja-me permitido afirmar que talvez se interessem mais os estrangeiros do que os nossos patriotas em conhecer as extraordinárias riquezas que existem naquele “Inferno Verde”. Quando o problema das comunicações for resolvido – e parece que o voo de De Pinedo ([3]) têm apresentado a possibilidade de solução do problema, os resultados das atuais explorações poderão ser apreciadas praticamente. […] (JORNAL DO BRASIL N° 137)

Savoia-Marchetti S.55

Por Hiram Reis e Silva (*), Bagé, 16.11.2021 –  um Canoeiro eternamente em busca da Terceira Margem.

Bibliografia  

GAZETAS DE NOTÍCIAS N° 287. No Mistério da Amazônia – Brasil – Rio de Janeiro, RJ – Gazetas de Notícias n° 287, 11.12.1926.  

JORNAL DO BRASIL N° 81. A Missão Dyott-Roosevelt – Brasil – Rio de Janeiro, RJ – Jornal do Brasil n° 81, 05.04.1927.  

JORNAL DO BRASIL N° 137. Conversando com o Nosso Patrício Dr. José Tozzi Calvão – Brasil – Rio de Janeiro, RJ – Jornal do Brasil n° 137, 09.06.1927.  

JORNAL DO COMMERCIO N° 32. A Expedição Dyott-Roosevelt – sua Chegada ao Rio Roosevelt – Brasil – Rio de Janeiro, RJ – Jornal do Commercio n° 32, 01.02.1927.  

O JORNAL N° 2.445. A Expedição Chefiada pelo Explorador Dyott – Brasil – Rio de Janeiro, RJ – O Jornal n° 2.445, 28.11.1926.  

O PAIZ N° 15.512. A Amazônia Misteriosa – Brasil – Rio de Janeiro, RJ – O Paiz n° 15.512, 10.04.1927.  

(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;

  • Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)
  • Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA) (2000 a 2012);
  • Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
  • Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);
  • Ex-Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)
  • Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
  • Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
  • Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);
  • Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)
  • Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
  • Comendador da Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)
  • Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).
  • Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
  • E-mail: [email protected].  

[1]    O escritor Raymundo Moraes, filho de Miguel Quintiliano de Moraes e de Lucentina Martins Moraes, nasceu em Belém no dia 15 de setembro de 1872. Interrompeu cedo os estudos, havia concluído apenas o curso fundamental, para acompanhar seu pai Miguel Quintiliano, prático de navios no Rio Madeira. O Fascínio e a magia de navegar pelas artérias vivas da hileia fizeram-no seguir a carreira do pai chegando a comandante dos “gaiolas”. As infindas jornadas despertaram seu amor pela leitura. Autodidata de invulgar inteligência e sensibilidade aliou o conhecimento científico e literário adquirido com as experiências que recolhia e anotava nas suas jornadas. Seus líricos relatos, carregados de emoção, são flagrantes que vivenciou e paisagens que impregnaram sua alma durante quase trinta anos. São crônicas de quem aprendeu com as águas e as gentes, com os seres da floresta, os ventos e as chuvas.

     Deixemos falar o inspirado escritor:

     A Amazônia é um inigualável repositário de águas doces, vivas, cantantes, que saltam e deslizam, sob a luz crua do Equador, desde as cachoeiras rugidoras nas escadas de pedra aos lagos serenos nas várzeas infindas. Com a bacia imensa retalhada de rios, recortada de angras, listradas de furos, os paranás, e os igapós se traçam, se ligam, se anastomosam no mais complicado e bizarro aranhol fluvial do planeta. […] A principal característica do Amazonas, no entanto, é a metamorfose. Para fixar suas linhas de drenagem, na construção das molduras que o apertam no “canon”, apaga de noite o que delineou de dia. Solapa, rói, gasta, para mais adiante restaurar, no tear potamológico, a topografia que sumira.
(Raymundo Moraes – Na Planície Amazônica) 

[2]    Procedia: avançava.

[3]    Em 1927, com a missão de promover o fascismo e os avanços tecnológicos de seu país, e, o Coronel Francesco de Pinedo, da Força Aérea Italiana, foi incumbido de liderar o “Raide das Duas Américas”. Acompanhado do engenheiro Carlo del Prete e do mecânico Vitale Zacchetti, pilotou um Savoia-Marchetti S.55, bimotor hidroavião de casco duplo, batizado de Santa Maria em homenagem à nau capitânia de Cristóvão Colombo. Foi uma jornada impressionante. Partindo da Itália, o Santa Maria chegou ao porto de Natal, no Rio Grande do Norte, em 24 de fevereiro, em uma travessia via Senegal, Cabo Verde e Fernando de Noronha. Depois, em uma série de escalas, a expedição passou pelo Rio de Janeiro, Buenos Aires, Assunção, Manaus e Belém, seguindo pelo Caribe até os Estados Unidos. Mesmo com a destruição do avião, atingido por um incêndio durante um reabastecimento no estado do Arizona, em 6 de abril, a missão prosseguiu com o Santa Maria II, que voltou à Itália via Terra Nova, Açores e Lisboa. A missão de longa duração foi o primeiro voo da história a cruzar o oceano em ambos os sentidos… (aeromagazine.uol.com.br)