Expedição Centenária Roosevelt-Rondon 3ª Parte – XXXVII 

Hiram Reis

O Forte e o “Labirinto” 

Com o apoio da 17ª Brigada de Infantaria de Selva, Porto Velho, RO, partimos em comboio de duas viaturas, no dia 24.09.2019, por volta das 07 horas da manhã, de Cacoal com destino ao Forte Príncipe da Beira (FPB), localizado às margens do Rio Guaporé no Município de Costa Marques.

“Nossa casa está queimando. Literalmente. A floresta amazônica, pulmão que produz 20% do oxigênio do nosso planeta, está em chamas. Isso é uma crise internacional. Membros do G7, vamos discutir essa emergência de primeira ordem em dois dias”. (Emmanuel Macron)  

www.oeco.org.br (01.09.2019)

Neste deslocamento de 435 km, e depois de 770 km do FPB à Porto Velho, não avistamos nenhum sinal das propaladas queimadas do enlouquecido presidente francês Emmanuel Jean-Michel Frédéric Macron e referendadas pela esquerda festiva tupiniquim. Chegamos ao Forte Príncipe da Beira (FPB) logo no início da tarde e fomos alojados no Hotel de Trânsito do 1° Pelotão Especial de Fronteira (1° PEF), comandado pelo 1° Tenente de Infantaria Daniel Marques Cunha. O 1° PEF é subordinado ao 6° Batalhão Especial de Fronteira (6° BIS), sediado em Guajará-Mirim, RO. Nesta mesma tarde fomos reconhecer algumas construções do “Labirinto” ao Norte da estrada, de 30 km de extensão, que liga a sede do município de Costa Marques ao FPB.

O chamado “labirinto”, nada mais é que uma rudimentar estrutura construída nas proximidades do FPB, formada por paredes de pedra unidas com argila, sem qualquer elemento de liga, de forma extremamente irregular formando trilhas dentro das quais existem pequenas e arcaicas estruturas.

O “Labirinto” se estende pelos dois lados da estrada. A área Meridional se prolonga até as proximidades da Baía Redonda que se comunica com o Rio Guaporé e onde encontramos, em profusão, o cauxi (Porifera Demospongiae), que é um importante elemento antiplástico (de liga) e que poderia ter sido utilizado tanto na construção do “Labirinto” como no FPB. Não é preciso ser um especialista para verificar que as técnicas da construção não têm nenhum traço em comum com a engenharia lusa ou espanhola.

Podemos arriscar a afirmar, já que não houve nenhum levantamento realmente científico na área, que esta primitiva arquitetura seria uma prova da passagem dos povos que habitavam a América pré-colombiana fugindo dos cruéis colonizadores espanhóis.

Estes sítios arqueológicos, que apresentam largas valas construídas pela mão humana, são, via de regra, formados por uma ou várias valas e morrotes adjacentes interligados, com profundidades que alturas de 1,5 m a 4 m e, excepcionalmente, de 50 a 500 m, e mais raramente ainda ultrapassando os 1.000 m. Estes vários sítios arqueológicos encontrados de forma descontínua, se estendem por uma área de 200.000 km2 nos estados do Amazonas, Acre e Rondônia e na Província do Beni (Bolívia).

Estas construções são popularmente conhecidas como “geoglifos” no Brasil, “zanjas circundantes” na Bolívia ou genericamente como “earthworks”. Concordo plenamente com a arqueóloga Denise Pahl Schaan, ex-Professora do Departamento de Antropologia da Univer­sidade Federal do Pará que afirmava que os “geoglifos” teriam sido construídos com propósito religioso, por comunidades dispersas que se encontravam sazonal­mente para a construção de tais estruturas.

25.09.2019 

Retornamos ao labirinto de manhã, guiados pelo esclarecido Sr. Elvis Pessoa, Presidente da Associação Quilombola do Forte e do fidalgo 2° Tenente Dentista e Historiador Rafael Moreira de Almeida. À tarde, com o 2° Ten Moreira visitamos os petróglifos do Guaporé grava­dos nas rochas de um ilhote do Rio Guaporé, a antiga Guarda de Santa Rosa (1753), que depois foi Presídio de Nossa Senhora da Conceição (1759 ou 1760) e atual­mente Forte de Bragança (1767 ou 1768), de lá, acompanhado do Moreira fiz uma visita ao FPB. À mar­gem esquerda do Guaporé, lado boliviano, avistávamos densas nuvens de fumaça provocadas pelas queimadas, A mídia nacional e estrangeira e o tresloucado Macron calam-se convenientemente. As exportações bolivianas não preocupam a economia francesa.

Homenagem Póstuma a Denise Pahl Schaan  (revistapesquisa.fapesp.br/2018/03/07

Denise Pahl Schaan (Radioweb, UFPA)

Morreu no sábado (03.03.2018), aos 56 anos, em decorrência de complicações desencadeadas por uma esclerose lateral amiotrófica, a arqueóloga gaúcha Denise Pahl Schaan.

Formada em história pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul [UFRGS], a pesquisadora mudou-se para Belém, no Pará, em 1997, com o objetivo de estudar coleções de cerâmica Marajoara do Museu Paraense Emílio Goeldi. Denise trabalhava no Depar­tamento de Antropologia da Universidade Federal do Pará (UFPA), dedicando-se ao desenvolvimento de pesquisas em antropologia na Amazônia voltadas ao estudo de sociedades complexas, ecologia histórica, arqueologia da paisagem, antropologia sonora e visual, etnografia audiovisual, gênero, patrimônio cultural e arte. Mestre em história pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul [PUCRS] e doutorada em antropologia social pela Universidade de Pittsburgh, nos Estados Unidos, ela também fazia etnografia audiovisual, produzindo filmes documen­tais e roteiros. […]

A arqueóloga escreveu ao todo 14 livros, mais de 40 artigos, cerca de 40 capítulos de livros, entre outras produções acadêmicas. Dentre suas principais pesquisas, destacam-se as com geoglifos, grandes desenhos feitos no solo da floresta por culturas pré-colombianas. Os resultados de um desses trabalhos, publicado em 2011, ajudaram a ampliar a cronologia da cultura amazônica sobre o fenômeno. […] Ela também se dedicou à ocupação pré-histórica na região do alto rio Anajás, tendo descoberto nove sítios arqueológicos da cultura marajoara e estudou indícios de povoamentos na região de Santarém e Belterra, no Pará, onde encontrou sinais de povoações antigas em platôs, longe dos grandes rios. Seus achados indicaram a possibilidade de terem existido sociedades amazônicas pré-colombianas hierárquicas vivendo à base de manejo da pesca, uma estrutura social que habitualmente se considera associada à agricultura. […]

Por Hiram Reis e Silva (*), Bagé, 22.10.2021 – um Canoeiro eternamente em busca da Terceira Margem. 

REPERTÓRIO FOTOGRÁFICO

Deslocamento para Forte Príncipe da Beira

Labirinto (Giovani da Silva Barcelos)

Forte Príncipe da Beira (FPB)

Labirinto

Paiol do FPB no Labirinto

Ten Moreira ‒ Forte Príncipe da Beira (FPB)

Petróglifos do Guaporé

Petróglifos do Guaporé

Petróglifos do Guaporé

Petróglifos do Guaporé

 (*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;   

  • Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)
  • Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA) (2000 a 2012);
  • Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
  • Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);
  • Ex-Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)
  • Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
  • Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
  • Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);
  • Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)
  • Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
  • Comendador da Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)
  • Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).
  • Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
  • E-mail: [email protected].